Majo, Fedra e Ana falam com a mesma alegria que o seu projeto transmite. Acabam de criar umha cooperativa, A Morada, que pretende ser aquele “pátio vicinal onde os vizinhas cuidavam umhas das outras” que parece ter perdido a sua presença na nossa sociedade atual, cada vez mais individualista. Precisamente, A Morada nasce com a intençom de ser esse local “de encontro, lazer, aconselhamento e formaçom, que se conecta com a comunidade e onde o cuidado está no centro”. Bem-vindo à Morada!
Como nasce A Morada?
Majo: Eu comecei na Morada pola minha mae, para poder ir com ela depois do diagnóstico de Alzheimer. O que buscamos com este projeto é coletivizar o cuidado tirando‑o de casa, para evitar que as mulheres cuidadoras tenham de morar sozinhas.
Fedra: Som responsável polos obradoiros e pola parte pedagógica da Morada. Acabei na Morada por causa da Majo, claro (risos). Somos amigas de longa data e muitas vezes falamos de que nós mulheres estamos sempre a cuidar e acabamos isoladas do mundo, e por isso sempre tivemos a ideia de dar a volta a isto.
Ana: Eu e a Fedra juntámo-nos ao sonho da Majo e também pensamos que poderíamos levar a nossa experiência na APAM, umha associaçom do terceiro sector de famílias de pessoas com paralisia cerebral, àquelas outras mulheres que passam a maior parte do tempo institucionalizadas ou no ambiente familiar, que possam sair e virem à Morada para conhecer outras pessoas, verem os grupos e participarem na vida social e cultural.
O que fazedes na Morada?
Realizamos obradoiros, organizamos grupos de cuidados… Temos também um espaço de aconselhamento e apoio a mulheres em situaçom de vulnerabilidade e umha Baiuca, que mais do que um bar queremos que seja um ponto de encontro. Queremos também que A Morada seja um local de segurança, onde arrouparmo-nos na intimidade e na confiança com as outras, e onde surjam necessidades e exigências que possamos acompanhar. Agora estamos a coordenar e trabalhando em rede com outros projetos e iniciativas sociais da cidade, porque também queremos trabalhar fora: no bairro, com o bairro. E com outros grupos e iniciativas sociais em Vigo e através de projetos de desenvolvimento comunitário e sempre com umha perspetiva feminista, que está sempre presente e representa a Morada.
O financiamento é particular. Como funciona?
Temos umha figura de matrona que funciona um pouco como umha sócia. É umha pessoa que quer ajudar a tornar o projeto sustentável. Pode-se escolher entre várias fórmulas — Vizinha, Prima, Madrinha e Amiga da alma — consoante a taxa que pretender pagar, que pode ser de 5, 10 ou 15 euros por mês. Depois temos a figura da matrocinadora viajante, que seria a pessoa que nom vive em Vigo, mas quer colaborar e fai umha doaçom pontual. E graças a essas inscriçons, as pessoas que nom podem pagar os obradoiros podem aceder a eles igualmente. Os matrocinios também contam com descontos e vantagens dependendo da fórmula escolhida.
É um espaço misto?
Sim, é misto. Mas há obradoiros que abordam questons íntimas de corpo e sexualidade que nom som. Há também grupos que querem vir conhecer-se na Morada e que som só para mulheres.
Mais algumha cousa que queirades acrescentar?
Só que estades todas convidadas a vir quando quiserdes!