O Processo Trevinca nasce “com a ideia de desenhar umha folha de rota de jeito coletivo”, que nos últimos tempos vem marcada polos efeitos da Operaçom Jaro e da covid-19. Assim o explica umha das porta-vozes de Causa Galiza, Cris Rodrigues, quem fai parte da organizaçom desde 2017.
Em que ponto se encontra o Processo atualmente?
A Jaro e a covid-19 impugérom umha demora do processo. Embora mantivemos assembleias abertas em todo o País e alargamos os contatos, sabemos que estamos baixo o foco repressivo. Qualquer tentativa de retomarmos a atividade pública fisicamente vai ser punida com a escusa da pandemia com mais virulência que frente a qualquer outro grupo. Contodo, Trevinca continua, e representa umha esperança de rutura e por isso também um perigo para aqueles que nos encarceram. Como dizia Charles Lauton naquele filme de Renoir: “a verdade nom pode existir durante umha ocupaçom”.
A ativaçom anunciou-se em 2018 e iniciou-se em 2019, sem que nos chegaram mais notícias. É um projeto com vocaçom de futuro?
Somos a força política galega mais perseguida do último quarto de século. Estamos pendentes de se nos ilegalizam, com toda a velha diretiva da organizaçom encausada num processo judicial, polo que lhes pedem mais de 100 anos de prisom, sem que haja um disparo desde princípios dos anos 90… Por cima, a excecionalidade da covid-19. E ainda assim avançamos e afortalamo-nos. Qualquer umha que analise todas as circunstâncias em que está a crescer o Processo Trevinca nom poderia mais do que relacionar este grau de resistência com um potencial extraordinário para o futuro. Velai o medo do regime espanhol perante ele.
Há algum passo importante à vista?
A Jaro absorveu grande parte dos nossos esforços. Porém, adaptamos as circunstâncias ao debate por meio de tertúlias virtuais, à espera da abertura das medidas sanitárias que nos permitam a continuidade e conclusom do processo.
Umha das premissas do Processo Trevinca é a a consulta com o entorno social do independentismo sobre linhas políticas e modelo organizativo. Como som, nestes momentos, as relaçons entre os coletivos galegos? Há vontade de uniom?
A unidade tem que dar-se em eidos em que exista coincidência estratégica, antepondo sempre o fim às discrepâncias táticas do partidismo. Nesse sentido, campos como o linguístico, o sindical ou o sócio-cultural fornecem experiências exemplares que cumpre seguirmos. Da mesma forma, que exista um aumento do discurso independentista no soberanismo institucionalista é algo que devemos saudar com alegria. O que está claro é que ainda com a repressom que erode a fortaleça das organizaçons, o discurso independentista está a medrar mais do que nunca. E isso deveria fazer reflexionar os nossos carcereiros.
“A unidade tem que dar-se em eidos em que exista coincidência estratégica, antepondo sempre o fim às discrepâncias táticas. Nesse sentido, campos como o linguístico, o sindical ou o sócio-cultural fornecem experiências exemplares que cumpre seguirmos”
Qual é a análise que fas do momento atual do independentismo galego?
O Procés Catalám e Podemos demonstrárom que a única possibilidade de rutura com o regime espanhol do ´78 é o independentismo; isso, o feito de que o BNG, com um discurso mais independentista do que nunca, atinja os melhores resultados da sua história, e a resistência organizativa do independentismo galego histórico à repressom, fam prever um cenário terrível para o regime na pós-pandemia e o furacám sem precedentes da crise económica que vem. Neste sentido, aproveitar esse momento para tecer espaços de desobediência próprios e plurais que ajam como instituiçons alternativas às do regime, confrontar-lhas, é fundamental. Assim e todo, isto requer de três passos gigantescos para todo o soberanismo galego: Ser quem de estabelecer espaços comuns, plurais e representativos; superar o calote do eleitoralismo com o que o regime nos engaiola e elaborar um novo discurso independentista que supere o nacionalismo identitário, olhando cara a adiante, desde abaixo.
Seremos independentes quando somemos a maioria da sociedade a um projeto vivo e em construçom, fazendo‑a protagonista na edificaçom dessa nova República. Para já, nom excluindo‑a das essências nacionalistas elaboradas pola pequena burguesia.
Que supom o processo na Audiência Nacional contra o independentismo galego e que leitura fas dos juízos de que todas fomos espetadoras?
Avaliamos como umha farsa. Supom a materializaçom da perseguiçom dum projeto político, ao que temem polo seu potencial, tendo em conta ademais a crise institucional pola que atravessa o regime do 78. A única violência, o único terrorismo que existe na Galiza nestes momentos é o espanholista, ou o terrorismo machista, o patronal, o racista… todos eles amparados polos tribunais que a nós nos condenam por exigirmos democracia.
O que significaria umha nova ilegalizaçom, tanto para Causa Galiza como para o Processo Trevinca?
Se há algo que a história do nosso povo e do nosso movimento demonstra, é que a repressom pode ferir-nos, mas nunca acabou connosco. Se nos proíbem participar em organizaçons independentistas galegas com a ideia de que o nosso povo o vaia aceitar com mansedume, é óbvio que desconhecem a história da Galiza. Fariam bem em investigar as Guerras Irmandinhas, a Luita contra o Francês, a Revoluçom do 46, as mulheres em greve na fábrica de tabacos da Corunha, a Luita contra os Foros, a República Galega do 31, a Luita polo autogoverno do 36, a guerrilha antifascista mais delongada de Europa, a construçom da UPG na Longa Noite de Pedra, Vigo e Ferrol ardendo no 72, ou até o Nunca Mais. Se nos obrigam a renunciar ao nosso direito democrático de organizar-nos pacificamente para conquistar a nossa livre decisom como povo, como democratas, temos o dever de desobedecer. Ao medo com o que querem paralisar-nos, contrapomos-lhe um sorriso de esperança e o exemplo do nosso compromisso. Nom nos vam poder encerrar a todas para sempre, e a nossa negativa a obedece-los há-lhes resultar mais dolorosa que todas as suas bombas imaginárias.
Que leitura política fas das restriçons que nos estám a ser impostas e que significam no contexto das açons de reivindicaçom independentista?
O Estado está a aproveitar a situaçom de emergência sanitária para disciplinar a populaçom e conter toda dissidência política. Acudimos de forma submissa a centros de trabalho de centos de pessoas mas proíbe-se-nos reunir-nos mesmo para opinar coletivamente. As medidas som totalmente tendenciosas, e servem para o que servem. De fundo, um sistema de sanidade pública destruído e umhas liberdades e direitos fundamentais esquecidos. Já veremos quanto lhes dura o sedativo.
“O Estado está a aproveitar a situaçom de emergência sanitária para disciplinar a populaçom e conter toda dissidência política”
Que opiniom che merece o surgimento doutros processos de reorganizaçom nos últimos tempos?
O processo que está a realizar o MGS parece-nos mui interessante. Valoramos mui positivamente a existência dumha tendência ruturista dentro do BNG. De umha perspetiva global, achamos que é perfeitamente complementar do nosso Processo Trevinca, que tenta marcar o contraponto dumha ótica nom eleitoralista. Achamos que isto favorece o trabalho conjunto em espaços comuns e o avanço da ideia independentista entre a cidadania.