Dei muitas voltas ao artigo com que me queria estrear neste meio e acho que o mais interessante que podo achegar a um público na sua maioria branco é o desglosamento da minha realidade, da realidade das outras. O racismo é um tema que muitas vezes esquecemos nas assembleias, nos congressos, na vida quotidiana. Assumimos que nom somos racistas, que somos antifas e, portanto, que todo nazi será vetado nos nossos círculos, mas ninguém pensa que ser antifa nom significa ser antirracista, enquanto que ser antirracista sempre implica umha luita anticolonialista (que abrange todo o nosso sistema estrutural capitalista).
O ponto chave do assunto é que, enquanto tu podes escolher, nós, migrantes, racializadas, negras etc., apenas polo facto de existir já somos resistência. Somos opositoras natas do sistema. O único jeito que temos para nom estorvar é alienar-nos e, ainda assim, pola nossa aparência, seguiremos a ser incómodas para esta, a nossa sociedade moderna. Dito isto, direi que o antirracismo incomoda. A nossa realidade e existência exigem um olhar ao espelho por parte das pessoas eurobrancas. E ninguém gosta de que lhe movam os ideias.
Enquanto tu podes escolher, nós, migrantes, racializadas, negras etc., apenas polo facto de existir já somos resistência.
Há muitos séculos, um senhor rimbombante colonizou as nossas terras, descobriu que nelas havia ouro e pedras preciosas e, sobretodo, mao de obra de balde. O senhor começou o que seriam séculos de escravatura indígena e negra na Europa, levando dum continente a outro milhares de nativos. Se isto nom avondava, um grupo de senhores uniu-se para falar das condiçons de vida destes novos espécimenes e debatérom sobre temas tam profundos como se o de pele mais clara tinham a metade de alma que eles, ou se os negros por ser tam negros nom tinham alma nengumha. Depois de barrenarem nesse debate, figérom umha lavagem de cara com as Leis de Índias.
Seguimos a arrastrar as dinâmicas coloniais e, graças à conversom desses nativos há séculos, tamém as reproduzimos quem nascemos nesses territórios colonizados.
Estas leis surtírom efeito e os escravos mais claros de pele tivérom umha escravidom “mais cómoda” que os escravos negros. Todo isto estivo justificado na história colonial pola necessidade de manter a cristandade como eixo da vida do homem. Porque, claro, respeitavam o direito consuetudinário indígena sempre e quando nom se opugesse aos princípios cristaos ou ao estabelecido nas leis hispânicas e, obviamente, ao uso das pessoas negras. Desta maneira, os colonos começárom a cristianizar os indígenas e, graças a isso, acabárom com toda construçom da sua identidade. Desumanizárom os indígenas para os poderem modelar com as suas doutrinas religiosas.
De volta a 2020, seguimos a arrastrar as dinâmicas coloniais e, graças à conversom desses nativos há séculos, tamém as reproduzimos quem nascemos nesses territórios colonizados. O colorismo (a discriminaçom pola cor de pele), a estigmatizaçom, os estereótipos, a propaganda política (implícita ou explícita) nos meios de comunicaçom, o individualismo e a aceleraçom da globalizaçom fai com que haja cada vez mais rejeitamento à alteridade ou, no seu defeito, mais roubos do nosso discurso para fazer umha lavagem de cara das instituiçons públicas e das organizaçons políticas. Parece que fai falta umha breve (ou nom tam breve) introduçom ao racismo para todes.