Chegou o outono e, com ele, um monte de oportunidades didáticas, de elementos interessantes a trabalhar com as crianças; desde o descobrimento dos processos de mudança e renovaçom no meio natural, até os factos culturais que, em forma de ritos e tradiçons, venhem celebrar a renovaçom que toda morte comporta.
O outono também dá pé a debates sobre como abordar as celebraçons próprias deste tempo, pois ás vezes, por um afám protetor excessivo, contribuímos para desvirtuar todo esse significado profundo que subjaz as celebraçons tradicionais que, chegado novembro, a cultura galega tem gerado arredor do facto funerário. Igual que caem as folhas para facilitar que as árvores medrem viçosas na primavera ou que as terras repousam por baixo das geadas durante uns messes para oferecerem-se nutrícias após a Candelória, o frio e a escuridade obrigam ao recolhimento e a lembrarmos quem já nom está connosco.
Os povos compugérom as suas estratégias para encher as ausências dos seres queridos através de ritos; as nossas devanceiras encontrárom acougo as suas perguntas transcendentes na natureza, que, de jeito cíclico, morre para renascer exuberante e a morte, presente como facto quotidiano na vida das mulheres e homes que nos precedêrom, é entendida como a amiga que deve ser convidada à festa.
Este significado profundo das festividades que dam começo com a cristianizada noite de defuntos o 31 de outubro, vem a ser ultimamente alvo de fetichismo e reducionismo ao mais superficial, ao mero elemento lúdico e mercantil.
Mesmo tentativas laudáveis como a recuperaçom da Festa dos calacus ou, com o nome que obtivo mais sucesso, o céltico Samaim, correm o risco de serem completamente absorvidas polo seu equivalente anglo-saxom, o Halloween, com quem compartilham origem na cultura agrária europeia, mas que chega até nós já absolutamente mercantilizada e deturpada.
Vivemos de costas à morte e à natureza, e os ritos outrora associados ao ciclo de defuntos aparecem-se-nos agora como simples entretimento lúdico, por isso som tam facilmente substituíveis por referentes importados, também resignificados polo mercado. Como alerta o antropólogo Rafa Quintiá, preocupamo-nos de manter as nossas crianças à margem do ato mortório e nom temos reparo em fantasia-las de serial killers ou violadores saídos dos filmes de Hollywood.
Se queremos, como é o espírito das escolas Semente e de tantos coletivos, educar no amor pola natureza e a cultura próprias, devemos ter claro este significado profundo do conjunto de celebraçons que formam parte dum mesmo ciclo que nom remata até o Entruido, um ciclo funerário onde as vivas dialogam de forma amigável com as defuntas. Celebrarmos o Samaim, o Magusto ou a Festa das Ánimas tem sentido quando o contextualizamos dentro desse ciclo mítico que o vincula com a sua origem ancestral, que existiu na nossa cultura até nom há muitos anos. Mas isso comporta integrar a morte, restituir o seu papel protagonista nesta festa, sem medo de traumatizar as crianças, que adoitam aceitá-la com naturalidade, como umha convidada mais.