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Compostela propom umha ‘taxa’ turística para paliar a sobreturistificaçom

por
elena mar­tín

É 20 de no­vem­bro em Compostela e vai sol. Diante da fa­cul­dade de me­di­cina, a pou­cos me­tros da ca­te­dral, duas es­tu­dan­tes con­ver­sam: “Penso que hoje é a pri­meira vez em me­ses que nom vejo quase tu­ris­tas na praça da Quintana”, di umha de­las. “Sim, e ainda bem!”, ex­clama a outra.

Em agosto de 2022 a si­tu­a­çom era dis­tinta. Coincidindo com a Peregrinaçom Europeia de Jovens Católicos ‘22, e com um du­plo Ano Santo —pror­ro­gado polo Vaticano de­vido à pan­de­mia da Covid— Compostela vi­veu um dos mo­men­tos de maior afluên­cia de pe­re­gri­nos até a data. Segundo a es­ta­tís­tica da Oficina do Peregrino, desde 2010 até 2022 a che­gada de vi­a­jan­tes fa­zendo o Caminho de Santiago au­men­tou em 60%. Em con­creto, pas­sou-se de mais de 272 mil Compostelas ou­tor­ga­das em 2010, a mais de 438 mil em 2022. Um cál­culo que, por ou­tra banda, deixa fora os vi­si­tan­tes que nom che­gá­rom fa­zendo a Rota Jacobeia.

Em 2023, esse “re­corde de afluên­cia ” con­ti­nua a ba­ter-se num 2% mais de vi­si­tas do que em 2022. Já no ano pas­sado, os efei­tos deste au­mento no nú­mero de vi­si­tan­tes criá­rom um es­trés que se fixo pal­pá­vel, so­bre­todo, em in­ter­net. Esse ve­rao, as re­des en­ché­rom-se de ví­deos onde se po­diam ver gru­pos de pes­soas a en­tra­rem em Compostela com cán­ti­cos, ber­ros e ban­dei­ras. E com co­men­tá­rios de vi­zi­nhas quei­xando-se por esta situaçom.

“Nós es­ta­mos con­ven­ci­dos de que o tu­rismo é umha parte muito im­por­tante da eco­no­mia desta ci­dade, mas tem que con­vi­ver tam­bém com a vi­zi­nhança”, co­menta Míriam Louzao, con­ce­lheira de Turismo

Nós es­ta­mos con­ven­ci­dos de que o tu­rismo é umha parte muito im­por­tante da eco­no­mia desta ci­dade, mas tem que con­vi­ver tam­bém com a vi­zi­nhança. Há que fa­zer po­lí­ti­cas fo­ca­das na sua qua­li­dade de vida”, co­menta Míriam Louzao, con­ce­lheira de Capital Cultural, Turismo, Educaçom e Memória Histórica do Concelho. “Nesse sen­tido sim que en­ten­de­mos que há que to­mar umha sé­rie de me­di­das, por­que é certo que te­mos de­tec­tado que o im­pacto ne­ga­tivo do tu­rismo nas ha­bi­tan­tes de Compostela está mui con­cen­trado nuns de­ter­mi­na­dos me­ses do ano e nuns de­ter­mi­na­dos es­pa­ços da cidade”.

Para Louzao, é falso que exista a cha­mada ‘Turismofobia’ em Compostela e que esta si­tu­a­çom se pode re­ver­ter para as ha­bi­tan­tes da ci­dade vi­ve­rem me­lhor. “A ci­da­da­nia com­pos­telá, em re­a­li­dade, nom vê o tu­rismo como algo ne­ga­tivo. Há pes­soas, bas­tan­tes, que mesmo tra­ba­lham no sec­tor do tu­rismo. É um sec­tor im­por­tante. Mas sim que há de­ter­mi­na­das ques­tons que co­me­çam a criar umha mo­lés­tia que es­ta­mos a tempo de ata­lhar para nom se con­ver­ter num pro­blema”, co­menta Louzao.

Desde o con­ce­lho, bus­cando frear esta si­tu­a­çom, a co­me­ços deste ano pro­pújo-se ins­tau­rar na ci­dade a co­nhe­cida como taxa tu­rís­tica —umha me­dida que já se apro­vou nou­tras vi­las tu­rís­ti­cas eu­ro­peias como Venezia, Porto ou mesmo Barcelona—. “Em re­a­li­dade, ainda que fa­la­mos de taxa tu­rís­tica, é um im­posto de es­ta­día. Por isso con­si­de­rá­mos que o ló­gico era que se fi­gesse atra­vés dumha lei que apro­vasse o Parlamento de Galiza”, de­fende Louzao. Con esta in­ten­çom, em ou­tu­bro, Goretti Samartín, al­cal­desa de Compostela, reu­niu-se com o pre­si­dente da Junta “para le­var-lhe a pro­posta de pôr en mar­cha esta lei. Fomos com um in­forme do ca­te­drá­tico César García Novoa, da USC, que ex­plica um pouco como se­ria a forma de re­ca­da­çom e quais se­riam as di­fe­ren­tes pos­si­bi­li­da­des para co­me­çar a de­ba­ter so­bre o tema e pôr em mar­cha”, ex­plica a con­ce­lheira. Em ou­tu­bro, de­pois de muito de­bate e ne­ga­ti­vas ini­ci­ais, Alfonso Rueda abriu-se fi­nal­mente a acei­tar essa me­dida, mas só na ci­dade de Compostela.

elena mar­tín

A co­nhe­cida como taxa tu­rís­tica, que já pu­gera so­bre a mesa o al­calde de Compostela Aberta Martiño Noriega, é um im­posto que a pes­soa vi­a­jante paga quando vi­sita um país ou umha ci­dade. “A forma de pa­ga­mento se­ria atra­vés da fa­tura do es­ta­be­le­ci­mento ho­te­leiro, e a con­tía va­ri­ará de­pen­dendo do ní­vel do mesmo. Os es­ta­be­le­ci­men­tos re­co­lhe­riam essa quan­ti­dade e logo pas­sa­riam-lha às ad­mi­nis­tra­çons”, ex­plica Louzao. “Vamos ten­tar que a bu­ro­cra­cia para o sec­tor seja o mais leve possível”.

A ideia deste im­posto, como já acon­te­ceu nou­tras ci­da­des, é a dos vi­si­tan­tes con­tri­buí­rem dal­gum modo a todo o que con­su­mem no seu passo po­los lu­ga­res tu­rís­ti­cos. E, polo ge­ral, as ha­bi­tan­tes de­sas mes­mas vi­las fi­cam con­ten­tes com a sua im­ple­men­ta­çom. “Está de­mos­tra­dís­simo que em nen­gum sí­tio do mundo apli­car a taxa tu­rís­tica afe­tou ne­ga­ti­va­mente à de­manda. Em to­dos os sí­tios se­guiu me­drando”, es­cla­rece Louzao. “Nom va­mos ser nós a ex­ce­çom. Efectivamente há gente, so­bre­tudo do sec­tor, que nom está mui de acordo com aplicá-la, mas acho que tam­bém é um pouco por des­co­nhe­ci­mento ou por falta de diá­logo. Nós, desde que che­ga­mos, acha­mos mui im­por­tante man­ter esse diá­logo com o sec­tor turístico”.

As boas prá­ti­cas do pe­re­grino
Em agosto do 2022, coin­ci­dindo com o fi­nal da pan­de­mia e com a che­gada mas­siva de pe­re­gri­nos a Compostela, a Assembleia de Vizinhas de ‘A Xuntanza’ do bairro de Sam Pedro de­ci­diu fa­zer algo. Foi nesse mo­mento quando ideá­rom o ‘Decálogo de Boas Práticas para o Final do Caminho’. Nesse texto mos­tra­vam as 10 cou­sas que um vi­si­tante de­ve­ria fa­zer ao che­gar à ci­dade para res­pei­tar as vi­zi­nhas e vi­zi­nhos. Seguindo a mesma ideia, e “como algo que de­ve­ria sair das ad­mi­nis­tra­çons a pe­dido da vi­zi­nhança e das aso­ci­a­çons”, o con­ce­lho pujo em mar­cha um ‘Código de Boas práticas’.

Em agosto de 2022, a Assembleia de Vizinhas de ‘A Xuntanza’ do bairro de Sam Pedro de­ci­diu fa­zer algo e ideá­rom o ‘Decálogo de Boas Práticas para o Final do Caminho’

É umha cam­pa­nha de tu­rismo sus­ten­tá­vel, res­pon­sá­vel e cons­ci­ente”, ex­plica Louzao. “Essa cam­pa­nha pu­gemo-la em mar­cha ra­pi­da­mente por­que acha­mos que era im­por­tante, mas tem ainda muito per­curso ”. Para Louzao, a cam­pa­nha “vai di­ri­gida à ci­da­da­nia, para sa­ber que desde o con­ce­lho se está a tra­ba­lhar por um tu­rismo cons­ci­ente, e tam­bém, é claro, ao tu­rista, por­que há al­gumhas ques­tons bá­si­cas que ti­nha que ter todo o mundo pre­sen­tes, mas de­te­ta­mos que nom é as­sim. Achamos que é mui im­por­tante essa la­bor de pedagogia”.

Queremos que a gente, an­tes de en­trar na ci­dade, já saiba que vem a um sí­tio que é pa­tri­mó­nio da hu­ma­ni­dade, um sí­tio onde vive e tra­ba­lham ou­tras pes­soas e onde po­de­mos con­vi­ver to­dos per­fei­ta­mente”, ex­plica Louzao. “Temos um le­gado muito im­por­tante e te­mos que dei­xar-lho em boas con­di­çons às ge­ra­çons fu­tu­ras. É a nossa responsabilidade”.

O ca­mi­nho por re­cor­rer no tema do tu­rismo com­pos­te­lám ainda vai ser muito longo e passa, se­gundo a con­ce­lheira, por dei­xar de cen­trar-se “na ques­tom nu­mé­rica”. “Há que pro­mo­ci­o­nar ou­tro tipo de tu­rismo e ou­tras ques­tons, como evi­tar que che­gue todo o mundo nas mes­mas da­tas e se mo­van sem­pre po­los mes­mos sí­tios”, re­fle­xi­ona Louzao. Para ela, a ci­dade de Compostela pode-se “co­nhe­cer dou­tra forma”. “E as­sim te­re­mos um re­torno da parte po­si­tiva do tu­rismo, que é o im­por­tante, o que lhe achega va­lor adicional”.

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