A Noemí Lima vendêrom-na em 1987 por 104.000 pesetas aos seus pais adotivos. Umha das faturas da sua venda, de caráter público, leva o carimbo do Hospital Municipal de Vigo. A folha carimbada tem os dados do pessoal médico que atendeu a sua mãe biológica, entre todas as intervençons somam 57.288 pesetas. Na outra folha, inclui-se o “restabelecimento da moça”, “roupas e viagens”, “táxis” e “telefone”, polo qual cobram 47.000 pesetas. Todo junto soma 104.228 pesetas, valor que na época atual equivaleria, aproximadamente, a uns 3.000 euros.
A venda da Noemí está assinada por Pilar Hoyos, monja que continua a prestar serviços no orfanato de Teis, dirigido pola congregaçom “Siervas de la Pasión”. Perante as faturas e os papeis da adoçom, cheios de contradiçons, Noemí Lima recorreu a Pilar Hoyos para lhe perguntar pola sua família biológica. Nunca quixo responder.
Colhidas as provas, Noemí denuncia detençom ilegal, alteraçom do estado civil, adoçom ilegal e falsidade em documento público ou oficial. O Juízo de Instruçom número 7 de Vigo confirma em 2014 a imputaçom de Pilar Hoyos polas irregularidades na sua adoçom.
É entom quando a monja dá o nome da tua mãe biológica, Noemí?
Pilar Hoyos descarregou responsabilidades num advogado que, curiosamente, está morto. Reconheceu que houvo troca de quartos, mas dixo que ela nom beneficiou disso. Já, por isso estám tam infladas as faturas e nom guardam nenhum papel! O nome da minha mãe acabou por fornecê-lo mais tarde e entregou‑o escrito num papel de caderno juntamente com o nome da minha família adotiva, o endereço do domicílio e, na parte superior, um número: 106. Tenho que interpretar que som a bebé número 106 que vendem?
Como che afetou encontrar a tua mãe biológica?
Perturba porque tenho amizades em comum com a minha família biológica. Vivírom sempre perto de mim, aqui em Vigo. Isso faz com que penses todas as vezes que pudeste cruzar-te com eles e doe.
A tua mãe biológica que declarou perante os tribunais de Vigo que ela nom quixo dar-che em adoçom mas arquivam a causa. Por que nom chegou ao julgamento?
Nom existe nenhum papel que ela assinasse e que prove o consentimento da adoçom, mas o trinunal decidiu fazer finca-pé em que a minha mãe (biológica) nom denunciou nos dias posteriores a que me levassem. Alegam que esse feito implica um consentimento fáctico por parte dela e que lhe quita a tipificaçom penal ao crime. Nom o entendo, parece-me um desatino.
Ainda que a deixem impune, reconhecem a ilegalidade dos feitos?
Sim. Ainda que negam a detençom ilegal, por esse consentimento fáctico da minha mãe, admitem a existência dumha adoçom ilegal. Isto também cai na impunidade já que, em 1987, quando sucedeu todo, nom existia este delito.
Que sentes quando vês que a tua denúncia nem tam sequer deriva num julgamento?
Sinto que a Igreja continua a mandando o seu e que ao Estado nom lhe importa nada todo o que fixo connosco.
E a tua mãe?
Ela cumpria-as todas. Tinha dezassete anos quando me pariu, era solteira, pobre e dumha família desestruturada. Como ia denunciar ela que lhe roubaram a sua bebé? Quem a ia crer? Se ainda a dia de hoje dim que as do roubo de bebés estamos todas tolas, mães e filhas!
A tua mãe e pai adotivos que pensam agora de todo isto?
Pensavam que era umha adoçom regular. A minha mãe e pai adotivos tinham umha filha que morreu num acidente de automóvel. Pouco depois, umha amiga leva-os ao hospício para adotarem ali um bebé. Assim, sem mais, como se fossem comprar umhas botas. A responsabilidade disto é de quem lhes dá umha criança nessas condiçons.
E que pensas fazer agora, Noemí?
Exigir que me devolvam a minha identidade. Os meus apelidos. Nom cheguei ao julgamento, nom tenho sentença mas sim se reconheceu a ilegalidade da minha adoçom. Quero que as minhas filhas e o meu filho vejam reconhecida a sua identidade também. Essa é a minha seguinte luita.