As trabalhadoras do armazém logístico da Lidl de Narom levam mais dum cento de dias de greve. Três meses sem cobrar, tirando de aforros, de caixas de resistência e com o objetivo de fazer cumprir à empresa o seu próprio convénio coletivo. Neste tempo de greve e mobilizaçons, o máximo que conseguírom foi que a empresa sente, por fim, negociar com elas.
A greve convocada no 14 de fevereiro começou anos antes. As primeiras denúncias do comité na inspeçom de trabalho datam de mais de dous anos atrás, alegando sobrecarga laboral e incumprimentos do convénio que já vinham de longe. Fôrom, em total, doze denúncias ganhas. “Temos companheiros que levam três anos contratados através de empresas de trabalho temporal, a tempo parcial. Se estám assim bem poderiam estar como pessoal indefinido”, explica Hugo Fernández, secretário do comité de empresa do armazém logístico de Rio do Poço. A empresa nom atendeu as petiçons e negou repetidamente a aumentar pessoal, ainda que as trabalhadoras que fam umha jornada de 40 horas semanais excedam sistematicamente o máximo de 80 horas extraordinárias anuais, estabelecido no Estatuto das trabalhadoras.
As primeiras denúncias do comité na inspeçom de trabalho datam de mais de dous anos atrás. alegando sobrecarga laboral e incumprimentos do convénio que já vinham de longe
A relaçom com a empresa tornou pior durante estes meses. Hugo Fernández tem claro que a empresa “nunca atua de boa fé” e descreve umha situaçom encalhada: “Colocam travas por todo, até por pedir umha reduçom de jornada por cuidados. Pola atitude já nos conhecemos, e nom descartamos que isto [a empresa aceder a negociar] seja umha manobra para a greve e os protestos rematarem”. Fernández reconhece que a greve só se suspendeu de forma provisória para poder sentar com a empresa: “Pediam que desconvocásemos e, como sempre, cedemos os mesmos. Ainda assim nom nos fiamos e vamos seguir manifestando-nos”.
A desconfiança das trabalhadoras nom fijo mais do que aumentar após a condena a Lidl na semana prévia ao remate da greve. A Confederaçom Intersindical Galega tinha efetuado umha demanda em contra da Lidl por vulnerar o direito a greve das trabalhadoras do armazém logístico de Narom. O julgado número 2 do social de Ferrol atendeu as reclamaçoms, condenando Lidl a cessar nas suas açons contra o greve e devendo indemnizar a CIG com 25.000€ por danos morais.
“Ainda estando condenados por vulnerarem o nosso direito a greve, seguem incumprindo a sentença; já teriam que ter as tendas fechadas desde a primeira semana”, explica Hugo Fernández, em referência às soluçons que adotou a empresa para esquivar os efeitos da greve. Por exemplo, perante o feche do armazém logístico de Narom, a companhia alemá forneceu os supermercados da Galiza e as Astúrias desde os armazéms do País Basco e Madrid: “Pensa que este armazém logístico fornece 53 tendas, e com umha greve secundada por quase 100%, desde aqui nom está saindo material”, explica Fernández.
Em lugar de atender as reclamaçoms das trabalhadoras, a empresa optou por esse tipo de medidas, mesmo com o sobre-custo ocasionado: “Umha folha de rota de 500 quilómetros passou a ter 2000; pugérom um autocarro quatro vezes ao dia para trazer companheiros [para substituir as grevistas]; aumentárom também a segurança no armazém logístico e mesmo pugérom segurança privada para os chefes, algo que nom entendemos porque aqui nunca passou nada. Todo isto fai com que baixem benefícios”, descreve o secretário do comité de empresa.
A greve foi suspendida de forma provisória para iniciar a negociaçom: “Pediam que desconvocássemos e, coma sempre, cedemos os mesmos. Ainda assim, nom nos fiamos e vamos seguir manifestando-nos”
O 21 de maio tivo lugar a primeira junta de negociaçom. A representaçom social apresentou de novo as reclamaçoms com a expetativa da atitude da empresa mudar. Desde o comité repetem, e advertem, que na sua mente “a greve segue e vamos seguir lutando; nom vamos ter unha atitude passiva”.
Nom som as únicas mobilizaçons no sector da alimentaçom no país: em Lugo ou Viveiro, as trabalhadoras dos supermercados Gadis e Froiz continuam a protestar por umha melhora salarial. Fam o próprio as trabalhadoras de Eroski-Familia da Corunha e Ponte Vedra, que exigem voltar aos convénios provinciais do comércio de alimentaçom, já que na atualidade o convénio da empresa (através do grupo Vegalsa) é o mais baixo do sector.
Competitividade com as cousas de comer
As vulneraçoms dos direitos laborais nas cadeias de distribuiçom e no comércio de alimentos sofrérom um novo golpe após o aumento da inflaçom nos últimos quinze anos. Segundo o INE, a inflaçom no sector da alimentaçom em abril foi de 12,9%. As grandes distribuidoras e comércios tentam que a sua margem de benefício nom se veja reduzida, polo que da sua ótica há que reduzir custos e aumentar competitividade. E se Mercadona ou Lidl aumentarem a sua, outras galegas como Froiz ou Gadis optam por fazer o mesmo.
No Estado espanhol dá-se umha circunstância que acentua ainda mais essa competitividade. Enquanto que Estados como Portugal, Alemanha ou França, os cinco maiores distribuidores de alimentos ocupam mais de 75% do mercado, no estado espanhol ronda 50%, segundo dados da consultora Kantar. A suba está sendo especialmente rápida após a pandemia, já que se em 2021 os cinco maiores distribuidores controlavam 46% do mercado estatal e em março de 2023 já atingiram 51%.
Nessa dinâmica hipercompetitiva a empresa que mais aumentou foi Lidl, que em menos de cinco anos subiu de 3,9% a 6,6% de cota e já é a segunda maior distribuidora de alimentos do Estado espanhol trás Mercadona, que controla por volta dum quarto do total.