As bibliotecas das cidades uruguaias de Cardona, no departamento de Colónia, Canelones, capital do departamento homónimo, ou Melo, no departamento de Cerro Largo, levam o nome dumha das poetas mais reconhecidas do país: Juana de Ibarbourou (1892–1979). Marina Oural, também poeta, conheceu de bem nova este nome, mas nom a sua obra. Os seus versos nom tinham lugar no programa da primária e da secundária que estudou embora a biblioteca de Lourençá, a sua vila natal e a vila natal do pai de Juana, engrossa a lista das bibliotecas de Ibarbourou.
Marina nom o sabia na altura, mas as letras da uruguaia acabariam por marcarem a sua vida várias vezes, mesmo poderiam estar a piques de levá-la até o país onde a sua figura é venerada, num percurso idêntico ao realizado polo pai da própria Juana há muito tempo.
A dança
De meninha Marina Oural queria estudar coreografia e arte dramática. “Esta nena que di?”, recorda que repetiam o seu pai e a sua mae. Nom era algo que umha nena de Lourençá pudesse estudar na década de ‘60. “Eu gostava de criar formas corporais, de escrever, de estudar, de estar muito no meu quarto”, relata. A sua família nom compreendia porque a nena insistia tanto em estudar algo para o que nom viam futuro. Ela mostrou-se tenaz e conseguiu apontar-se a aulas de dança contemporânea no Casino de Mondonhedo com um mestre que nom lembra, mas que lhe ajudou a rematar de convencer-se de que aquilo era ao que se queria dedicar o resto da sua vida.
“Eu gostava de criar formas corporais, de escrever, de estudar, de estar muito no meu quarto”, relata. A sua família nom compreendia porque a nena insistia tanto em estudar algo para o que nom viam futuro.
Conseguiu umha bolsa para estudar dança em Madrid, mas finalmente a sua família convenceu-na para renunciar, ainda ela gostando. Ela própria comenta que lembrava as coreografias que estudavam cada domingo perfeitamente. “Era brutal. Éramos, se calhar, vinte e tantos moços e moças. Ainda nom há tanto encontrei um colega e recordávamos esses bons momentos”, explica. Mas seus pais insistiam com o mesmo refrám até que Marina decidiu rebelar-se: “Decidim suspender, folguei”. Ao pouco tempo seguiu a sua irmá para a Corunha, onde rematou os estudos obrigatórios. Decidiu tentar a sorte em Londres, onde conseguiu um trabalho e estivo a piques de solicitar o ingresso numha escola de dança, mas a presom familiar tirou dela e regressou para a Galiza.
As favas
Na Corunha matriculou-se em Publicidade e Relaçons Públicas e, aos poucos de rematar, inaugurava a sua primeira oficina na rua Durán Lloriga. Umha mulher liderando umha oficina de relaçons públicas e empregando o galego como língua veicular era um atrevimento. Na Corunha, Marina conheceu ainda mais de perto a rejeiçom cara às mulheres e também cara à língua. “Muito duro”, respondeu. Isso fijo‑a reflexionar, “aqui há tema, porque se algo querem erradicar assim é porque é importante”. Com o seu gabinete começou a organizar a Feira Histórica de Arteijo, a Festa do Queijo de Arçúa ou o Festival Cantos na Maré, onde coincidiu com Ugia Pedreira, outra mulher chave na vida de Marina: “Ugia via poesia nos meus correios eletrónicos”.
Talvez o projeto mais pessoal de Marina nesta etapa da sua vida foi a sua achega ao Festival da Fava de Lourençá. Umha fava que na atualidade se vende antes mesmo de ser semeada, mas que na altura ainda nom alcançara a Denominaçom de Origem. Ela implicou a todas as labregas e labregos do município. Queria mais independência para as mulheres, que dependiam dos seus homens, “que se figessem autónomas e se encarregassem das suas colheitas”.
Lourençá e o regresso à dança
O trabalho com as favas de Lourençá reúne de novo a Marina com a poeta Juana de Ibarbourou.
A evoluçom da publicidade e do marketing fam que Marina decida fechar o seu gabinete no ano 2009. “Foi o passo mais grande que dei, com muita diferença na minha vida”, explica enquanto lembra o pânico que lhe entrou. Nom se arrepende, ainda que foi um “passo que me custou muitas lágrimas”. Vendeu o piso e decidiu ficar em Lourençá. Retomou o contacto consigo própria e da mao de Ugia subiu pola primeira vez a um cenário para recitar os seus versos. Também começou a trabalhar em obradoiros com crianças com diversidade funcional, ajudando-as a se comunicar através do seu corpo.
O trabalho com as favas de Lourençá reúne de novo a Marina com a poeta Juana de Ibarbourou. Da mao de quem na altura era alcalde da vila, Vidal Martínez-Sierra, recebe umha cinta de cassete que enviou a própria uruguaia no ano 1963. Nela Juana agradece a Lourençá por dar o seu nome para a biblioteca municipal. Nessa mesma cinta lembra os versos de Rosalia de Castro que aprendeu quando nena por boca de seu pai, um namorado da poesia.
Juana, Rosalia e as demais
É um poema de Juana, explica Marina, o qu lhe dá a chave para a obra que levaria o nome da uruguaia por título. Dulce milagro é um ponto de partida do que cria um nó e um desenlace onde se entrelaçam versos de Rosalia de Castro, de Juana e da própria Marina, No cenário misturam-se a dança de Irene Álvarez, o saxofone de madrilenha Chefa Alonso, o contrabaixo de Jorge Frías e a bateria de Ramón Peña. A diretora cénica Mónica Cofiño pujo a batuta. Trabalhárom a cavalo entre Ribadeo, Compostela, Madrid e Cádis a obra Juana. Umha obra que, segundo a própria Marina, “nasce do ventre”. No ano 2017 foi estreada na terra paterna da escritora uruguaia, primeiro em Lourençá e logo em Ribadeu, e agora Marina aguarda poder levá-la para Uruguai. Reconhece que lhe dá muito medo, sendo Ibarbourou umha figura venerada lá. Porém, é umha promessa que se fijo a si mesma e a toda a equipa.
En janeiro do 2018, Marina e as suas companheiras Irene Álvarez, Chefa Alonso e Mónica Cofiño recebêrom o Prémio Luisa Villalta da Deputaçom da Corunha.
Enquanto aguardam polo bilhete de aviom, Juana nom fica parada. En janeiro de 2018, Marina e as suas companheiras Irene Álvarez, Chefa Alonso e Mónica Cofiño recebêrom o Prémio Luisa Villalta da Deputaçom da Corunha. Isto abriu-lhes a porta para organizar, umha série de obradoiros neste mês de abril em Rianjo, Oleiros, Ortigueira e Vimianço em colaboraçom com aCentral Folque. As convidadas para participarem fôrom mulheres, também homens, de todas as idades e com experiência ou interesse em distintas disciplinas artísticas. Juana e as favas de Lourençá funcionárom como um dos pontos de partida. Antes de começar a sua gira de cursos tinham claro o fundamental: “Divertir-se, divertir-se sempre”.