Já desde Platom, a elite desprezou a intervençom política das massas alegando que nelas dominava a paixom sobre a razom. A incapacidade da chusma ante a complexidade do mundo e mais a sua pulsom polo imediato está detrás da ideia tecnocrática e da salgalhada populista.
Na década de 90 do século XX, Christopher Lasch deu a volta à equaçom: as elites som quem ameaça a democracia devido ao seu isolamento, à sua corruçom moral e ao seu desdém pola sorte dos mais. A financiarizaçom é a base material que permite a separaçom entre elite e povo. O contributo minguante do mundo do trabalho ao PIB dá a medida do prescindíveis que som os trabalhadores no presente.
A expansom global da Covid-19 – e a recessom que anuncia – volta a pôr no centro a conceçom da sociedade como um todo. Os danos que causará o vírus som tam grandes que as elites que fam demasiada gala da putrefaçom moral apontada por Lasch (Trump, Bolsonaro, Abascal etc.) aparecem como aberrantes.
Os danos que causará o vírus som tam grandes que as elites que fam demasiada gala da putrefaçom moral apontada por Lasch (Trump, Bolsonaro, Abascal etc.) aparecem como aberrantes.
Mas quer isto dizer que o mundo pós-pandemia será um lugar melhor para os povos da Terra? Nom o parece. Problemas como o da crise climática serám intensificados e nada indica que as elites vaiam renunciar ao seu programa separador, manipulando as massas através do “salve-se quem puder”, do esvaziamento das democracias liberais, do uso do Estado como Leviatám biopolítico e da recuperaçom de ideias como a renda básica, entendida como caridade para a gestom do mal-estar da populaçom sobrante em tempos de robotizaçom.
No contexto do fracasso da revoluçom socialista mundial que anunciara a irrupçom das massas em 1917, Gramsci considerou o fordismo como um jeito de “revoluçom passiva”. Esta categoria tem para o sardo o significado de revoluçom feita desde acima, de gatopardismo para sobrevoar as épocas de perigo para o statu quo. Com as ideias de Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi sobre os ciclos de hegemonia mundial em mente, a expansom do fordismo que integraria as massas trabalhadoras ocidentais no sistema constitui a expressom económica dos tempos culminantes da hegemonia dos EUA. O período posterior, definido polo There Is No Alternative, é, paradoxalmente, o da decadência dessa hegemonia e o do auge doutras potências aspirantes a ser novos hegemons (China).
Ora bem, será capaz o capitalismo de mudar em algumha cousa que permita umha nova “revoluçom passiva”? A priori, dado que o modelo financeiro está tecnicamente morto e que a crise energética imposta polos limites físicos do planeta nom parece permitir umha nova época dourada de capitalismo baseado na economia material, em que poderá reinventar-se este sistema? Alguns pensam no Green New Deal como nova revoluçom passiva, mas se partimos da hipótese provisória de o capitalismo ser incapaz de funcionar sem destruir a natureza gravemente, nom caberá esperar, mais bem, umha profundizaçom da separaçom das elites que as ponha a salvo das consequências da mudança climática?
Dado que o modelo financeiro está tecnicamente morto e que a crise energética imposta polos limites físicos do planeta nom parece permitir umha nova época dourada de capitalismo baseado na economia material, em que poderá reinventar-se este sistema?
Frente a isto, as massas deveriam irromper de novo com um programa encaminhado a salvar-se a si próprias e, o que é o mesmo, a salvar o metabolismo do planeta Terra. O Green New Deal responderá realmente ao que na teoria promete se as massas encarnam umha nova ideia de desenvolvimento baseado na desglobalizaçom da produçom, na distribuiçom do trabalho e na reformulaçom do necessário e do acessório; um programa guiado, em suma, pola ideia formulada há bem anos polo último Enrico Berlinguer: a austeridade democrática.