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As grandes empresas levam o vento

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Construçom do par­que eo­lico de A Vacariza pro­mo­vido por Naturgy.

No ano 2018 cessou o descanso no desenvolvimento eólico e começou, a partir desse momento, umha nova vaga de construçom de parques. Entre as novidades encontram-se várias normativas autonómicas que renunciam a umha planificaçom deste recurso e coloca nas maos de empresas transnacionais e fundos de investimento as iniciativas para a exploraçom do vento. 

Num ar­tigo pu­bli­cado na re­vista Energies em que se es­tuda a pro­pri­e­dade dos par­ques eó­li­cos ins­ta­la­dos no nosso país en­tre 1995 e 2017, as pro­fes­so­ras Rosa María Regueiro e Xoán R. Doldán, do de­par­ta­mento de Economia Aplicada da Universidade de Santiago de Compostela, ex­pu­nham como um 88% da po­tên­cia eó­lica ins­ta­lada per­ten­cia a gran­des gru­pos ener­gé­ti­cos e/ou fun­dos de in­ves­ti­mento, sendo o ca­pi­tal mai­o­ri­ta­ri­a­mente es­tran­geiro. Salientam que o 55% da po­tên­cia eó­lica ins­ta­lada per­tence a qua­tro gran­des gru­pos: Acciona, Iberdrola, Enel-Endesa e Naturgy. “É im­por­tante re­pa­rar em que duas com­pa­nhias, Endesa ‑li­gada com EnelSpa- e Iberdrola re­pre­sen­tam perto do 70% do mer­cado elé­trico es­pa­nhol. Esta si­tu­a­çom se­me­lha ocul­tar umha po­lí­tica de in­ter­ven­çom in­tensa nos re­cur­sos eó­li­cos na Galiza”, acres­cen­tam no artigo.

Rosa Maria Regueiro foi tam­bém au­tora de A pro­pi­e­dade do vento ga­lego. O de­sen­vol­ve­mento do sec­tor eó­lico en Galiza (1995–2011), pu­bli­cado por Laiovento em 2011. Umha das con­clu­sons deste tra­ba­lho foi que o de­sen­vol­vi­mento eó­lico nesta etapa ca­ra­te­ri­zou-se “por um pro­cesso de ex­plo­ra­çom in­ten­sivo do re­curso do vento, cen­trado em gru­pos de in­ves­ti­mento em­pre­sa­ri­ais e/ou ener­gé­ti­cos de ca­rác­ter trans­na­ci­o­nal”, e se­gundo ex­pom a NOVAS DA GALIZA essa afir­ma­çom está atu­al­mente mais de vi­gor do que nunca: “Vemos que a pro­pri­e­dade está co­lhendo umha es­tru­tura pi­ra­mi­dal. Na cús­pide es­tám os do­nos do ca­pi­tal que se in­veste aqui e a cada vez nessa cús­pide há me­nos. Cada vez há umha maior con­cen­tra­çom de ca­pi­tal de pro­pri­e­tá­rios de par­ques eó­li­cos, e es­ses pro­pri­e­tá­rios es­tám em Luxemburgo, em Bélgica, nos EUA, na China, em Qatar… O mo­delo nom mu­dou, in­ten­si­fi­cou-se. E nom é algo que acon­teça só aqui, isso res­ponde à di­nâ­mica de con­cen­tra­çom do ca­pi­tal e da des­lo­ca­li­za­çom dos investimentos”.

Rosa María Regueiro: “Cada vez há umha maior con­cen­tra­çom de ca­pi­tal de pro­pri­e­tá­rios de par­ques eó­li­cos, e es­ses pro­pri­e­tá­rios es­tám em Luxemburgo, em Bélgica, nos EUA, na China… O mo­delo nom mu­dou, intensificou-se”

Regueiro ex­pom que há que ter cons­ci­ên­cia de que qual­quer pro­jeto ener­gé­tico pre­cisa de muito ca­pi­tal. Por exem­plo, a ma­nu­fa­tu­ra­çom de um ae­ro­ge­ra­dor de 1 MW su­pera o mi­lhom de eu­ros. Isto im­plica que só as gran­des em­pre­sas ener­gé­ti­cas com um forte sus­tento em­pre­sa­rial e com acesso ao grande ca­pi­tal po­dem le­var adi­ante este tipo de pro­je­tos. “Ademais há que ter em conta que quando viu o im­pacto da crise sis­té­mica de 2008, e que com as mo­di­fi­ca­çons le­gis­la­ti­vas de 2013 houvo umha pa­rada tre­menda, pois quais fô­rom as em­pre­sas que pu­dé­rom con­ti­nuar? Aquelas que ti­nham por trás um braço exe­cu­tor forte, e isso vem de fun­dos de in­ves­ti­mento pri­va­dos”, acres­centa Regueiro.

Aponta ou­tra ques­tom que ex­plica o atual auge de pro­je­tos eó­li­cos: as mu­dan­ças nor­ma­ti­vas que de­sen­vol­veu a Junta da Galiza. “Continua es­tando vi­gente a le­gis­la­çom de 2009, mas a forma de re­so­lu­çom é di­fe­rente. Já nom há con­cur­sos eó­li­cos como an­tes, agora a em­presa apre­senta um pro­jeto na Junta e se o con­si­de­ram idó­neo se­gue o seu curso”, in­dica Regueiro. 

Sem pla­ni­fi­ca­çom eólica

A le­gis­la­çom que re­gula a ener­gia eó­lica é ainda a Lei 8/2009, mas esta viu-se pro­fun­da­mente mo­di­fi­cada pola Lei 5/2017 de fo­mento de im­plan­ta­çom de ini­ci­a­ti­vas em­pre­sa­ri­ais, que o eco­lo­gismo al­cu­nhou como ‘Lei Depredaçom’, de­nun­ci­ando as nu­me­ro­sas fa­ci­li­da­des que tra­zia para a im­ple­men­ta­çom de pro­je­tos ener­gé­ti­cos como os par­ques eó­li­cos. Porém, a Junta ainda con­ti­nua a apro­var no­vas me­di­das aos in­te­res­ses da in­dús­tria ener­gé­tica, como a re­cente Lei 9/2021 de sim­pli­fi­ca­çom ad­mi­nis­tra­tiva e de apoio à re­a­ti­va­çom eco­nó­mica. Assim, a or­ga­ni­za­çom eco­lo­gista ADEGA vem de de­nun­ciar que esta nova le­gis­la­çom di­na­mita a pla­ni­fi­ca­çom eó­lica ao con­tar com umha dis­po­si­çom adi­ci­o­nal que per­mite a im­plan­ta­çom de par­ques eó­li­cos em zo­nas que nom es­te­jam in­cluí­das no Plano se­to­rial eó­lico de 1997 “aque­les pro­je­tos que te­nham umha clara in­ci­dên­cia ter­ri­to­rial pola sua en­ti­dade eco­nó­mica e so­cial, pos­suam umha fun­çom ver­te­bra­dora e es­tru­tu­rante do ter­ri­tó­rio e se­jam de­cla­ra­dos como tais polo Conselho da Junta da Galiza, por pro­posta da con­se­lha­ria com­pe­tente em ma­té­ria de energia”. 

campo ga­lego

Participaçom das pro­pri­e­tá­rias de terrenos

No seu tra­ba­lho de 2011, Regueiro in­di­cava qua­tro ve­to­res para de­fi­nir umhas po­lí­ti­cas de apoio ao de­sen­vol­vi­mento eó­lico: a par­ti­ci­pa­çom de agen­tes im­pli­ca­das, a re­gu­la­çom do solo eó­lico, a pro­te­çom me­di­o­am­bi­en­tal e um apoio pú­blico glo­bal ao se­tor. Em nen­gum des­tes as­pe­tos con­si­dera que houve avan­ços desde en­tom. “Continua ha­vendo umha gente que está sendo com­ple­ta­mente mi­nus­va­lo­rada, como som as pro­pri­e­tá­rias dos ter­re­nos” afirma Regueiro, e sa­li­enta que isto tem a ver com que nunca se con­si­de­rou o solo eó­lico como um solo in­dus­trial. “A ex­pli­ca­çom que ha­via era que como é um solo que está no monte e está aban­do­nado tem pouco va­lor. Mas nom é as­sim, é um solo com umha ri­queza, pois aí há me­di­çons pré­vias do re­curso vento e por­tanto umha em­presa sabe que aí tem umha ex­plo­ra­çom que vai ser pro­du­tiva”, salienta.

Por ou­tra banda, o Observatório Eólico Galego (OEGA), vin­cu­lado com a Universidade de Vigo e as fun­da­çons Juana de Vega e Isla Couto, vem de pu­bli­car um ‘Guía para o in­cre­mento do va­lor so­cial e do va­lor eco­nó­mico da ener­xía eó­lica nas co­mu­ni­da­des ru­rais’. Trata-se de umha atu­a­li­za­çom de um tra­ba­lho si­mi­lar pu­bli­cado em 2010 e que pre­tende do­tar de in­for­ma­çom àque­las pro­pri­e­tá­rias que te­nham que ne­go­ciar po­las suas ter­ras pe­rante as pro­mo­to­ras de um par­que eó­lico. Também de­nun­ciam que as pro­pri­e­tá­rias som um dos elos mais fra­cos da ca­deia. “Na atu­a­li­dade, a ad­mis­som a trâ­mite de umha pro­posta de par­que eó­lico nom re­quer de nen­gum passo em que par­ti­ci­pem as pes­soas pro­pri­e­tá­rias. Sem ser a única, esta é umha das ei­vas mais im­por­tan­tes que tem o marco ju­rí­dico da ener­gia eó­lica na Galiza”, ex­pom o tra­ba­lho da OEGA.

Na atu­a­li­dade, a ad­mis­som a trâ­mite de umha pro­posta de par­que eó­lico nom re­quer de nen­gum passo em que par­ti­ci­pem as pes­soas pro­pri­e­tá­rias. Sem ser a única, esta é umha das ei­vas mais im­por­tan­tes que tem o marco ju­rí­dico da ener­gia eó­lica na Galiza”, ex­pom o OEGA

A OEGA de­nun­cia tam­bém a fa­ci­li­dade com que as pro­mo­to­ras ace­dem a umha de­cla­ra­çom de uti­li­dade pú­blica, que abre a porta à via da ex­pro­pri­a­çom for­çosa: “É im­pe­ri­osa a ne­ces­si­dade de mo­di­fi­car a le­gis­la­çom neste as­peto. As pro­mo­to­ras se­me­lham ter carta branca para so­li­ci­tar a de­cla­ra­çom de uti­li­dade pú­blica, que nos pro­ces­sos ad­mi­nis­tra­ti­vos que te­mos ana­li­sado (de mais de 150 par­ques) quase na to­ta­li­dade de­les foi con­ce­dida”. Acrescentam que “má­lia que na mei­rande parte dos par­ques eó­li­cos se pro­du­ziu um acordo en­tre as par­tes (que de­sem­bo­cou no es­ta­be­le­ci­mento de um alu­guer anual), a op­çom da uti­li­dade pú­blica e da ex­pro­pri­a­çom for­çosa jo­gam sem­pre como umha panca que puxa os acor­dos cara à ren­das mais bai­xas e con­di­çons mais se­ve­ras para as pro­pri­e­tá­rias”. O ob­ser­va­tó­rio de­nun­cia tam­bém que nos úl­ti­mos me­ses cons­ta­tou “a che­gada ao meio ru­ral ga­lego de in­ter­me­diá­rios bus­ca­do­res de ren­das que, sem te­rem pro­jeto eó­lico, pre­ten­dem as­si­nar con­tra­tos com con­di­çons inaceitáveis”.

Contexto ener­gé­tico

Há que fa­zer é umha aná­lise em de­ta­lhe do ‘mix’ ener­gé­tico e elé­trico ga­lego quanto an­tes”, sa­li­enta a pro­fes­sora Rosa Maria Regueiro, “por­que se nom fa­ze­mos um es­tudo em con­junto do que te­mos e do que ne­ces­si­ta­mos, com o passo do tempo va­mos ser mais frá­geis e de­pen­der mais dos sub­mi­nis­tros do ex­te­rior”. Realmente, Galiza já é de­pen­dente dos sub­mi­nis­tros de ener­gia pri­má­ria do ex­te­rior ‑como por exem­plo o petróleo‑, tal como in­di­cam os ba­lan­ços ener­gé­ti­cos do INEGA. Ademais, Regueiro sa­li­enta mais umha pro­ble­má­tica a ter em conta: a mu­dança cli­má­tica, que vai pro­vo­car umha dis­po­si­çom mais er­rá­tica de re­cur­sos como o vento e a água. 

Da ótica de­cres­cen­tista, Manuel Casal Lodeiro, co­or­de­na­dor do Instituto Resiliência qua­li­fica de “co­lo­ni­a­lismo ener­gé­tico” a atual re­a­ti­va­çom da cons­tru­çom de par­ques eó­li­cos, e afirma que o nosso país pra­ti­ca­mente pro­duz já toda a ele­tri­ci­dade que ne­ces­sita sem ter que quei­mar com­bus­tí­veis fós­seis. “Estamos con­su­mindo umhas 1.700 Ktep (mi­lha­res de to­ne­la­das equi­va­len­tes do pe­tró­leo) que cor­res­pon­dem quase com 20.000 GW/h de ele­tri­ci­dade, e ge­rando en­tre hi­dro­e­lé­trica, eó­lica e so­lar, ge­o­tér­mica uns 1.500 Ktep, que cor­res­pon­dem com algo mais de 17.000 GW/h”, se­gundo ex­trai do úl­timo ba­lanço ener­gé­tico pu­bli­cado polo INEGA.

Casal Lodeiro acres­centa que “de­ve­ría­mos mu­dar o mo­delo para fa­zer-nos mais re­si­li­en­tes ali onde so­mos de­fi­ci­tá­rios, que nom é pre­ci­sa­mente na ge­ra­çom elé­trica”, e pensa que com o atual auge eó­lico “pode que es­teja a ten­tar co­brir-se o que per­de­re­mos ao fe­char as cen­trais de car­vom mais algo que se viu im­por­tando, por meio de re­no­vá­veis para man­ter as in­dús­trias ele­troin­ten­si­vas”. Para Casal Lodeiro o mo­delo de­vera mu­dar ra­di­cal­mente para po­der ser re­al­mente de­mo­crá­tico: “Cada bis­barra de­vera ter ca­pa­ci­dade de­mo­crá­tica de de­ci­dir, den­tro de um mo­delo elé­trico dis­tri­buído e de­mo­crá­tico ba­se­ado nas ne­ces­si­da­des lo­cais, é di­zer, justo o con­trá­rio ao atual”.

 

Casal Lodeiro acha que “de­ve­ría­mos mu­dar o mo­delo para fa­zer-nos mais re­si­li­en­tes ali onde so­mos de­fi­ci­tá­rios, que nom é pre­ci­sa­mente na ge­ra­çom elétrica”

Este ati­vista quer acla­rar tam­bém que “nen­gum dos mo­der­nos sis­te­mas de cap­ta­çom de ener­gias re­no­vá­veis é ‘to­tal­mente re­no­vá­vel’. Todas de­pen­dem em maior ou me­nor me­dida dos com­bus­tí­veis fós­seis”. E sa­li­enta as di­fi­cul­da­des para re­ci­clar os com­po­nen­tes dos ae­ro­ge­ra­do­res umha vez ter­mi­nada a sua vida útil, que está por volta das duas décadas. 

Também cri­tica os cus­tos am­bi­en­tais re­la­ci­o­na­dos com a pro­du­çom de ma­te­ri­ais de uso das in­dús­trias eó­li­cas, por exem­plo o im­pacto das mi­nas onde se ob­te­nhem as ma­té­rias pri­mas, e mos­tra a sua pre­o­cu­pa­çom po­los seus cus­tos em emis­sons de ga­ses de efeito es­tufa. “Acho que nom com­pensa con­ti­nuar a emi­tir par­tindo do facto de ter­mos já toda a ele­tri­ci­dade que ne­ces­si­ta­mos, e ainda nos so­bra­ria para ex­por­tar se re­du­zís­se­mos con­sumo. O aforro de ener­gia sim que é ‘ener­gia verde’”. 

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