Há umhas semanas tivem a oportunidade de ver o documentário Zauria(k). Loucura, Corpo, Feminismos, de Maier Irigoien, Isabel Sáez Pérez e Iker Oiz Elgorriaga, que narra as vivências de nove mulheres ligadas à saúde mental direta ou indiretamente. Depois de ver o documentário, sinto que algumha cousa se moveu no meu interior, que me desconcertou, e penso que para melhor. Depois desta sensaçom de desconcerto o que me invade é agradecimento e admiraçom. Tanto por quem se atreveu a expor os seus pensamentos e a sua história de vida como por quem chegou à conclusom de que é importante visibiliza-lo e difundi-lo. Porque é real. Porque acontece. Porque está aí, ainda que nom o queiramos ver.
E depois de todo isto, surgem-me automaticamente, como se de um interruptor se tratasse, dezenas de perguntas. Quem tem a faculdade para definir o que é “o normal” e o que nom o é? Com que critérios? Quem determina o que é um bom estado de “saúde mental”? Com que parâmetros? Porque é utilizada como base a medicalizaçom para a “cura” da pessoa? Porque os tratamentos e os processos de intervençom som, em muitas ocasions, tam violentos e desrespeitosos? E assim estivem durante um longo espaço de tempo até chegar à conclusom de que realmente todo está organizado polo sistema de que as pessoas fazemos parte. Um sistema que invisibiliza todas aquelas que saem fora da norma. Nom se está completamente dentro, mas tampouco se pode sair. Fazes parte das margens.
Um dos coletivos que se vê completamente subvalorizado por parte desta normativa, que além disso é capitalista, heteropatriarcal, neoliberal e colonialista, som as mulheres. Porque somos nós quem assumimos duplas cargas: no público e no privado, porque no-lo impugérom. E ainda por cima, querem-nos caladas, silenciadas, submissas, e se nom o conseguem somos umhas loucas às quais há que encerrar e dar medicaçom. Simplesmente porque nom cumprimos o que se aguarda que sejamos na sociedade. Ou, talvez, por umha cousa muito mais simples: porque estamos fartas de aguentar tanto. De sofrer tanto. Ensinárom-nos que o sofrimento fai parte do amor, mas é mentira. E ensinárom-nos que sofrer é umha cousa má, mas eu penso que isso também é mentira. Como di umha das protagonistas, sofrer é necessário. É um sentimento mais, mas desgraçadamente está patologizado, porque é melhor para o sistema, para que se siga mantendo. Felizmente, existe um movimento que tenta combater todo isto: o feminismo.
O feminismo luita por todas aquelas mulheres que, por quererem realizar um caminho diferente, por pensarem diferente, por sentirem diferente, por terem umhas capacidades diferentes ou um corpo diferente, por se rebelarem contra o que se di que é correto fomos tachadas, insultadas, subvalorizadas e silenciadas durante toda a nossa história. Também na atualidade. Por isso, é importante darmo-nos voz, dar-lhes voz. E este documentário consegue‑o.