
O semanário A Nosa Terra renasce em 1977 (em 2 de dezembro, o seu número zero) com umha entrevista a página inteira de Ricardo Carvalho Calero: ótima a sua pessoa para simbolizar mesmamente umha continuidade histórica, a do nacionalismo moderno com o de pré-guerra, para além de reconhecer na sua trajetória a importância de umha obra vocacionada, toda ela, a representar e dignificar a cultura da Galiza. Em 1981, a Sociedade Cultural Medúlio, de Ferrol, é a primeira entidade que organiza umha homenagem para o escritor, um ano após à jubilaçom da sua cátedra universitária. Já antes, no ano 1977, muitas associaçons culturais vinculadas ao movimento nacionalista galego propugérom Carvalho Calero para presidir a Real Academia Galega: de toda a corporaçom era o que reunia méritos, capacidade e serviço à língua e à literatura galegas mais que provados para ostentar tal representaçom.
Quero indicar com estas evocaçons que para o nacionalismo galego e, em concreto, para o Bloque Nacionalista Galego, a pessoa e a obra de D. Ricardo sempre merecêrom nom só o reconhecimento devido senom a ânsia por enaltecer e divulgar o seu discurso por todo o país, labor que se traduziu em milhenta de atos, palestras, jornadas… que ele sempre secundou com toda a generosidade e oferecendo o melhor de si, como escritor, orador, historiador da literatura, lingüista… Fôrom claras e rotundas, v.g., as suas análises sobre o regime constitucional e as limitaçons repressivas que impunha ao desenvolvimento da língua galega.
Nada raro, pois, que na primavera de 1986, o BNG acordasse solicitar-lhe ser o candidato para as eleiçons ao Parlamento Europeu que se celebravam pola vez primeira no Estado espanhol. Os transmissores desta solicitude fomos Francisco Pillado (coautor, com Fernán Vello, do livro de memórias dialogadas que aparecerá aquele mesmo ano) e umha servidora, ex-aluna e discípula dele e com trato assíduo naquela sua derradeira década de vida. Ainda que prevíamos a resposta, nom deixamos de lhe formular a petiçom com todo o afám. Ele agradeceu vivamente a proposta e razoou a negativa com argumentos que já nos eram familiares, pois conhecíamo-los por outros depoimentos que realizara. Mais tivo um cuidado extremo em esclarecer como a sua posiçom individual (a sua declarada inépcia para o desempenho de umha representaçom política) nom significava, em absoluto, apoliticismo ou atitude anti-política. Tudo o contrário. Surpreendeu-nos a boa informaçom que possuía da atualidade, o bem que tinha situado os tírios e troianos no quadro político daquela, a sua sagacidade, em fim.
Nom nos surpreendeu, em troca, ‑pois bem o sabíamos‑, a clareza do seu ideário político e a sua posiçom política: autodeterminista, nacionalista galego; partidário de o povo galego poder expressar livremente o seu destino; longe de qualquer neorregionalismo autonomista; leal, com certeza, à ideologia e à prática política e social no nacionalismo que confluiu no Partido Galeguista de 1931 que ele cofundara. Claro que aquele galeguismo em nada se parecia ao que ele denominava galeguismo de nome e de nómina dos tempos modernos…