Em 21 de abril, dias após umha histórica manifestaçom “em favor da oficialidade da língua asturiana e do galego-asturiano” que percorreu as ruas de Oviedo, a número dous do PSOE, a asturiana Adriana Lastra, mostrou numha entrevista em TVE o apoio do seu partido à oficialidade da língua. A resposta da vice-secretária geral ‑e hoje porta-voz socialista no Congresso- simplificou todas as mudanças que se tinham produzido na questom linguística asturiana nos últimos meses e o apoio de Ferraz à decisom da Federación Socialista Asturiana (FSA) de mudar a sua histórica posiçom contrária à oficialidade. Para além disso, o número dous do PSOE lembrou que os socialistas já tinham estado presentes na manifestaçom de 1976, que reivindicou a autonomia e a introduçom do asturiano no sistema educativo.
Quatro décadas de luita na rua
Aquela histórica mobilizaçom foi convocada por Conceyu Bable e contou com o apoiou de todas as forças democráticas. O discurso impulsionado por esta emblemática associaçom foi impregnando todo e em 1980 o Conselho Regional ‑o organismo pré-autonómico- puxo em andamento a Academia de la Llingua Asturiana. Além disso, em 1981 aprovou-se o Estatuto de Autonomia, que embora nom reconhece a oficialidade estabeleceu a promoçom do uso e o ensino voluntário. Todo isso, aliás, com um governo encabeçado por um PSOE, partido hegemónico nas Astúrias autonómica marcada pola reconversom industrial e a crise do carvom, que nom viu a necessidade de ‘asturianizar’ o seu discurso.
Apesar disto, o socialismo asturiano assumiu a proteçom da língua e o movimento de reivindicaçom linguística continuou a mostrar a sua capacidade de influência. Assim, das cinzas de Conceyu Bable surgiu a Xunta pola Defensa de la Llingua Asturiana, que em 1988 convocou a primeira manifestaçom pola oficialidade, umha convocatória que desde aquela se vem repetindo a cada primeira sexta-feira de maio, Día de les Lletres Asturianes. Todo isso apesar da influência que tivo na década de oitenta a associaçom Amigos de los Bables, grupo de pressom encabeçado por prestigiosos professores universitários que negárom a unidade da língua e que se autoproclamárom como única autoridade filológica das Astúrias.
A autonomia seguiu adiante e em 1991, o Partíu Asturianista (PAS) entrou na Xunta Xeneral, o parlamento autonómico, e na seguinte legislatura foi fundamental para dar-lhe estabilidade ao Governo do popular Sergio Marqués. No meio de todo este processo iniciou a reforma do Estatuto com fortes mobilizaçons na rua em favor da oficialidade. Além disso, muitos concelhos, encabeçados por Bimenes, começárom a declarar este marco legal dentro do seu território. Por outro lado, após ver que o PAS lhes podia comer o terreno, IU assumiu a defesa da oficialidade. Mesmo Francisco Álvarez-Cascos, naquele momento mao direita de José María Aznar, chegou a propor umha oficialidade em diferido, mas o PSOE dixo que nom.
Como resposta à mobilizaçom foi aprovada a Lei de Uso do Asturiano, que reconhece o direito da cidadania a se dirigir à Administraçom na sua língua, mas as circunstâncias políticas figérom com que o PAS saísse do Parlamento em 1999, momento em que chegou à presidência com maioria absoluta o socialista Vicente Álvarez Areces. Um líder que declarou em 2004 que as Astúrias tinham que procurar elementos de integraçom e nom de diferenciaçom, porque “tinham suficientes elementos de identidade como para nom tratar de reforçar o que nos separa dos demais”. Por enquanto, IU renunciou à oficialidade para dar estabilidade aos sucessivos governos socialistas.
O Estatuto de Autonomia aprovado em 1981 nom reconhece a oficialidade da língua asturiana mas estabeleceu a promoçom do uso e o ensino voluntário
Por outro lado, em Madrid, o executivo de José Luis Rodríguez Zapatero começou como resposta às reclamaçons catalanas umha denominada e frustrada ‘Segunda Transiçom’ que deu motivo à reforma de muitos estatutos de autonomia. O asturianismo voltou à rua, mas a pouca ênfase dos políticos asturianos no autogoverno ‑Areces chegou a declarar que a reforma do Estatuto nom formularia “questons irracionais”- e a crise económica freárom a reforma. O segundo ‘nom’ à oficialidade gerou um mal-estar no movimento asturianista enquanto a situaçom económica levava por diante editoriais, livrarias, festivais musicais e o semanário Les Noticies, único meio impresso em asturiano. Já nom havia montras em que se mostrar e começou a se falar no fim da época iniciada quatro décadas antes por Conceyu Bable.
O fim da Transiçom nas Astúrias?
A crise gerou o fim do bipartidismo e nas Astúrias tivo a sua primeira evidência com o aparecimento de Foro Asturias. O partido liderado por Francisco Álvarez-Cascos ‑que posteriormente recolheria a oficialidade no seu programa eleitoral- chegou à política com um discurso cheio de referências asturianistas e foi a principal mostra da recomposiçom em chave asturiana do sistema de partidos. Um movimento que prosseguiu em 2014 com Podemos, que foi guarda-chuva para muitos asturianistas de esquerdas. A cultura asturiana ficou assim homologada politicamente à de qualquer país europeu, com umha formaçom social-democrata e outra conservadora.
Após as eleições de 2015 na Junta Geral sentárom 17 deputados que levavam no seu programa a oficialidade (Podemos, IU e Foro). A FSA tivo que repensar muitas cousas e o governo presidido por Javier Fernández ‑que posteriormente seria presidente da gestora do PSOE- nomeou Genaro Alonso, membro da Academia de la Llingua, conselheiro de Educaçom e Cultura. Umha clara mostra de que a FSA tinha que responder a umha necessidade eleitoral, e quiçá interna.
A legislatura prosseguiu entre os ataques do PP perante qualquer avanço na normalizaçom social da língua. E é que os conservadores vírom neste tema um possível nicho de mercado que, ademais, lhes dava repercussom nos meios. Por outro lado, a partir de 2017 multitude de concelhos asturianos governados pola esquerda ‑PSOE incluído- aprovárom moçons em favor da oficialidade. Todo isso dentro da campanha ‘Conceyos pola oficialidá’, impulsionada pola Xunta pola Defensa de la Llingua. A principal associaçom asturianista também apresentou o ‘Proyectu 2018’, umha iniciativa que procura umha reforma rápida do Estatuto. À apresentaçom do ‘Proyectu 2018’ em Gijom foram, entre outros, o reitor da Universidade de Oviedo, Santiago García Granda, e a presidenta da câmara municipal da cidade, Carmen Moriyón (Foro Asturias), que previsivelmente em setembro se converterá na líder do partido.
Como resposta às mobilizaçons na década de noventa foi aprovada a Lei de Uso do Asturiano
Por outro lado, em outubro do 2017, após vários movimentos internos, o XXXII Congresso da FSA aprovou incluir a reivindicaçom da oficialidade dentro do seu ideário. Foi um momento histórico para o asturianismo e o maior exemplo da mudança geracional de umha FSA dividida por esta questom entre a ‘velha FSA’ ‑Governo asturiano e grupo parlamentar‑, contrário ao discurso identitário, e a ‘nova FSA’, encabeçada por Adrián Barbón, afim a Pedro Sánchez e que conta com a aceitaçom da militância. Barbón parece ter assumido o discurso e comprometeu-se a abordar umha oficialidade “amável” na próxima legislatura.
O movimento de revindicaçom é consciente do que significa esta mudança e saiu à rua com mais força do que nunca. Assim, o dia 21 de abril deste ano, 30.000 pessoas respondérom ao chamado da Xunta pola Defensa de la Llingua. Foi a maior manifestaçom da história e enquanto a faixa principal chegava à Praça da Catedral os últimos grupos ainda saíam da ovetense Estaçom do Norte, ponto de início da marcha. Como novidade, pola primeira vez desde 1976, umha representaçom oficial da FSA participou na mobilizaçom.
Em 2017, na campanha ‘Conceyos pola oficialidá’ pola Xunta pola Defensa de la Llingua, multitude de concelhos asturianos governados pola esquerda -PSOE incluído- aprovárom moçons em favor da oficialidade
A manifestaçom foi capa em todos os periódicos asturianos e muitos meios de fora das Astúrias se figêrom eco da notícia. Mesmo muitas televisons afins à direita aproveitárom o apoio do PSOE asturiano à marcha para criticar, no meio do conflito catalám, a permissividade do ‘sanchismo’ com os nacionalismos periféricos. E é que atualmente só se oponhem à oficialidade as forças da direita mais reacionária, que utilizam o conflito catalám para alertar do que poderia passar nas Astúrias de se declarar a oficialidade.
Está por ver como o fogo amigo gerado polo procés, a chegada de Pedro Sánchez ao Governo espanhol e a crise do PP após a sentença da ‘Gürtel’ influem na questom linguística asturiana. Apesar de todo, o atual presidente espanhol declarou meses antes da moçom de censura o seu apoio à decisom da FSA de se somar à reivindicaçom da oficialidade e as palavras de Adriana Lastra parecem incidir nessa posiçom. Fica menos dum ano para as próximas eleiçons autonómicas e também para saber qual vai ser a soluçom a um assunto pendente desde o início da Transiçom, mas isso, na atual conjuntura política espanhola e apesar das quatro décadas de reivindicaçom continuada, parece um mundo.