A chegada da pandemia desbordou a sanidade e pujo acima da mesa um problema que vem de longe: os cortes efetuados desde 2008 enfraquecerom um sistema sanitário público que rebenta polas costuras.
“Para compreender a situaçom atual, cumpre termos umha visom alargada. A chegada da covid volcou todos os esforços hospitalares e supujo umha parada no resto do sistema sanitário: provas, intervençons cirúrgicas e atençom primária forom adiadas. Agora que parece que a covid passa a um segundo plano, há que reprogramar e atender operaçons, provas e pacientes com doenças crónicas que nom tiverom atençom. E que é o que acontece? que a atençom primária desborda; entom os pacientes acodem às urgências, o que provoca um colapso dos hospitais”. Assim descreve a situaçom atual a enfermeira do hospital de Ourense Núria González, integrante de Enfermeiras Eventuais en Loita, e continua: “No hospital de Ourense existem as plantas de sobre-aforo, uns andares que abrem e fecham segundo as necessidades; forom criadas para momentos de pressom hospitalária e servem para as empregar segundo as necessidades que tenhamos. Nom fecharom nem um só dia! foi necessário tê-las sempre abertas. No nosso hospital os principais problemas som estes: urgências colapsadas e o sobre-aforo, doentes queixando-se constantemente e com toda a razom; mas quem sofremos as queixas somos as profissionais que estamos em primeira linha e pouco podemos fazer”.
“No nosso hospital os principais problemas som estes: urgências colapsadas e o sobre-aforo, doentes queixando-se constantemente e com toda a razom; mas quem sofremos as queixas somos as profissionais que estamos em primeira linha e pouco podemos fazer”
Entretanto, o pessoal profissional sanitário entrevistado polo jornal coincide em denunciar que a atitude da Consellería de Sanidade, em maos de Julio Garcia Comesaña, é a de ignorar as queixas destes coletivos e continuar com a política de cortes e de pecariedade laboral das sanitárias, o que repercute diretamente na atençom prestada às pessoas usuárias.
O coletivo Enfermeiras Eventuais en Loita tem contabilizado a ratio por pessoal de enfermagem no país: na Galiza há cinco enfermeiras por cada mil habitantes, o que nos sitúa como a terceira comunidade com a pior cifra do Estado Espanhol, que aliás está no fim da fila na Europa em ratio por pacientes.
“A atençom primária desborda; entom os pacientes acodem às urgências, o que provoca um colapso dos hospitais”
Alice Afonso, fisioterapeuta, destaca como problema mais grave no seu sector os tempos nas listagens de espera, que impedem profissionais desta especialidade sanitária atenderem com qualidade pacientes, cousa que complica e cronifica doenças que poderiam ser resolvidas se fossem atendidas nos tempos que exige a especialidade: “há patologias leves, como podem ser cervicalgias ou escordaduras que se cronificam; hai um ano no centro de atençom primária onde trabalhava as listagens de espera chegarom a três meses, quando nunca tinham de ter superado a semana, que já é muito. O mínimo que se tardava em citar um paciente era um mês e de aí para a frente. Agora que se supom que a pandemia recua e a cousa teria de ir a melhor, os tempos em que se move a atençom primária no meu campo som mui similares”.
Afonso aponta que isto repercute diretamente na qualidade do serviço: “há que reconhecer que prestamos um serviço de mui pouca qualidade, nom porque nom queiramos os físios, mas o número de pacientes que atendemos por hora é elevadíssimo: nom baixa de cinco pessoas, e assim nem te podes parar nem te dedicar ao que deves”.
A atitude da Consellería de Sanidade, em maos de Julio Garcia Comesaña, é a de ignorar as queixas destes coletivos e continuar com a política de cortes e de pecariedade laboral das sanitárias
Neste sector em concreto, estas listagens de espera obrigam as pessoas usuárias a recorrerem à fisioterapia em centros privados mas, como assinala Alice, isto afunda as fendas sociais: “muita gente nom se pode permitir pagar fisioterapeutas privados. Falo do caso das pessoas migradas, que chegam num estado bastante lamentável por nom terem recursos para pagarem um físio privado; vam assim dando tumbos por médicos diferentes, já que com as intersubstituiçons nom é provável que as atenda o mesmo profissional; e recebem também tratamentos com medicamentos diferentes, sem serem resolvidos problemas que num início nom som complicados nem graves (como contraturas, por exemplo) mas que se se cronificam (como acontece ao final) reduzem muito a sua qualidade de vida”.
O Serviço Galego de Saúde (Sergas) está desbordado, quer hospitais quer centros médicos sofrem a diário colapsos que sobardam o pessoal sanitário e provocam umha má atençom a pacientes. Ainda que há meses que a covid remete, a situaçom de colapso continua.
Desde a Asociación Galega de Medicina Familiar e Comunitaria (AGAMFC) denunciam que os médicos de família começam jornadas com agendas cheias de pacientes para atenderem de maneira telefónica e presencial. Umha média de 40 pacientes diários a que ao longo do dia devem ser somadas as urgências do centro de saúde e as consultas forçadas. Há médicos de familia que batem recordes: até 60 pacientes num dia só. As mesmas cifras que durante as vagas da covid… Isto fai com que os centros de sáude se desbordem e se encham as urgências hospitalares. Tanto o pessoal administrativo como o médico dos centros de atençom primária vivem num estrese constante que, longe de desaparecer, também se cronifica, fruito das queixas de usuárias e do sobre-esforço laboral. Muitos destes profissionais, constatam desde a AGAMFC, sofrem ataques de ansiedade e tenhem que recorrer a antidepressivos e ansiolíticos para suportarem as jornadas laborais nos centros de saúde.
Desde a Asociación Galega de Medicina Familiar e Comunitaria denunciam que os médicos de família começam jornadas com agendas cheias de pacientes para atenderem de maneira telefónica e presencial
Entretanto, desde a Consellería de Sanidade esforçam-se em asseverar que as listagens de espera nom superam os 4 dias e que a situaçom irá melhorando nos próximos meses. Mas desde a CIG-Saúde ou a Plataforma en Defensa da Sanidade Pública afirmam que as listagens de espera continuam a ser as mesmas que na quinta vaga da covid e que o Sergas continua desbordado por causa da política de desmantelamento e privatizaçom do PP.
A atençom primária gravemente afetada
Jesús Sueiro, médico de família e porta-voz da Asociación Galega de Medicina Familiar e Comunitária, destaca “a precariedade absoluta da atençom primária” e localiza a causa do problema: “nom som cubertas as jubilaçons, as novas contrataçons som por dias soltos e os quadros de pessoal dos centros estám mui reduzidos. Há muito tempo que tínhamos o convencimento do importante que era ter um mesmo médico de familia ao longo da vida dos pacientes na saúde dos mesmos, mas um estudo acaba de demonstrar que manter um único médico de família reduze até 30 por cento a mortandade. Se isto o conseguisse um fármaco seria titular em todos os meios! Só com preencher as vagas estruturais aumentaria muitíssimo a qualidade de vida da populaçom. A Conselharia sabe‑o, mas nega-se a contratar pessoal”.
Sueiro destaca também o empioramento de saúde mental dos pacientes, que repercute também na saturaçom da primária: “nos últimos anos aumentou muitíssimo o consumo de antidepressivos e ansiolíticos. A populaçom sofreu muitíssimo: gente despedida, teletrabalhando com cargas familiares, mortes de seres queridos por covid… Atender estes pacientes também supom umha sobrecarga e a saúde mental é a eterna esquecida”. Sentencia Sueiro.
A pandemia serviu para evidenciar anos de cortes de orçamento num serviço essencial e a radiografia do Sergas após a covid é a seguinte: desmantelamento de centros de saúde no rural, médicos/as de família a atenderem diariamente mais de 50 pacientes, urgências hospitalares ultrapassadas e pessoal sanitário a trabalhar em precário
Manolo Moreiras, porta-voz de SOS Sanidade Pública e Secretário Geral de CIG-Saúde afirma que a sanidade pública está em grave perigo: “nem sequer se recuperou o equilíbrio inestável de antes da pandemia. Devemos entender que ou se aposta por reforçar o papel da atençom primária ou já estamos num ponto de difícil retorno. E acrescenta: “A pandemia serviu para demonstrar a incapacidade de gestom do Sergas”, e aponta os datos falseados com que trabalha a Consellería de Sanidade quando publica as listagens de espera: “nom som calculados de maneira estrutural, esse é o problema real: fai-se um cálculo da média de tempo que um paciente está nesta listagem para ser atendido, mas cada vez há mais pessoas que nem se incorporam à listagem porque estám à espera de serem chamadas. Estas pessoas já nem som contabilizadas. Nós o que pedimos é que sejam contabilizadas e também sabermos o tempo real desde que é comunicada umha sintomatologia clínica na primária até que esta é resolvida com provas ou intervençons. E isto nom o sabemos. Há um obscurantismo tremendo”.
Tanto Sueiro coma Moreiras coincidem em que a Galiza mostra, aparentemente, quotas aceitáveis de médico por paciente (sobre os 1200–1300 pacientes por profissional médico, o que supom a atençom de 25–30 pacientes diários por facultativo), mas a realidade é bem diferente: ao nom serem cubertas as baixas ou as reformas, os facultativos tomam para si pacientes de médicos de baixa e acabam duplicando a sua quota.
Precaridade laboral
Núria González qualifica a situaçom laboral das enfermeiras como “precariedade absoluta”. “O sergas nom prevê nem as nossas férias. O nosso período para colhê-las som 4 meses: de junho a setembro. Em Ourense em vez de fazer contratos de substituiçom após este período e deixar a umha ou duas enfermeiras num mesmo centro como muito fai contratos de quinze dias , e muitos de um só dia. Assim é impossível dar umha boa atençom, nom te podes especializar em nada se sempre trocas, ademais do stresse que supom a rotaçom. Eu levo 12 anos no SERGAS, e desde entom levo acumulados 599 contratos”.
A situaçom de Núria é comum nas enfermeiras, e da plataforma enfermeiras eventuais em luita denunciam o funcionamento das listagens: “ se estás doente e estás nas listas ou rompeste algo nom podes dizer que nom vás trabalhar porque és automaticamente expulsa”.