
Vai para um ano da chegada do andácio da Covid-19 às nossas vidas e uma vez superado o primeiro otimismo relativamente naïf – com afirmações do tipo “desta sairemos melhor” ou “mais solidárias” – , a crua realidade é que temos mui poucos indícios de que isto vaia ser assim. Excetuando, se calhar, experiências como a dos Grupos de Ajuda Mútua (GAM) criados espontaneamente nalgumas cidades e essa primeira vaga de reconhecimento aod serviços públicos como o de saúde. Fora disso, os alicerces do brutal capitalismo que semelhava mostrar-se frágil e quase fora de combate ante a crise sistémica poderiam – paradoxalmente – sair fortalecidos. Já estamos a ver as rebaixas ambientais, mas… no mundo do trabalho, que está a acontecer?
As ajudas para a classe operária e empobrecida nesta crise foram as mínimas. Houve certas medidas paliativas por parte da administração em forma de ERTES, prolongamento de certas prestações e um regulamento para conciliar insuficiente (o Plan MeCuida do governo espanhol). Todas elas imprescindíveis, com certeza, mas nada indica que se vaiam pôr em marcha medidas ou mudanças mais relevantes. Do anunciado rendimento mínimo vital nada se sabe. Todo indica que a destruição de postos de trabalho que acarretará esta crise será elevada, e que o empresariado aproveitará –como sempre – para tentar rebaixar direitos. Pode ver-se isto já nas resistências a admitir a proibição de despedimentos logo dum ERTE por Covid-19. De momento, aceitam entre dentes, mas o cenário é alarmante. É bom lembrar que as diferentes reformas laborais de PSOE e do PP levaram a um embaratecimento do despedimento que facilita a destruição de emprego e a temporalidade. É preciso uma mudança urgente que dissuada e penalize o despedimento. Que reconheça, por exemplo, em caso de improcedência (a imensa maioria dos casos), que a possibilidade de escolha de reincorporação seja por parte da pessoa trabalhadora.
Todo indica que a destruição de postos de trabalho que acarretará esta crise será elevada, e que o empresariado aproveitará –como sempre– para tentar rebaixar direitos
Perdemos também nesta crise uma oportunidade de revisão do status social das ocupações imprescindíveis para o mantimento da vida: Os sectores mais precarizados, como o dos cuidados ou o alimentar, entre outros serviços elementares e públicos, mostraram que se esses sectores param, o mundo para. Mas, um ano depois e uma vez rematadas as palmas, vemos como ao pessoal de limpeza sanitária não lhe é reconhecida a baixa profissional por Covid-19. Os feches comerciais e da hotelaria levaram a um aumento da precariedade do sector do reparto por meio do cínico sistema de auto-exploração de plataformas como Deliveroo ou Glovo. “Quédate en casa”, já nos pomos nós em risco para che levar a tua encomenda.
Em 2020 as mortes no trabalho aumentaram na Galiza e no estado apesar da enorme redução das horas globais trabalhadas
É que nas condições do trabalho este foi um ano dramático. Por pôr um dado acima da mesa, em 2020 as mortes no trabalho aumentaram na Galiza e no estado apesar da enorme redução das horas globais trabalhadas. O pânico a perder um trabalho, o estresse da necessidade de atopar um e mantê-lo fazem que sejam aceites como “normais” situações que implicam um aumento de risco ou uma rebaixa da vigilância da segurança laboral. A precariedade leva a aceitar infra-empregos em condições de grande penosidade e os salários miserentos conduzem a jornadas extenuantes de trabalho.
Frente a todo isto, temos que tecer redes solidárias de defesa mútua, de acompanhamento solidário, de partilhar ferramentas para lograr mudanças que protejam as pessoas e a vida. Isso, e não outra coisa, deve ser um sindicato. Uma rede solidária, e não esquecer nunca que se “tocam numa”, devemos sentir que “tocam em todas”. Participa!