Os serviços pediátricos na atençom primária levam anos em crise. A recente luita pola reabertura da sala de partos em Verim, assim como mobilizaçons e reivindicaçons ao longo de várias comarcas deste país reclamando a cobertura de vagas que ficárom vazias, voltam pôr o foco nesta problemática. Esta falta de cobertura das baixas e das férias das profissionais de pediatria estám a provocar consequências por todo o país deixando concelhos do rural sem assistência e núcleos urbanos com cupos que superam as 1000 crianças por pediatra. Diversas ativistas de plataformas e coletivos em defesa da pediatria e da saúde pública exponhem como estám a luitar contra esta falta assistencial.
Nom se trata de um problema novo, as reivindicaçons públicas em defesa de umha atençom pediátrica digna levam anos a suceder-se, e esta problemática vai ligada também com os cortes e a precariedade laboral que estivo a se estender nos últimos anos na atençom primária. Os últimos dados oficais do Sergas indicam que em 2018 havia no nosso país umhas 321 pediatras na atençom primária, umha cifra ligeiramente inferior aos anos anteriores. Ademais desta quantidade de profissionais pediátricas, que implica a ausência deste serviço num total de 184 concelhos segundo os mesmos dados, há que acrescentar o que está a ser o principal problema nos últimos anos, que é que nom estám a cobrir-se as vagas que ficam livres quando as pediatras tenhem umha baixa de longa duraçom ou tenhem férias.
Em 184 concelhos nom há serviço de pediatria, e nos últimos anos nom estám a cobrir-se as vagas que ficam livres quando as pediatras tenhem umha baixa de longa duraçom ou tenhem férias.
Xabier Alvedro, da CIG-Saúde de Compostela, expom que “já há anos que se leva alertando desta situaçom e nom se preocupárom de fazer umha previsom de possíveis entradas desde o nível mais baixo, da universidade, para ir ampliando o número de pessoas que estudassem isto. E as saídas nom som atrativas para quem remata em atençom primária”. Alvedro salienta também a precariedade laboral que se dá tanto na pediatria como no conjunto de atençom primária. “Nom há estabilidade no trabalho pois som habituais contratos de dias soltos e isto nom resulta atrativo”, expom. Alvedro acrescenta que a situaçom é algo diferente na atençom pediátrica hospitalária, que conta com mais prestígio.
Cotas desbordadas
Os problemas na atençom pediátrica atingem também as cidades. Alvedro, da CIG-Saúde, expom o que acontecia no ambulatório Concepción Arenal, de Compostela, nas primeiras semanas de março, onde de quatro pediatras nas quendas de manhá estavam a trabalhar só duas. Desde o mês de novembro duas pediatras estám de baixa prolongada, ao que há que somar as férias pendentes das pediatras assim como os dias de livre disposiçom. Ademais, Alvedro acrescenta “isto agrava-se quando a profissional de Conjo, quem se encontra próxima à jubilaçom, pede férias ou dias livres, os pacientes menores de três anos ou as revisons de menores de quatro meses som assumidas polo Concepción Arenal”.
“As cotas estám desbordadas”, acrescenta o integrante de CIG-Saúde em referência à situaçom no Concepción Arenal, “pois já som maiores de 1000 crianças”. Assim, ao pedir umha citaçom para umha situaçom pontual com umha criança o mais provável é que esta citaçom nom poda realizar-se antes de um prazo de cinco dias. “Isto provoca um aumento de crianças que som atendidas sem citaçom prévia. Se já tinhas as consultas desbordadas pois ainda o vam estar mais”. Outra consequência do que acontece na atençom pediátrica primária é que as crianças já nom tenham pediatras de referência e que estas sejam assistidas por várias pediatras ao longo do seu historial.
Na mesma área sanitária de Compostela, CIG-Saúde denunciou também os cortes assitenciais em pediatria no centro de saúde de Avanha, onde também se retirou recentemente à matrona. Segundo indica Xabier Alvedro, no referente à pediatria neste centro, “em Avanha estám a passar duas vezes à semana, nada mais. A alternativa que lhes davam era ir até Maçaricos, mas isso é navegar do revés, porque se vás ali e logo tes que deslocar-te para o hospital, em Compostela, vás ter que ir de mais longe”.
A revolta das chupetas
No domingo 16 de fevereiro tinha lugar em Cedeira, na comarca de Ortegal e na área sanitária de Ferrol, umha grande mobilizaçom pedindo a presença de umha pediatra no centro de saúde desta vila. Este movimento deu-se em chamar ‘A revolta das chupetas’ e foi promovido pola plataforma vizinhal ‘En Cedeira, pediatra xa’. Desta plataforma forma parte Davide Loimil, quem expom o que foi acontecendo nos últimos meses: “A pediatra titular tivo umha baixa no verao passado. A partir de começos do mês de agosto fôrom-se notando as deficiências e fôrom parcheando a situaçom enviando diferentes profissionais, nom sempre pediatras. Mas a situaçom mais grave foi a partir do mês de dezembro, pois já nom temos nengum tipo de serviço de pediatria”.
Loimil salienta que por começos de março começavam a chegar informaçons de que se solucionaria a situaçom, “mas o que fam é enviar cada dia um profissional diferente e ademais numha ocasiom recente havia vários cativos citados e afinal a pessoa que supostamente ia vir nom se apresentou. Por isto, a gente está mui queimada, pois acontecem outra vez demoras nas citaçons, nas revisons dos bebés e demais”.
Davide Loimil, da plataforma vizinhal Em Cedeira, Pediatria xa!: “A partir de começos do mês de agosto fôrom-se notando as deficiências e fôrom parcheando a situaçom enviando diferentes profissionais, nom sempre pediatras. Mas a situaçom mais grave foi a partir do mês de dezembro, pois já nom temos nengum tipo de serviço de pediatria”.
Na quinta-feira 12 de março representantes da plataforma reunírom-se com o gerente da área sanitária de Ferrol, Ángel Facio. Porém, segundo valorou posteriormente a plataforma ‘En Cedeira, pediatra xa’, “a Gerência nom assumiu nengum compromisso para restituir o serviço de pediatria com normalidade, que era o objetivo da reuniom. A pesar de reconhecer a gravidade da situaçom que padecemos em Cedeira, manifestou a sua incapacidade para poder resolvê-la”. Assim, realizárom umha convocatória de manifestaçom para o domingo 15 de março, a qual ia consistir numha mobilizaçom em veículos, mas que tivo que ser cancelada devido à proclamaçom do estado de alarma por parte do governo espanhol como medida para combater a expansom do Covid-19.
Numha situaçom similar à de Cedeira encontram-se também os concelhos de Moeche, Sam Sadurninho, Cerdido e As Somoças, também integrados na área sanitária de Ferrol. A vizinhança destes concelhos já começara as suas mobilizaçons antes do que em Cedeira. Assim, Davide Loimil lembra que “quando distintas famílias de Cedeira começaramos a nos contatar e iniciamos a recolhida de assinaturas, antes mesmo da grande manifestaçom, já nos achegamos a Sam Sadurninho a umha concentraçom daqueles concelhos afetados, nós daquela nom tinhamos ainda nem constituída a plataforma”. Porém, Loimil assegura que o movimento em Cedeira foi colhendo um caráter preferentemente local, se bem se formulam possíveis alianças com coletivos a nível galego.
As consequências da falta de atençom pediátrica em Cedeira volta a aparecer a impossibilidade de que as crianças estejam atendidas sempre pola mesma profissional. “Nós sempre contamos que esta pediatra quando entrava na consulta sempre chamava os rapazes polo nome, entom essa qualidade na assistência perdeu-se totalmente. Agora podem derivar-nos a Valdovinho, que está sempre saturado, ou a Ferrol, e ali já nom é que nom nos atenda umha pediatra, pois habitualmente é umha médica de família, mas que ademais atende umha profissional diferente de cada vez”, assinala Loimil. Denunciam assim a perigosidade destes deslocamentos polo deficiente estado da estrada que as coneta com Ferrol, assim como as dificuldades que entranha também para a conciliaçom laboral. Como mostra deste caos na atençom primária em pediatria, Loimil expom umha situaçom vivida por ele recentemente: “fomos revisar os resultados de umha analítica e a pessoa que nos atendia nom era pediatra, polo que nom conhecia os níveis exatos dos diferentes parámetros para crianças. Era umha situaçom um algo dantesca, pois ela tinha que estar whatsappeando e chamando colegas para a assessorarem”.
Ademais desta falta de pediatria, a vizinhança da vila denuncia a falta de umha matrona desde há dous meses e também que nom se substituam as profissionais durante as férias, o que provoca alteraçons sobre todo no verao, quando a populaçom do lugar cresce significativamente.
Sem turnos de tarde
Um concelho que também nota esse incremento da populaçom estival é o de Cangas do Morraço, umha vila que também viu cortados nos últimos anos os seus serviços de atençom pediátrica e que conta com umha vizinhança pronta a luitar pola saúde pública. Carmen Nores, presidenta da associaçom A Voz da Sanidade, expom que desde o mês de outubro, data em que umha das quatro pediatras deixou a sua vaga em Cangas, esta nom foi coberta, polo que ficam desde entom três pediatras todas em horário de manhá.
Mas a luita por umha atençom pediátrica digna remonta-se a novembro de 2018, momento em que nasce umha mobilizaçom vizinhal contra o feche de umha consulta que atendia as crianças das paróquias de Aldám e o Hio. “Foi um movimento mui importante na nossa vila”, salienta Nores. Mália as mobilizaçons vizinhais, essas crianças passárom a ser atendidas no centro de saúde da vila de Cangas.
Segundo expom Nores, “Cangas tem agora umha populaçom de 3712 crianças e o Sergas di que tem 4 pediatras, mas levamos desde o mês de outubro com 3 pediatras e com situaçons administrativas que às vezes acontecem, como os translados de profissionais…”. O número de crianças está extraído do último padrom municipal, polo que exigem que essa seja a cifra que a administraçom tenha em conta. “Queremos que o Sergas reconheça que há 3712 crianças e nom o número de cartilhas que maneja desde há anos. A memória que se publicou em outubro é a de 2018, entom as estatísticas nom coincidem”. Atualmente, A Voz da Sanidade tinha programada a apresentaçom de umha recolhida de assinaturas em colaboraçom com a federaçom de Ampas do concelho, mas o atual estado de alarma perante a pandémia do coronavírus levou-nas a cancelar essa atividade.
Em Cangas do Morraço, desde o mês de outubro estám com umha pediatra menos, umha das quatro deixou a sua vaga e esta nom foi coberta. Há umhas 1000 crianças sem profissional pediátrica assignada nesta vila.
Com o feche do turno de tarde, da Voz da Sanidade denuncia que umhas 1000 crianças ficam sem profissional pediátrica assignada. Nesta situaçom com essas crianças acontece que som atendidas polo resto de pediatras, quem “dos cinco dias à semana que tenhem ficam em quatro para atender as suas cotas, porque cada umha das três vai dedicar um dia à atençom dessas crianças que nom tenhem pediatra. Isso vai demorar as suas próprias cotas, e uns vam ter quatro dias ‑as que tinham designada a pediatria de manhá- e as que tinham designada a pediatria de tarde vam ter três dias à semana, polo que o atraso vai ser considerável”, expom Nores, quem exige que se cubra a vaga que ficou vacante no turno de tarde.
Soluçons políticas
A falta de cobertura das baixas e demais vagas livres em pediatria é um problema estendido polo país, especialmente agravado em concelhos do rural. Para a atençom dessas crianças que ficam sem profissional designada, segundo se desprende das declaraçons das afetadas, a administraçom costuma recorrer ao aproveitamento dos recursos humanos já existentes, ainda que fossem de outros concelhos, provocando assim um deterioramento da atençom ao público.
Carmen Nores, , presidenta da associaçom A Voz da Sanidade: “Há umha precariedade terrível, que está a cobrir-se com médicos de família com cursos de puericultura, ou algumha formaçom em pediatria mas que nom som especialistas. Tem de haver umha mudança de modelo e pôr as medidas para deixar de ir por este caminho”.
Pola sua banda, Carmen Nores acha que se trata de um problema de decisons políticas. “As pediatras que saem cada ano dos hospitais nom dam para cobrir as vagas das que vam jubilar-se nos hospitais… E em que situaçom se deixa a pediatria na atençom primária? Com umha precariedade terrível, que está a cobrir-se com médicos de família com cursos de puericultura, ou algumha formaçom em pediatria mas que nom som especialistas. Tem de haver umha mudança de modelo e pôr as medidas para deixar de ir por este caminho”, assinala Nores.
Xabier Alvedro, da CIG-Saúde de Compostela, quando é perguntado por quais podem ser as soluçons desta problemática salienta que estas passariam por “um aumento de profissionais que estudem esta especialidade, que aumentem os números de pediatria na formaçom universitária, que lhe deam umha oportunidade à pediatria de primária e que nom a castiguem como a irmá pobre da pediatria… Também que se convoquem oposiçons que sejam atrativas para cobrir as vagas que se vam ocasionando”.