
A publicaçom em 1972 de O atraso económico de Galicia, por Xosé Manuel Beiras, consolidou a hipótese colonial como parte constitutiva do imaginário político de boa parte do nacionalismo galego. Existiria umha relaçom colonial entre a Galiza e Espanha na qual o espólio económico e o assovalhamento político e cultural do povo galego iriam da mao. Apesar de a realidade do nosso país ter mudado substancialmente nestes anos, e de as proclamas coloniais terem menor presença pública a dia de hoje, o imaginário colonial segue bem presente na auto-compreensom que boa parte do nacionalismo de esquerdas tem sobre si próprio. A hipótese colonial devolve-nos a umha Galiza que já nom é a nossa, a umha Galiza de pequenas proprietárias, fossem campesinhas ou pescadoras, com um agro subdesenvolvido, de subsistência, na qual as divisons linguísticas e de classe se sobrepunham nitidamente. Porém, a Galiza de hoje é a Galiza das periferias urbanas; a eminentemente terciária, precária e avelhentada; a que se fijo mais próspera, mas tamém mais pequena. E, de errarmos nos diagnósticos, nom há dúvida de que faremos outro tanto com a praxe política alumeada por aqueles.
Apesar de a realidade do nosso país ter mudado substancialmente nestes anos, o imaginário colonial segue bem presente na auto-compreensom que boa parte do nacionalismo de esquerdas tem sobre si próprio
A hipótese colonial, ao pôr a ênfase exclusivamente na relaçom entre a Galiza e Espanha, perde de vista a madeixa de relaçons transnacionais na qual aquela se situa. Por umha banda, nós somos tamém parte do primeiro mundo capitalista, e parte do nosso bem-estar bebe tanto da sobre-exploraçom da força de trabalho do Bangladeche como da tala de árvores no Amazonas. Por outra banda, Espanha é tamém umha área subordinadas no contexto europeu, submetida ao poder das finanças transnacionais e dos plutocratas sem pátria. As forças que temos de enfrentar moram em Madrid, sim, mas tamém em Compostela, em Frankfurt, em Bruxelas.
A hipótese colonial, ao pôr a ênfase exclusivamente na relaçom entre a Galiza e Espanha, perde de vista a madeixa de relaçons transnacionais na qual aquela se situa
À consideraçom exclusiva da relaçom entre a Galiza e Espanha vem-lhe aparelhada umha contínua luita por discriminar entre galegos conscientes e galegos colonizados. Operar politicamente sobre a base da Galiza desejada, em troques de nos incardinar na realmente existente, a crioula, a desartelhada, a que sofre a precariedade em duas línguas e se vê na obriga de emigrar, como já figeram seus avós, nom pode senom afasta-la mais ainda da luita política por umha Galiza emancipada. Mas a consequência mais nefasta e perigosa da hipótese colonial é que nos permite libertar-nos da responsabilidade pola nossa praxe política. Frente a cada um dos nossos erros, o imaginário colonial encontra em Espanha a desculpa última. Nom há lugar para a autocrítica. De sermos colónia, já fazemos abondo, disque. O imaginário colonial é assim um imaginário complacente, de derrota e resistência. As forças que governam o nosso país há décadas tenhem um projeto de pais do qual nom gosto, mas isso nom as fai menos galegas. Se hoje nom habitamos umha Galiza liberada nom é por mor das forças de ocupaçom espanholas. O projeto de quem governa pode ser antagónico ao nosso, mas nom por isso é menos galego. Se queremos outra Galiza, haverá que lhe-la disputar.