Os dados do último Balanço Energético da Galiza publicado pola Junta, com informaçom de 2015, mostram que o nosso país continua a ser umha zona de transformaçom de energia primária em elétrica, sendo esta energia transformada exportada num 37%. A demanda de consumo elétrico no nosso país está a descer: o mesmo relatório indica que em 2015 o consumo de eletricidade foi um 3,7% inferior ao ano anterior. Por outra banda, o setor que maior eletricidade consome é a indústria, com um 52% do consumo final, especialmente a metalurgia nom férrea.
Com estes dados sobre o mapa elétrico galego entende-se de jeito global a planificaçom de transporte de eletricidade que a Red Elétrica de España está a desenvolver na Galiza, consistente em reforçar o abastecimento elétrico nas zonas de maior capacidade industrial e a exportaçom de eletricidade cara a países como Portugal ou a França.
Da Plataforma Nom à LAT das Marinhas perguntam: “Quem vai querer viver perto dumha zona rodeada de linhas de alta tensom?”
Linha nas Marinhas
Nos últimos meses saiu à luz o documento inicial do projeto para a construçom dumha linha de alta tensom, de 220 Kv, entre a subestaçom de Eiris – no concelho da Corunha – e umha futura subestaçom em Avegondo. Esta nova subestaçom situará-se próxima à do Mesom do Vento, onde atualmente confluem nove linhas de alta tensom e cuja ampliaçom está programada para os próximos anos. O projeto da linha Eiris-Avegondo conta com umha longitude estimada de 30 quilómetros e afetará ao entorno paisagístico dos Montes do Xalo, o que provocou um movimento de oposiçom popular. Da Plataforma Nom à LAT das Marinhas indicam também que estas linhas tenhem um efeito de devaluaçom do território. “Quem vai querer viver perto dumha zona rodeada de linhas de alta tensom?”, perguntam-se ativistas desta plataforma.
A funçom que teria esta nova linha Eiris-Avegondo, segundo Red Eléctrica, seria “garantir o subministro da demanda na Corunha” e “descarregar funçons a Mesom do Vento”. O professor de Economia Aplicada, Xoán Doldán, explica que “há muita mais complexidade nesta atuaçom: polo Mesom passa a eletricidade que se origina em Sabom, Meirama ou Dumbria, de onde se projeta umha nova linha de evacuaçom de eletricidade. Com a linha Eiris-Avegondo e a ampliaçom da subestaçom de Mesom, ampliará-se a capacidade desta última para mover a eletricidade cara ao Sul”. E se marchamos cara ao Sul encontramo-nos com o projeto de interesse comum europeu da interconexom Galiza-Portugal.
“Há que lembrar que a Galiza é deficitária em termos energéticos, pois é importadora de energia primária, mas que é excedentária na produçom de eletricidade”, indica Doldán
Segundo explica Doldán, este projeto de interconexom é “um passo na integraçom dos sistemas elétricos cara a um mercado único de eletricidade. Já existe um mercado ibérico de eletricidade”. Este contexto de integraçom potenciaria o rol galego de fábrica de eletricidade. “Há que lembrar que a Galiza é deficitária em termos energéticos, pois é importadora de energia primária, mas que é excedentária na produçom de eletricidade”, indica Doldán, quem também expóm que com estas novas linhas de evacuaçom de energia seriam as empresas geradoras de eletricidade as mais beneficiadas.
A autoestrada do Sul
Mas essa conexom entre Galiza e Portugal está a encontrar problemas para se desenvolver. No concelho de Arvo, na comarca da Paradanta e limítrofe com Portugal, umha mobilizaçom popular leva anos opondo-se a este projeto. Segundo venhem denunciando os movimentos vizinhais, a linha de alta tensom, neste caso de 400Kv, entre a Fontefria ‑na Caniça- e a fronteira portuguesa ao seu passo polo concelho de Arvo passaria a menos de 30 metros de casas. Fabiola Durán, concelheira pola Agrupaçom de Eleitoras de Arvo, indica que “as razons que propiciárom o projeto em 2008 ‑a eletrificaçom do AVE Vigo-Porto e a demanda industrial na área de Vigo-Porto- devido à crise económica nom se mantenhem”. Atualmente existe já umha linha de 400Kv que conecta Galiza e Portugal por Lindoso.
O projeto de interconexom com Portugal desde Fontefria tivo umha forte mobilizaçom popular na sua contra nas duas beiras do Minho e está agora paralisado
O projeto de interconexom com Portugal desde Fontefria tivo umha forte mobilizaçom popular na sua contra nas duas beiras do Minho e está agora paralisado. Em 2014, o estado vizinho suspendia o processo de avaliaçom ambiental do tramo que iria entre a fronteira e a futura subestaçom Vila Fria B, o qual provocará a interrupçom de todo o projeto. Durán explica que numha recente reuniom em Bruxelas se lhes transmitiu que “tanto as autoridades portuguesas como espanholas estám ao tanto da existência de um novo projeto, que polo momento nom foi feito público, de interconexom de eletricidade entre Galiza e Portugal”. Isto explicaria a presença de técnicos da REE a realizar novas mediçons polo concelho de Arvo.
Quando Portugal suspendeu o processo de avaliaçom ambiental entre a fronteira e Vila Fria B, nom o fijo para o que seria o seguinte tramo em território português, que iria desde a futura Vila Fria B até Vila Nova de Famalicão. Este tramo encontra umha forte oposiçom em Barcelos, município o qual atravessa e cuja câmara municipal interpujo umha providência cautelar para pedir a suspensom da sua declaraçom de impacto ambiental.
Saída cara a Astúries
Outra linha de 400 Kv para a evacuaçom de energia gerada na Galiza é a de Boimente ‑no concelho de Viveiro- a Pesoz ‑na comarca do Návia-Eu. A construçom desta linha finalizou em 2016 e encontra-se operativa depois de vários anos de processo e com umha vontade popular na sua contra. Antonio Riveras, ex-alcalde de Santalha de Oscos, um dos concelhos afetados pola linha, criticou desde o começo o seu itinerário. “Nom tem sentido que passe por Santalha e entendemos que se deve à intençom de evitar o passo por Taramúndi, um concelho conhecido polo turismo rural”, indica Riveras.
Concelhos afetados, como o de Santalha de Oscos ou o da Fonsagrada, e organizaçons ecologistas apresentaram um recurso contencioso-administrativo contra a linha, pois o seu período de exposiçom pública durou 20 dias e nom os 30 regulamentários e o estudo de impacto ambiental e o projeto final fôrom publicados simultaneamente, quando o primeiro deles tinha que se publicar previamente. A Justiça desestimou recentemente este recurso, cinco anos depois da sua apresentaçom. Riveras lembra a primeira reuniom que teve com Red Eléctrica em Madrid quando ele chegara a alcalde em 2007: “deixárom claro, com toda a arrogância, que a linha ia fazer-se sim ou sim”.
Em 2008 Red Eléctrica Corporación convertia-se num 'holding', polo que é a sua filial Red Eléctrica de España SAU a responsável da infraestrutura elétrica no território do Estado espanhol
Quem som Red Eléctrica?
Red Eléctrica Corporación SA é umha empresa semipública, participada num 20% pola Sociedade Estatal de Participaçons Industriais. Esta conta com o monopólio de atuaçons na rede de transporte de eletricidade, quer dizer, a fase em que é levada desde onde se gera até as subestaçons a partir das que irá à rede de distribuiçom. A rede que executa Red Eléctrica corresponde-se maioritariamente com a rede de linhas de alta tensom. Em 2008 Red Eléctrica Corporación convertia-se num ‘holding’, polo que é a sua filial Red Eléctrica de España SAU a responsável da infraestrutura elétrica no território do Estado espanhol. No mesmo ‘holding’ há também filiais em Chile e Peru para o investimento em infraestruturas elétricas nesses países.
No Conselho de Administraçom de Red Eléctrica Corporación SA reúnem-se pessoas de longa trajetória política e do mundo das finanças
Red Eléctrica participa da elaboraçom da planificaçom da rede de transporte elétrico, que é aprovada polo Conselho de Ministros e vinculante para a própria Red Eléctrica. No Conselho de Administraçom de Red Eléctrica Corporación SA reúnem-se pessoas de longa trajetória política e do mundo das finanças. O atual presidente José Folgado Blanco, de 73 anos, foi secretário geral de Orçamentos durante o governo de José María Aznar e deputado polo Partido Popular em várias legislaturas. Folgado nom duvidou em celebrar a chegada ao Conselho de Administraçom do ex-diretor geral da Guarda Civil Arsenio Fernández de Mesa. Nom som estas as únicas pessoas ligadas ao PP, em 2014 nomeava-se conselheiro a Santiago Lazuela Marina, ex-presidente de Aragón e deputado polo PP até o dia anterior a sua nomeaçom em Red Eléctrica. Formam parte do conselho também pessoas relacionadas com a banca, o setor financeiro e o mundo empresarial, como José Luis Feito Higueruela, presidente do Instituto de Estudios Económicos, considerado um ‘think tank’ da CEOE. O total das retribuçons que percebidas polos conselheiros supera os três milhons anuais, sendo a mais alta a do conselheiro delegado Juan Francisco Lasala Bernad, que percebeu 750.000 euros no exercício de 2016, seguida da do presidente Folgado, de 575.000 euros no mesmo exercício.
Por outra banda, entre o acionarado encontram-se vários fundos de investimentos internacionais, como a Fidelity International Investments, com sé em Luxemburgo, ou a TCI Fund Management Limited e umha filial sua com domicílio nas Ilhas Caimám.