Os estudantes nom som os únicos que estám a sofrer a privatizaçom e a precarizaçom paulatina da universidade, senom que os professores som também outros grandes afetados por esta situaçom. “A mesma lógica da austeridade económica e da gestom com critérios empresariais tem afetado seriamente as condiçons laborais dos corpos docentes e investigadores. De ser um espaço relativamente blindado quanto a direitos laborais e condiçons de trabalho, a universidade evoluiu para mais um espaço de precarizaçom em todos os níveis”, comenta Isaac Lourido.
Isaac explica que estamos a viver um momento de ausência de programas reais de estabilizaçom da carreira académica, e um aumento significativo de contratos temporais e de contratos a tempo parcial. “Esta última modalidade provoca a existência de um número significativo do professorado com salários entre os 300 e os 800 euros, que podem ser dispensados pela universidade a qualquer momento. Este quadro está a provocar nom só o desgaste, a desmotivaçom ou o abandono do professorado precarizado – obrigado a aceitar estas condiçons enquanto participa na carreira meritocrática e aguarda umha oportunidade para progredir na escala académica –, senom que pode causar umha perda sensível na qualidade da docência e no desenvolvimento adequado de projetos de investigaçom”, explica.
“A universidade nom quer ver que tem professores numha situaçom mui precária, que quase nem podem comer, e isso que a USC nom é das piores”
Som muitas as docentes afetadas por esta nova modalidade de docência na universidade. “Apesar de que o anterior decano dixo que na USC nom existia a precariedade nem professores mal pagos, isto é umha grande mentira”, di umha professora que nom quer dar o seu nome. “Eu estivem muito tempo trabalhando na USC sob essa figura que se conhece como professor associado, umha figura que antes tinha muito sentido mas que agora está totalmente corrompida”. Estes contratos de professor associado estavam pensados para aqueles profissionais que, trabalhando fora da universidade, davam aulas magistrais sobre a sua especialidade às alunas, com a intençom de que elas vissem como funciona o mundo laboral “real”. “Isso é genial, beneficia um monte à universidade”, di esta professora. “Mas, o que acontece? Que esta figura perverteu-se. Com a escusa da crise começárom a empregar esta figura para todo”. E a ideia é que nom és professor a tempo completo, com o qual tes que ter um contrato fora. Porém, a realidade é que muita gente realmente nom tem outro trabalho aparte do de professor, porque está dando aulas de manhá e de tarde na universidade. E assim nasce a figura do falso associado, que para além de ter um salário irrisório, tem que pagar autónomos. “Dim que som falsos-autónomos mas como pretendem que tenhamos outro trabalho se temos que estar dando aulas todo o tempo e ademais é a universidade a que está a fazer todo assim de mal? Eu conheço professoras que obtenhem ajudas por parte dos Serviços Sociais porque nom chegam a final de mês. Em esse nível estamos. É impossível compatibilizar. A universidade nom quer ver que tem professores numha situaçom mui precária, que quase nem podem comer, e isso que a USC nom é das piores”, denúncia esta professora.
A USC nom é umha exceçom, senom que demonstra a norma que se está estendendo por muitos países. Há pouco falava sobre este tema um ex-professor dumha universidade espanhola num programa televisivo. Ele deixara o seu emprego de professor da faculdade de Belas Artes porque tinha um salário de só 250 euros ao mês, e compensava-lhe bastante mais participar no concurso a jornada completa. E como ele, outras muitas. José Carlos Bermejo, escreveu sobre o tema várias vezes. No seu último livro, Reitores e privilexiados, dá-lhe um nome a esta figura: O lumpem-professorado. Professores mal pagos, esporádicos e subestimados que apenas podem sobreviver com o que ganham. “Os salários do pessoal universitário estám a baixar em todo o mundo a menos da metade, e esta é, sem dúvida, umha precarizaçom buscada”, afirma Bermejo.
A situaçom do PAS
Para Antonio Pérez, a todo este conglomerado há que lhe somar o que está a acontecer com o Pessoal de Administraçons e Serviços (PAS) da Universidade: a perda de pessoal. Nos últimos anos desaparecérom umha centena de postos, simplesmente porque nom interessa contratar gente nova. “Pola perda de fundos, o pessoal que se reforma ou marcha nom se repom, isto significa umha reduçom na qualidade do serviço. Reparte-se a carga de trabalho entre os que ficamos, quando é possível, mas, muitas vezes, diretamente cancela-se o serviço, o que obviamente vai em detrimento da universidade, pois a qualidade de atençom baixa muito se nom há pessoal suficiente”, explica.
Necessidade do estudantado se mobilizar
O debate da privatizaçom quase nem se produz, distrai-se o alunado com temas secundários ou com umha carga de trabalho que nem lhes deixa tempo para mais nada
Ainda que para algumhas pessoas a eleiçom do novo decano em março, Antonio López, abre a esperança a que as cousas mudem um pouco, professores e alunos coincidem numha cousa para melhorar a situaçom: a transformaçom sobre como se concebe o alunado. Cada vez mais visto como um empecilho ou como alguém que vem incomodar, tem-se em conta que as suas reivindicaçons som as reivindicaçons de todas. “Muitas vezes, graças a que o alunado se mobiliza, venhem à tona os problemas da universidade”, di umha professora da faculdade de Química que também nom quer dar o seu nome. “O professorado deveria ter em conta que, se o aluno di que as aulas estám a perder qualidade, é por algo. E é mui bom que o alunado berre e se queixe, antes era de esperar que se reivindica-se, porém, na atualidade, com o novo modelo de universidade, um piquete pode marcar a diferença entre passar ou reprovar, e isto nom pode ser. A universidade sempre foi um lugar onde apareciam sementes de evoluçom social. Sem ir mais longe, antes nom podia entrar a polícia na universidade, e agora a polícia pede o BI nas mesas informativas, que está a acontecer? Temos que luitar contra todo isto”, reivindica.
“O pior de todo isto é que leva sendo um processo de anos, que sempre se véu vir e que, em realidade, nom devera ser umha surpresa para ninguém”, di o catedrático Xavier Vence. “A privatizaçom está-se abordando dum jeito sigiloso e paulatino, tratando de conseguir o beneplácito da sociedade e eludindo o confronto”. O debate da privatizaçom quase nem se produz, porque se entretém o alunado com temas secundários ou com umha carga de trabalho que quase nem lhes deixa tempo para mais nada. Há que dar a conhecer esta situaçom a toda a sociedade, para que haja um debate real. É importante nom esquecer que o que está em perigo é a universidade como serviço público para todas, transformando-se, polo neoliberalismo, numha sorte de mecanismo para cuspir trabalhadores, perdendo-se a essência do que sempre significou esta instituiçom.