Há uns anos, Ana Ojea decidiu que queria sair do armário para as suas alunas, convertendo-se ao tempo numha das primeiras tutoras LGTB da Galiza. Além de professora de bacharelato é umha das criadoras da Rede Educativa de Apoio LGTB da Galiza, um grupo que nasceu com a ideia de unir ao professorado interessado em formar-se nos temas relacionados com este coletivo. Falamos com ela da importância de que existam este tipo de iniciativas, sobretudo para que as educadoras saibam como atuar e tenham os conhecimentos necessários para “garantir a igualdade e a diversidade num centro educativo” e para combater “os preconceitos LGTBfóbicos existentes, que constituem a base de condutas discriminatórias” e podem acabar em violência e acosso escolar.
Como nasceu a rede?
A ideia começou há uns seis meses, a finais de agosto de 2019. Falando com Denis Vicente, um companheiro que dá aulas no IES As Barxas de Moanha, decidimos que havia que criar umha rede assim, sobretudo como umha forma de apoio educativo destinada fundamentalmente ao professorado. Fôrom vários motivos os que contribuírom à sua apariçom, entre eles, o feito de que a raiz de participarmos de cursos formativos e jornadas sabíamos que desde uns anos atrás havia já alguns centros que trabalhavam questons de diversidade sexual e de género.
E aí decidistes unir forças.
Sim. É importante saber que a normativa educativa galega, europeia e internacional já obriga, em realidade, a que se trabalhe o tema da diversidade desde os centros. Porém, até a apariçom da Rede, as poucas professoras que nos ocupávamos realmente disto nas escolas éramos como ilhas soltas no meio do mar. Nom sabíamos quem ou quantos éramos, ou onde estávamos. Por isso lançamos a proposta, para pormo-nos em contacto com outros docentes do sistema educativo galego que estiveram trabalhando a diversidade ou quigéram começar a trabalha-la neste curso.
“Até a apariçom da Rede, as poucas professoras que nos ocupávamos realmente disto nas escolas éramos como ilhas soltas no meio do mar.”
Para empeçar, lançamos um comunicado ‑que se pode ler na nossa página de Facebook- onde se explicava a ideia para a criaçom desta rede. Neste comunicado falava-se também da criaçom dum grupo de Whatsapp para um primeiro contacto entre as escolas interessadas em participar. Enviamos por correio eletrónico a todos os centros educativos galegos ‑excetuando as universidades‑, e após um mês já chegáramos às sessenta pessoas, das quais muitas nom eram conhecidas das jornadas. Figemos umha primeira assembleia no 5 de outubro, onde decidimos que o queríamos era tomar as rendas de algo que ainda que a lei nos obriga a fazer estava-se a realizar de jeito voluntário, sem garantia de cumprimento por parte da administraçom educativa. E agora, que já chegamos a ser mais de 200 pessoas e até tivemos que passar-nos a Telegram porque nom paramos de crescer, andamos com a ideia de converter-nos em associaçom, algo que esperamos atingir pronto.
E já figestes muitas cousas.
Sim, e também tivemos que enfrentar-nos a várias situaçons. Um exemplo foi a campanha Hazte Oír. A propaganda essa que enviárom aos centros e que tinha dentro todo um lema transfóbico e LGTBfóbico, e que projetava sobretudo a possibilidade da regulaçom parental. Quigemos intervir e figemos um escrito, mas a Junta finalmente nom fijo nada alegando que cumpriam todo o que tinham que cumprir, algo que nom é certo.
Nom se cumpre nem se garante que se fale de diversidade nos centros, só o fai quem quer, quando a lei nom di isso. Como exemplo, o artigo 22 da Lei LGTB no âmbito educativo da Galiza de 2014 di que há que incluir a realidade LGTB nos planos educativos das matérias. Porém, isto nom o fai praticamente ninguém.
E de aí sai outra vez o tema da legislaçom, porque se vê novamente que nom se cumpre nem se garante que se fale de diversidade nos centros, só o fai quem quer, quando a lei nom di isso. Como exemplo, o artigo 22 da Lei LGTB no âmbito educativo da Galiza de 2014 di que há que incluir a realidade LGTB nos planos educativos das matérias. Porém, isto nom o fai praticamente ninguém. Que implica isto? Que temos umha lei que garante a liberdade do professorado para falar disto nas aulas sem nenhumha conseqüência, mas isso é o único. Nom há mecanismos de controlo nem revisons da programaçom didática. Isto mostra que resta muito por fazer.
E a respeito do alunado?
Com o alunado cada docente trabalha as ideias da Rede e jeito distinto, pode-as adaptar como considere. No meu caso, eu sou tutora LGTB no Politécnico de Vigo desde 2017 e podo dizer que os resultados e as consqüências destes projetos a respeito do alunado som maravilhosos. É o que há que fazer, com certeza. É o que o alunado reclama e necessita, e melhora muito o clima de convivência do centro, diminuindo também a sensaçom de acosso, porque as alunas deixam de sentir que as vam atacar por ser como som. E isso conseguimo-lo no meu centro fazendo atividades de formaçom, dando visibilidade, celebrando datas comemorativas como o Dia da Visibilidade Trans… O melhor é que antes da Rede as iniciativas eram individuais, agora tudo está mais unido.
Eu sou tutora LGTB no Politécnico de Vigo desde 2017 e podo dizer que os resultados e as consqüências destes projetos a respeito do alunado som maravilhosos. É o que há que fazer, com certeza.
E há professorado que ao princípio nom queria mas agora vêm a importância de participarem da Rede?
Sim, com certeza, a consciencializaçom está a crescer. Um projeto como este há cinco anos tivesse sido quase impossível, e que crescesse tam repentinamente em meio ano é um dado muito positivo. Mas isto nom quita que resta muito por caminhar, já que ainda há docentes com preconceitos que nom concordam com estas iniciativas ou que, diretamente, se negam a tratá-las. Fai falta ainda muito trabalho de sensibilizaçom. E esse é um dos objetivos da Rede, trabalhar dentro dos centros educativos consciencializando a quem mais o precisar: alguns docentes, equipas diretivas e mesmo famílias ‑a onde é certo que nos custa mais chegar-. As próprias AMPAs estám começando a ser conscientes da necessidade de formar-se nestes temas, porque há um salto geracional imenso.
Trabalhar dentro dos centros educativos consciencializando a quem mais o precisar: alguns docentes, equipas diretivas e mesmo famílias ‑a onde é certo que nos custa mais chegar-. As próprias AMPAs estám começando a ser conscientes da necessidade de formar-se nestes temas, porque há um salto geracional imenso.
Para rematar, como lhe farias ver ao feminismo transfóbico e lgtbfóbico que nom se podem esquecer as pessoas deste coletivo da luita feminista?
Há pouco lim um artigo muito interessante de Gabriela Viena em que falava precisamente disto. Dizia “como se nota que nunca comeste nada cozinhado por umha pessoa trans”. Isto é o que falta, o contacto pessoal, o ser consciente da realidade e do sofrimento destas pessoas ‑nom por serem trans, senom pola transfobia que existe a nível social-. O estigma que supom e a opressom tam brutal que vivem. Por isso, acho que é um problema de desconhecimento, há que saber polo que passa essa gente para sensibilizar-se com ela.
Por outro lado, acho que também há um certo interesse político detrás. Como em todo movimento, há certos setores que, ainda minoritários, fam muito ruído. Estes dam-lhe a volta aos argumentos e quando se lhes respondem tomam o papel de vítimas, igual do que a extrema direita. Penso que estes setores estavam a alcançar certas cotas de poder e hegemonia e ao ver perigar esse poder, atacam as mais oprimidas: trans, prostitutas, migrantes… No fundo falta umha concepçom do feminismo como algo intersecional. Quando eliminas a intersecionalidade da equaçom, corres muito risco de que isto passe. E isto para mim é terrível. Por isso há que seguir na luita.