O ruído gerado polos debates sobre as línguas mal esconde umha relativa pobreza e circularidade nos argumentos para a defesa do galego. Ainda que o reintegracionismo, sobretodo a AGAL do último lustro, tenha atuado como umha interessante fábrica para a renovaçom discursiva e da mobilizaçom social, a história está a colocar o movimento perante desafios que agudizam várias das suas contradiçons, enquanto movimento mais plural e diverso na sua composiçom e nos seus objetivos do que costuma ser reconhecido.
Estamos portanto na altura certa para rever criticamente o reintegracionismo banal construído, incorporado e reproduzido polo ativismo das últimas três décadas. E para reconhecer que o conceito de lusofonia nom é de maneira nenhumha consensual – sobretodo polas suas remoras racistas e coloniais –; que a Comunidade de Países de Língua Portuguesa é comummente observada como indigno lobby de interesses económicos e empresariais; que o Acordo Ortográfico está a padecer um rechaço importantíssimo em Portugal, com argumentos muitas vezes nacionalistas e eurocéntricos, mas nom só. Ou que, como bem explica Carlos Pazos no livro A imagem da Galiza em Portugal (Através Editora), as relaçons atuais com o país vizinho estám muito condicionadas polo ruído e a invisibilidade.
Ainda que o reconhecimento no mundo da língua portuguesa seja imprescindível em termos estratégicos, fazemos mal se o imaginarmos como objetivo ou paraíso final
Ainda que o reconhecimento no mundo da língua portuguesa seja imprescindível em termos estratégicos, fazemos mal se o imaginarmos como objetivo ou paraíso final, e se calculamos que esse reconhecimento poderá ter pleno efeito enquanto o estado espanhol continue a ser o que é. Porque se o caso, como outras vezes, continuamos a ser fundamentalmente nós (e nom apenas a nossa língua), o reintegracionismo só poderá revalorizar a sua posiçom se consegue funcionar como movimento que contribui para a crítica radical dos relatos do fracasso – por exemplo sobre a normalizaçom (política, cultural, linguística) enquanto versom regional da Transiçom – e para a imaginaçom de um novo modelo social mais justo.
Trata-se entom simplesmente de criticar relatos e de imaginar sociedades justas? Nom só, com certeza. Trata-se tamém, ou sobretodo, de fazer, de reconhecer a potencialidade ds margens, de abandonar o lamento e a poética da derrota, de nom pedir aos partidos políticos mais umha declaraçom unitária. Com a humildade de reconhecer que nom podemos saber qual seria hoje a situaçom do galego se a estratégia reintegracionista tivesse vigorado há quarenta anos, mas com o orgulho de colocar como objetivo umha mudança social que nos reconcilie com o mundo e nos constitua como comunidade.