Anxo Moure é um escritor, conta-contos e ecopacifista que leva décadas luitando polo meio galego. Ademais, Anxo é umha dessas pessoas carregadas de criatividade e energia, capaz de transformar em algo mágico quase qualquer cousa sem deixar de reivindicar um mundo melhor para todas, sobretodo para as mais novas. Isto é o que nos contou desde a sua casa de Garabelos.
Como começaste a te preocupar pola defesa do meio e o futuro da Galiza?
Acho que todo começou por criar-me com a minha avó. Ela era cega, mas, contodo, cuidava da casa, dos animais, de nós… De facto, de cativos nem sabíamos que o era porque fazia todo ela própria. Assim, dela acho que aprendim os valores da resiliência e da fortaleza para superar as cousas e desfrutar do que che toque. E suponho que um pouco por ela som quem som hoje, e fago o que fago.
No ano 89 foi quando começamos mais a sério com o tema da defesa do monte galego. Nesse ano houvo umha vaga de lumes mui grande e para protestar criamos o grupo ecologista Xevale. Com ele, começamos a luitar pola defesa do meio ambiente, e decatamo-nos de que esta luita tinha que ir vinculada à educaçom ambiental, a ensinar sobre a importância do autóctone.
E aí foi quando começou este projeto.
Sim. Basicamente íamos polos colégios para denunciar a eucaliptizaçom e explicar às raparigas que era a reciclagem. Eu acrescentava uns continhos para fazê-lo mais entretido, e esses fôrom um pouco os inícios. A mim começárom a reconhecer-me por plantar carvalhos nas botas velhas como símbolo de seguir caminhando e luitando, e polos meus contos do Carvalho com Botas. Assim, o das escolas volveu-se habitual. Hoje em dia, estou quase todos os dias contando contos pola Galiza, é do que vivo, contos que invento para ensinar às nenas o tema de cuidar da terra, o câmbio climático, a imigraçom, a solidariedade… Som contos em galego e sempre tenhem umha base de conhecimento da nossa terra. Estamos fartas de histórias de hipopótamos, girafas… e nom de espécies de aqui. Na escola da minha filha, por exemplo, falam do Japom, da China… mas pensam que o rio que passa polo nosso povo é o Nilo, porque é o rio que mais conhecem, e isso nom pode ser. Queremos contar a história da Galiza através da sua natureza
Mas, para além de conta-contos também te dedicas a outros projetos. Poderias-nos falar dalgum?
Temos a Ciclobiblioteca, o Apalpador, a Tenda das Palabras, a Titiricleta… O projeto sobre as barcas do Minho, que consiste em percorrer todos os concelhos do Minho contando-lhes contos às nenas e amosando-lhes os 12 tipos de barcas tradicionais… E muitos outros projetos.
E como acabastes assentando-vos cá, em Garabelos?
Eu queria salvar a casa da minha avó do abandono. Arranjamo-la e plantamos no jardim 32 espécies de árvores autóctones para criar estas aulas de educaçom ambiental. O centro do projeto, é a casa acima das árvores, concretamente, no alto dum castinheiro e dum carvalho, feita por companheiras carpinteiras. Dentro dela pugemos umha biblioteca e hoje em dia é a única biblioteca do mundo localizada num lugar assim. A ideia tivem-na porque o meu livro de cabeceira é O Barón Rampante de Italo Calvino, umha história de realismo mágico sobre um rapaz que subiu a umha árvore e nunca mais baixou. O que fago desde o alto é explicar histórias sobre a nossa natureza ou contar contos. Venhem colégios, ciclos de formaçom… Por vezes, venhem escuitar e muitas outras vem gente subir à árvore: pessoas adultas, associaçons de lactância, pares, gente comer, dormir… Em total, já passárom 4000 pessoas por aqui. Se alguém quer subir só tem que ligar e, se estamos disponíveis, som bem-vindas
E porque decidistes criar um projeto como este de partilhar um espaço natural?
Para que a gente pudesse voltar estar em contacto com o mundo natural, algo que hoje em dia parece mais difícil do que nunca. As pessoas, sobretodo as mais novas, começam a sofrer o chamado “défice de natureza”. Na Alemanha estám-se a criar Bosque-escolas para paliar isto. No Japom, o Ministério da Saúde criou um programa conhecido como Shinrin Yoku, ou ‘banhos de bosque’, que está demonstrado que melhora a saúde e aporta felicidade. Agora, até a nossa casa da árvore, chega gente de todas as partes para aprender deste projeto e levá-lo às suas zonas. A sociedade moderna passa mais de 90% do dia debaixo de cimento e isto está a afetar negativamente a muitos níveis. Eu quero trazer as Bosque-escolas à Galiza porque acho que os bosques som fábricas de oxigénio que lhe dam raízes ao povo
Também cremos na importância da divulgaçom. Um dos maiores problemas da sociedade é o desconhecimento que existe sobre a nossa terra. Quase ninguém poderia nomear todas as árvores que temos plantadas na sala de aulas da natureza, ou reconhecer os freixos, por exemplo. Conhecem melhor os eucaliptos. E junto com isto, aprender as nossas lendas e seres mágicos, nem só os de fora
E, para além disto, fala-se que tendes o único cinema num palheiro de toda a Galiza?
O Cinema Palheiriso. Está no palheiro da casa da minha avó. Todo está feito sem gastar nada, só com trabalho voluntário e muita criatividade. Algumhas das cadeiras restauradas do cinema tenhem mais de 60 anos e som as mesmas que usárom na altura as avós das nenas que sentam agora. Temos projeçons, criaçom de filmes, gente que vem apresentar as suas curtas, poetas, grupos de música, de teatro… todo o mundo que queira vir apresentar algo tem as portas abertas. O festival Som Labrego foi aqui também. A todo o mundo que vem chama-lhe muito a atençom, tanto pola sonoridade, quanto pola recuperaçom dum espaço que volta a ter vida. Recupera-se o palheiro como lugar de reuniom. Muitos estám-se a perder e nós tentamos evitar isso.
E tendes conexom com as aldeias?
Isso é o melhor. Funciona o tema da relaçom com a gente das aldeias, como se implicam com o projeto. Temos desde um grupo de pandeireteiras, até umha mulher de 94 anos que nom perde umha só atividade. A vizinhança adora. Há que ter em conta que estas zonas estám mui despovoadas e qualquer atividade que traga gente agradece-se muito.
És otimista?
A ver, eu som realista. Sim vejo muita ignorância sobre o nosso, mas nom há que desesperar. Certo é que a realidade é triste: a perda da língua, da paisagem, o desconhecimento… todo isso está a acontecer, porém, nós nom estamos a trabalhar para o capitalismo, que quer respostas a curto prazo. Nós temos que pensar que estamos a trabalhar para as geraçons do futuro. E insisto em que há que trabalhar com ilusom, sem render-se. No momento em que alguém planta umha árvore, já se está a produzir um câmbio. Para mim, a frase mais bonita que existe na literatura galega é a dum poema de Antom Avilés de Taramancos, que dizia: “Decidimos plantar umha cerdeira nova, temos-lhe que dar essa alegria ao vento”. Pois, realmente, cada vez que plantamos umha árvore, estamos-lhe a dar umha alegria ao futuro. É difícil, mas nós temos que gostar dos retos formosos e intensos.