Estamos a viver um tempo paradoxal, devido à proliferaçom de diversas nomenclaturas a respeito da orientaçom, do desejo e da identidade sexual. Este paradoxo radica no facto de aparecerem novos conceitos num tempo em que os movimentos sociais reclamam a ausência de etiquetagem algumha. Entom, como é que tendemos cara a um mundo livre de etiquetas onde a cada vez surgem mais? O único objetivo será o de abrir portas, janelas ou escavar túneis cara à compreensom desta realidade.
A Sexologia Substantiva, infortunadamente pouco escuitada no nosso contexto galego, estuda o facto de sermos sexuados. Emprega-se ser sexuado cada vez com mais frequência mas de forma carente de conteúdo, mantendo o sexo (aquilo que somos, nom que temos nem fazemos) num espaço reservado ao terreno dos penes e das vaginas, em lugar do dos homens e das mulheres. A sexologia substantiva estuda o sujeito sexuado, nos seus desejos, identidades, encontros e desencontros, assim como na constante procura de topar-se com o outro. Do modo que cada quem viva essa procura, sem rotas predeterminadas e legitimando as vivências. Vaia, acabamos de introduzir um mini-marco e é precisamente um marco o ingrediente básico para poder formular conceitos. Nom todos os marcos vam ser iguais. Nem o marco da sexologia substantiva o único. Com certeza. Mas nom menos certo é que na era das novas tecnologias exige-se resposta imediata, e as respostas imediatas nom sempre som as mais contextualizadas e reflexionadas.
A etiquetagem das realidades sexuais
O facto de sermos seres sexuados baseia-se no principio da diversidade sexual e nom sempre concorda com a norma social imperante. Todas as realidades sexuais som realidades intersexuais (termo cunhado por profissionais da Sexologia da Primeira Geraçom de finais do século XIX), nom formam parte de compartimentos isolados masculinos-femininos, senom dum contínuo onde todas as variáveis e combinaçons som possíveis, fora de todo binarismo. Falar de todas as variáveis possíveis engloba tanto as generalidades comuns como os feitos de diversidade menos habituais. A perpétua etiquetagem está mais relacionada com pôr a lupa sobre as sexualidades denominadas nom-normativas e nom tanto no conjunto de vivências sexuais. E sexualidades som todas, nom som? As transgressoras com a norma e às que a norma lhe encaixa como feita à medida.
A perpétua etiquetagem está mais relacionada com pôr a lupa sobre as sexualidades denominadas nom-normativas e nom tanto com o conjunto de vivências sexuais.
Múltiplas etiquetas próprias das fontes de alimento da norma social nom especializada em sexualidade tenhem sentado cátedra. As sexualidades saudáveis e doentias das batas brancas; boas ou más, dos puritanismos moralistas às que som símbolo de progresso ou conservadorismo da política; o marketing sexual que tem unicamente como referência as cotas de prazeres pirotécnicos se alcançarem (como se o prazer fosse quantificável ou vivenciado em igualdade comunitária) … Todas estas fontes de alimento da norma reduzem com as suas etiquetas o sexo à entreperna, e sem rastro de diversidades.
A criaçom de conceitos gera realidades, dizemos habitualmente aqueles profissionais que promovemos um marco teórico do sexual científico e de rigor. É preciso matizar que com a criaçom de conceitos se mostram realidades, mas a novidade do conceito ou o seu desconhecimento por chocante/raro/novo/diferente/pouco habitual, nom fai nova a vivência sexual, que é individual dentro da diversidade legítima por si própria. Estas vivências estám aí desde todos os tempos, escondidas em muitas ocasions (segundo o momento histórico) por unha visom do sexual tendenciosa. Noutras palavras, as novas etiquetas mostram, mas descobrem novas realidades. Se seguimos a permitir que o sexo esteja encerrado na entreperna poderemos abri-las, mas continuaremos a ter as orelhas fechadas, fechando assim as portas ao pensamento e ao conhecimento dum mapa teórico sexual como oferece o Feito Sexual Humano. Por vezes é preciso elaborar umha análise de custos-benefícios perante as situaçons, e a atual apariçom de novas etiquetas é positiva no entendimento das vivências sexuais que nom encaixam na norma?
O afetivo e o sexual
Como colofom da criaçom de etiquetas está a distinçom entre o afetivo e o sexual. Separados, como se dum telefilme se tratasse, ao nascer: o primeiro parece carregado de emoçons, expetativas e planos de casamento ao estilo Disney; o segundo carnal, lúbrico, hedonista, sicalíptico e pornográfico. Como se umha linha divisória partisse o nosso corpo entre o coraçom e a entreperna. Nalgum momento, por interesses diversos, deixamos de ser um corpo que experimenta sensaçons, excitaçons e emoçons, num todo em um, a ser um compartimento isolado onde o sexual só é genital e as emoçons nom som corpóreas. Olho com o dualismo corpo/alma que continua a estar muito presente e a existência da alma nom está demonstrada ‑de momento.- Binarismo 1 – Diversidade 0. Quantas etiquetas surgem desta distinçom entre pele e emoçons? Acaso a pele está desligada das emoçons ou vice-versa? Podemos nom ser corpo? Ou é mais válido o namoramento do que a excitaçom?
deixamos de ser um corpo com sensaçons, excitaçons e emoçons a ser um compartimento isolado onde o sexual só é genital.
Algumhas etiquetas presentes
Existem processos de etiquetagem que já formam parte dos seres sexuados:
— A etiquetagem como forma de pertença a um grupo, que reforça o sentimento de comunidade. Somos sociais por natureza e os processos de socializaçom som sexuais, som entre sexos.
— A etiqueta da identidade. Etiquetar é próprio de todas as espécies animais através do mecanismo inato da distinçom entre machos e fêmeas. Este filtro conta com um margem de erro importante, como o que se dá cara às pessoas transexuais, que sofrem o erro da etiquetagem ao serem sexuadas como o que nom som. O filtro nom é fiável ao cento por cento, e nom podemos estabelecer verdades absolutas com ele. Mas isso nom nega que o filtro exista e que a etiquetagem se realiza de forma automática.
— A etiqueta do desejo erótico, esse instinto que nos fai distinguir entre o que nos ativa o desejo erótico e o que nom. Esse instinto gera todo tipo de etiquetas, desde gostar dos homens ou mulheres até os desejos mais peculiares e nom confessáveis. Este instinto está relacionado com múltiplos fatores, desde culturais a atávicas ancoragens eróticas. Assim, aquela pessoa que sente desejo cara aos homens com muito pelo, pom etiquetas segundo o seu desejo, ao igual que o fai aquela pessoa que ativa o seu desejo com pessoas com um alto grau de empatia.
O conhecimento, a aceitaçom e o fomento das vivências sexuais positivas que contribuam para a felicidade individual e para a ótima convivência comunitária passa pola necessidade de criar conceitos, que quanto menos afastados estejam da lógica dos sexos mais contribuirám para estes objetivos.