
Brais González Arribas é Licenciado em Filosofia pola USC, Doutor em Filosofia pola UNED com tese sobre o pensamento de Gianni Vattimo, investigador de Hercritia, Cátedra internacional de hermenêutica crítica e professor de ensino meio.
A temática de que trata o teu ensaio breve “Sobre a eutanásia. Quando decidir que uma morte é vital”, publicado em 2018 por Através editora, vem de estar de atualidade no período prévio à irrupçom da pandemia, dada a aprovaçom de leis para a regulamentaçom da morte assistida tanto no parlamento português quanto no congresso do Estado espanhol. Como valoras esses recentes processos legislativos?
Sim, a publicaçom de “Sobre a eutanásia” respondeu à necessidade de reflexionar de um modo mais pausado sobre umha questom que estava a ser debatida nos parlamentos ibéricos e à qual, em geral, a cidadania costuma achegar-se cheia de preconceitos. Ainda que no ensaio analisam-se argumentos arredor da adequaçom ou nom da regulamentaçom da morte assistida, afinal há umha clara tomada de posiçom sobre a sua necessária despenalizaçom, polo que nom podo mais do que celebrar estar a piques de se conseguir ter acesso a um novo direito que, por desgraça, para muitos cidadaos torna, paradoxalmente, num assunto vital. Nos projetos de lei apresentados acha-se em falta a abordagem dos casos mais espinhosos que nos Estados onde a morte assistida tem sido legalizada há anos, caso de Holanda ou Bélgica, já tenhem incluído na legislaçom, como som os que afetam a menores de idade ou a pessoas com patologias mentais. Neste sentido, os projetos espanhóis e português som mais conservadores e menos arriscados do que os citados.
Em “El acontecimiento de nuestro tiempo”, sustés que a irrupçom da pandemia pode ter feito patente a incapacidade humana de submetermos tudo ao controle tecno-científico das sociedade ocidentais. Isto vencelha-lo à sobreexploraçom agro-industrial do meio enquanto provável causa da pandemia de SARS-CoV‑2. Até que ponto e em que sentido, as nossas formas de vida e o sistema económico que as alicerça, podem ter sido responsáveis desta crise sanitária? Quais as saídas possíveis?
Ainda que cumpre ser cautas à hora de assinalar as causas diretamente responsáveis da emergência e difusom da pandemia do SARS-CoV‑2, cuido que chegados a este ponto é possível assinalar vários elementos, relativos ao comportamento do ser humano, e que se inscrevem no marco do capitalismo como sistema sócio-económico hegemónico, aos que podemos atribuir um importante papel na hora de dar umha resposta satisfatória à pergunta. A perda de biodiversidade, a deflorestaçom acelerada, a extensom de agro-indústria e o comércio de fauna selvagem, e com certeza o aquecimento global, som problemas que estám diretamente relacionados com a açom predatória do capitalismo sobre os ecossistemas. Polo que estamos perante umha crise sanitária que é sobre todo ecológica, com o que a única saída razoável é o desenvolvimento de políticas ecologistas radicais e a grande escala.
“Estamos perante umha crise sanitária que é sobre todo ecológica, com o que a única saída razoável é o desenvolvimento de políticas ecologistas radicais e a grande escala”
Advertes do perigo que supom ter um excesso de confiança no Estado, dando pé a umha ampliaçom da sua potestade e a maior vigilância da populaçom. Reparas também no risco do distanciamento social reforçar um capitalismo digital baseado no teletrabalho e o telemarketing, e no entanto, na importância das empresas tecnológicas como nova forma de poder disciplinar e nom democrático sobre os corpos. De que modo achas que podemos reagir diante disto?
Nom sou muito otimista em relaçom à capacidade da cidadania para se resistir às novas formas de domínio e aos processos de valorizaçom e obtençom de mais-valia que se estám a desenvolver no capitalismo no seu estágio atual, da vigilância ou de plataformas. O certo é que as grandes ganhadoras da extensom da pandemia fôrom as grandes empresas tecnológicas, cujo modelo de negócio corresponde-se com umha certa ideia do que as sociedades contemporâneas concebem como progresso: a civilizaçom ligada à proliferaçom de novas tecnologias digitais. A resistência perante a extensom da razom instrumental e do necessitarismo tecnológico apenas pode provir da tradicional recomendaçom filosófica de esforçar-se por trabalhar para proliferarem subjetividades críticas, que possuam a capacidade de análise suficiente como para ser conscientes nom só das vantagens que as tecnologias fornecem senom também dos inconvenientes que trazem.

Se bem na tua linha de investigaçom desenvolvida em trabalhos recentes como “Vir a menos. Crítica da razón nihilista”, publicada em 2019 por Axóuxere, costumas enquadrar-te na proposta de “pensamento débil” do filósofo G. Vattimo, abriste ultimamente umha outra linha arredor da variante do “realismo especulativo”, denominada Ontologia Orientada aos Objetos. A que se deve esta viragem, tendo em conta as reservas que o próprio Vattimo guarda diante das pretensons de reabilitar umha filosofia de corte realista?
O certo é que a conexom entre o pensamento debolista e a OOO existe ainda com o que cumpra considerar a primeira vista. O caráter realista de Harman ou Morton é relativo, na medida em que tem um sentido mais ontológico do que epistemológico. É dizer, nom defendem tanto que seja umha tarefa do conhecimento humano dar conta da realidade tal e como é, tal que se existisse umha realidade independente da açom ou do pensamento humano. Ademais, como herdeira do heideggerianismo, quanto também o é o debolismo, afirma que os objetos nunca se apresentam tal e como som, pois o seu modo de aparecerem nom os esgota. Essa defesa da diferença óntica, unida à crítica do literalismo e a sua oposiçom ao antropocentrismo, essencial para a fundamentaçom de umha ética ecológica, som aspetos que também tem em comum com a hermenêutica débil.