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Confinamento intensificou a vida e o consumo ‘online’

por
se­niv­pe­tro

O confinamento trouxo consigo maior consumo de produtos audiovisuais e conteúdos noticiosos, assim como um aumento de utilizadores nas diversas redes sociais e um maior tempo gasto em aplicativos de mensagens instantáneas. Muitos destes produtos já se encontravam em auge, mas o isolamento fijo que a única possibilidade de comunicar-se ou de consumir produtos culturais fosse através do ecrám.

A falta de es­ta­tís­ti­cas so­bre uso de no­vas tec­no­lo­gias na Galiza du­rante o surto da Covid19 obriga a pro­cu­rar umha ex­tra­po­la­çom de da­dos glo­bais ou es­ta­tais para en­qua­drar as atu­ais mu­dan­ças. Os da­dos da agên­cia We Are Social — que pu­blica re­la­tó­rios tri­mes­trais so­bre a si­tu­a­çom glo­bal do mundo di­gi­tal e que neste úl­timo fijo umha con­sulta es­pe­cí­fica em 17 paí­ses so­bre mu­dan­ças a par­tir da pan­de­mia — in­di­cam um dis­po­si­tivo que ocupa a li­de­rança: o smartphone, com 76% das usuá­rias con­sul­ta­das que afir­mam que o em­pre­gam mais tempo. As prin­ci­pais ati­vi­da­des on­line a que as uti­li­za­do­ras de­di­cam mais tempo se­riam o con­sumo de fil­mes e di­ver­sos es­pe­tá­cu­los em stre­a­ming, o em­prego de so­cial me­dia e os ser­vi­ços de men­sa­gens ins­tan­tá­neas. Entre os no­vos há­bi­tos de­sen­vol­vi­dos du­rante o mês de março, os da­dos da We Are Social ex­po­nhem umha maior lei­tura de meios de comunicaçom. 

A ní­vel es­pa­nhol, a SmartMe Analytics pu­bli­cou da­dos da evo­lu­çom do uso do smartphone no iní­cio da pan­de­mia, con­se­gui­dos atra­vés da mo­ni­to­ri­za­çom de “mais de 8000 in­di­ví­duos re­pre­sen­ta­ti­vos” da po­pu­la­çom do Estado. Assim, sa­li­en­tam que na se­gunda se­mana de março — quando foi de­cre­tado o es­tado de alarme polo go­verno es­pa­nhol — o em­prego do smartphone au­men­tou em 38,3% se com­pa­rado com a úl­tima se­mana de fe­ve­reiro. Estes da­dos ma­ni­fes­tam tam­bém um au­mento no uso das re­des so­ci­ais, das men­sa­gens ins­tan­tá­neas, das cha­ma­das, das apli­ca­çons para vi­de­o­cha­ma­das e de di­ver­sas pla­ta­for­mas para o con­sumo de fil­mes e pro­du­tos audiovisuais. 

Comportamentos e mu­dan­ças percebidas

Segundo di­ver­sas es­pe­ci­a­lis­tas em Ciências da Comunicaçom do nosso país, os usos re­por­ta­dos som se­me­lhan­tes aos ex­pos­tos nes­tes es­tu­dos. Xabier Rolán, dou­tor em Comunicaçom da Universidade de Vigo re­fere que o apli­ca­tivo que nes­tes me­ses foi re­ve­la­çom é um ba­se­ado na cri­a­çom e par­ti­lha de pe­que­nos ví­deos e en­tre o seu alu­nado uni­ver­si­tá­rio cons­ta­tou que foi um ou­tro apli­ca­tivo que com­bina vi­de­o­cha­ma­das com con­cur­sos o que tivo sucesso.

A jor­na­lista e di­re­tora do por­tal Vinte, María Yáñez, chama a aten­çom para o au­mento do con­sumo de in­for­ma­çom, con­si­de­rando no en­tanto que “a crise nom fijo mais que in­ten­si­fi­car os com­por­ta­men­tos pré­vios: so­bre-in­for­ma­çom, ruído, ur­gên­cia por par­ti­lhar con­teúdo e ‘agir’ de al­gumha ma­neira ‘on­line’ nos pri­mei­ros dias da crise”. E acres­centa que com o tempo se pas­sou de um con­sumo mais com­pul­sivo de no­vas in­for­ma­çons para um con­teúdo mais interpretativo.

Relaçons so­ci­ais

Para Rolán, no ám­bito do en­sino fi­cou pa­tente a exis­tên­cia de umha fra­tura di­gi­tal, tanto de al­fa­be­ti­za­çom di­gi­tal como de acesso à tec­no­lo­gia. “Vivim-no com alu­nos que ti­nham di­fi­cul­da­des para se­guir o stre­a­ming das au­las. A in­ter­net no ru­ral ou áreas peri-ur­ba­nas é mui de­fi­ci­ente”. No que res­peita às re­la­çons so­ci­ais, este pro­fes­sor con­si­dera que os apli­ca­ti­vos e as pla­ta­for­mas so­ci­ais che­gá­rom para fi­car. “A re­vo­lu­çom já co­me­çara an­tes da Covid19 — já se li­gava com apps em to­dos os seg­men­tos etá­rios e ori­en­ta­çom se­xual — mas agora vám as­sen­tar mais”, as­si­nala Rolán.

No mundo do tra­ba­lho, Rolán pom o foco na falta de desconexom.“No mo­mento em que os Estados for­mu­lam umha lei de des­co­ne­xom di­gi­tal é por­que te­mos um pro­blema grave, de nom sa­ber já se­pa­rar jor­na­das la­bo­rais e tem­pos li­vres”, afirma Rolán, quem acres­centa como pro­blema umha cul­tura la­bo­ral em que mui­tos che­fes nom en­ten­dem que os ser­vi­ços de men­sa­gens ins­tan­tâ­neas som umha rede as­sín­crona, pri­vada e pes­soal, e sa­li­enta que “te­le­tra­ba­lhar nom é es­tar dis­po­ní­vel a qual­quer hora do dia”. 

A his­to­ri­a­dora da Arte e in­ves­ti­ga­dora Sabela Fraga ex­pom que “vi­mos dum tempo em que pas­sa­mos de umha ex­pe­ri­ên­cia di­reta so­bre as cou­sas a umha ex­pe­ri­ên­cia me­di­ada po­los ecráns, e du­rante o con­fi­na­mento isto au­men­tou”. “Mas”, acres­centa Fraga, “te­mos que ad­mi­tir que em mui­tas oca­si­ons a tec­no­lo­gia per­mi­tiu não afun­dar­mos no oce­ano de de­ses­pero e soi­dade. Passado isto, o en­con­tro real tem que vir com mais força e com­pro­misso, e de­ve­ría­mos re­cha­çar que este tipo de re­la­çons me­di­a­das por in­ter­fa­ces se­jam o futuro”.

Mudanças na pro­du­çom de con­teú­dos web

María Yáñez sa­li­enta que, na pro­du­çom de con­teú­dos on­line, o for­mato de ví­deo em di­reto au­men­tou, mas aponta que se agu­di­zou a so­bre-oferta de con­teúdo ape­sar do au­mento de pro­cura du­rante o con­fi­na­mento. “Ninguém tem tempo para ver tanto con­teúdo, nem se­quer o que a pri­ori mais lhe in­te­ressa”, sa­li­enta, e co­loca o de­sa­fio na ba­ta­lha pola aten­çom da gente, ba­ta­lha a tra­var “com mais qua­li­dade, per­ti­nên­cia ou re­le­vân­cia no con­teúdo”. Para Yáñez, umha vez ob­tida a aten­çom, o se­guinte passo se­ria mo­ne­ta­ri­zar esse con­teúdo on­line e in­dica que “imos ver mui­tos ex­pe­ri­men­tos com isto, uns triun­fa­rám e ou­tros nom”. 

As prin­ci­pais ati­vi­da­des ‘on­line’ a que as uti­li­za­do­ras de­di­cam mais tempo se­riam o con­sumo de fil­mes e di­ver­sos es­pe­tá­cu­los em ‘stre­a­ming’, o uso de ‘so­cial me­dia’ e ser­vi­ços de men­sa­gens instantáneas

Por ou­tra banda, Yáñez prevê que acon­te­cerá umha “nor­ma­li­za­çom da ima­gem de ecrám do­més­tico na lin­gua­gem au­di­o­vi­sual”, tanto na te­le­vi­som como no au­di­o­vi­sual feito para a rede. E as­si­nala como isto po­de­ria in­fluir nos mo­dos de pro­du­çom atra­vés de umha di­mi­nui­çom dos cus­tos de produçom.

O jor­na­lista e di­re­tor do por­tal culturagalega.com Manuel Gago sa­li­enta que no con­fi­na­mento “o in­cre­mento de con­sumo de con­teú­dos em ga­lego foi no­tá­vel, den­tro dos seus mo­des­tos va­lo­res”. Para além de um maior tempo dis­po­ní­vel, Gago co­loca a base disto numha re­dis­tri­bui­çom da eco­no­mia da aten­çom: “A mi­nha per­ce­çom é que foi nesse in­cre­mento de ho­ras que se de­ci­diu pres­tar aten­çom a con­teú­dos nom mains­tream, re­ve­lando por umha banda a re­la­çom sub­si­diá­ria dos con­teú­dos em ga­lego em re­la­çom a ou­tros, mas por ou­tra banda, a pos­si­bi­li­dade de cres­ci­mento que ainda tenhem”. 

Ante a ques­tom de se esta in­ten­si­fi­ca­çom no em­prego de apli­ca­ti­vos pode tra­zer mu­dan­ças na pro­du­çom cul­tu­ral, Gago toma pers­pe­tiva e as­si­nala que “a pri­meira grande mu­dança que ocor­reu para o ati­vismo cul­tu­ral e so­cial na rede na Galiza deu-se com a crise do Prestige, muito an­tes da exis­tên­cia das re­des so­ci­ais”. No que toca à pro­du­çom de con­teú­dos web, Gago con­si­dera que “o prin­ci­pal im­pacto vai ser no au­mento da pre­sença em re­des so­ci­ais de en­ti­da­des e ins­ti­tui­çons, acom­pa­nhada de umha maior in­ten­çom de pôr à dis­po­si­çom do pú­blico con­teú­dos que som pro­du­zi­dos para ou­tra cadeia”. 

As tiranias da imagem

Os apli­ca­ti­vos de re­des so­ci­ais cons­truem umha forma de nos co­mu­ni­car em que as ima­gens e a forma de mos­trar-nos te­nhem um pa­pel prin­ci­pal. A his­to­ri­a­dora da arte Sabela Fraga sa­li­enta que “é abrai­ante a ho­mo­ge­nei­dade que ca­ra­te­riza as ima­gens que se mo­vem nes­tas re­des. A di­ná­mica é co­piar e adap­tar-se aos mo­de­los que triun­fam e te­nhem su­cesso, ou seja, vi­su­a­li­za­çons e re­a­çons”. Assim, é esta inér­cia a que ali­menta a re­pro­du­çom dos mo­de­los hegemónicos.

As re­des so­ci­ais mais usa­das de­sen­vol­vem umha re­la­çom de de­pen­dên­cia com o te­le­mó­vel e mui­tas ve­zes, para além da ima­gem que ocupa a cen­tra­li­dade, o texto fica numha su­ces­som de hash­tags, ou nal­guns ca­sos, o nú­mero de ca­ra­te­res está li­mi­tado. “Som re­des que pro­cu­ram o em­po­bre­ci­mento da nossa ca­pa­ci­dade para fa­lar das cou­sas, de po­der ela­bo­rar um dis­curso ló­gico atra­vés da pa­la­vra es­crita”, ex­pom Fraga, acres­cen­tando que isto é de­vido a que es­tas re­des se ba­seiam na bre­vi­dade, na ins­tan­ta­nei­dade e nos con­teú­dos efémeros. 

Sabela Fraga, his­to­ri­a­dora da arte: “As ima­gens es­tám li­ga­das a con­su­mir vi­su­al­mente o pre­sente contínuo”

Esta his­to­ri­a­dora fala no tempo cri­ado nas re­des so­ci­ais como um ‘pre­sente con­tí­nuo’, li­gado a umha atu­a­li­dade “que ca­duca de­ma­si­ado de­pressa e di­fi­culta o pen­sa­mento”. “Mas quiçá o que mais per­verta”, re­flete Fraga, “seja a nossa re­la­çom com a his­tó­ria, com o pas­sado, por­que as ima­gens já nom es­tám li­ga­das à me­mó­ria mas a umha forma de con­su­mir vi­su­al­mente, a umha ve­lo­ci­dade de in­farto, o pre­sente contínuo”. 

Porém, Fraga vê no em­prego da ima­gem umha opor­tu­ni­dade para a cri­a­çom de no­vos ima­gi­ná­rios. “Longe das ima­gens es­te­re­o­ti­pa­das, pre­ci­sa­mos dar mais peso à nossa ex­pe­ri­ên­cia para criar nar­ra­ti­vas pró­prias, pes­so­ais, que pos­si­bi­li­tem umha nova cons­ci­ên­cia e umha trans­for­ma­çom na vida das pes­soas”, as­si­nala. “As ima­gens som umha fer­ra­menta mui po­tente para criar re­fe­ren­tes e abrir fen­das no sis­tema cul­tu­ral hegemónico”. 

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