Xoán Doldán é decano da faculdade de Económicas da Universidade de Santiago de Compostela e presidente da associaçom decrescentista Véspera de Nada. Perante a situaçom de crise que enfrentam as fábricas de alumínio da Corunha e Avilés, o professor debulha para o Novas da Galiza qual é o estado atual do mercado energético do Estado, e qual é o panorama que desenha o futuro se continuar com o atual modelo industrial.
Quais som as dimensons atuais do consumo energético da Alcoa?
Nos últimos anos reduziu o consumo percentual porque o consumo doméstico aumentou. Chegou a representar 50% de todo o consumo galego de eletricidade, mas agora está em torno de 25%. Nom é porque consuma menos, ou seja, mais eficiente, é porque percentualmente consumimos mais o resto.
Como evolucionou o sistema de tarifas elétricas para estas indústrias eletrointensivas?
O sistema tarifário mudou completamente no Estado espanhol porque antigamente havia umhas tarifas reguladas. O governo estabelecia estas tarifas diferentes para a populaçom, para concelhos e para grandes consumidores, onde estariam as indústrias eletrointensivas. Entendia-se que o cálculo do conjunto do que pagavam todos devia cobrir os custos de geraçom de eletricidade. Era um sistema de compensaçom. Se eu lhes cobro menos a uns, outros têm que pagar mais. Quem paga menos? Os grandes consumidores. Na altura, um terço do que um consumidor normal. É dizer, as famílias tinham que pagar mais para que a Alcoa pagasse menos. Realmente estávamos a transferir rendas através dos preços regulados da energia do conjunto da populaçom para estas grandes empresas.
E que mudou?
Nessa situaçom as empresas consumidoras tinham unha posiçom mui confortável do ponto de vista empresarial. Isto muda com a aplicaçom de certas diretivas da Uniom Europeia nos anos 90 que se chamou de transiçom para a concorrência. Supunha que ia haver um mercado mais competitivo, mas era parcialmente certo.
Por que?
Porque ainda que se fale de livre concorrência nom é real. Som poucas as empresas elétricas que estám no mercado e o sistema tarifário é agora algo tam complexo e tam diferente do que podem ser os mecanismos da livre concorrência que o custo de funçom que resulta da aplicaçom de todo o sistema muitas vezes nom tem nada a ver com os custos reais de produçom.
É dizer, começárom a fazer os seus estudos de mercado com base em tarifas elétricas que usavam antes, e agora encontramos que se pagassem a eletricidade ao seu custo… teriam perdas.
Claro, antes tinham umha macrosubvençom no preço da eletricidade com custo para consumidores, e com esta situaçom as empresas começárom a ameaçar com se irem embora. Isto que está a acontecer agora é o final dumha história marcada há décadas. Essa ameaça acabou por funcionar como umha espécie de chantagem e perante essa situaçom o Estado ofereceu mecanismos como permitir que as empresas pudessem comprar diretamente no mercado elétrico e com o serviço de interruptibilidade.
Como funciona esse contrato?
Durante anos nunca se chegou a utilizar esse sistema. Por isso é umha subvençom mascarada. Estám a receber dinheiro por um serviço que na prática nom é necessário. Se o pensarmos bem, a qualquer consumidor interrompem-lhe o serviço em qualquer momento sem que o remunerem por isso, que é o que está a passar com estas indústrias. Que ocorre? Nom lhes estám a depreciar a eletricidade, mas está a dizer-lhes “o que estás a pagar polo recibo estamos a devolver-cho por outra via”. E o que é pior, este serviço de interruptibilidade considera-se custo de operaçom e recai no sistema e no resto de consumidores como parte dos custos de geraçom.
Qual crês que será o futuro da Alcoa?
Penso que a fábrica da Corunha parece claramente que vai fechar ou vender. Estas empresas som transnacionais, estám a atuar em todo o mundo e nom lhes é impossível transferir a atividade para outros locais do mundo, noutros países onde este jogo de pressom tenha melhor acolhida. Que vai acontecer? Tentarám outras fórmulas compensatórias para as fábricas que fiquem. Nom teremos a tarifa de grandes consumidores como no passado, mas teremos algo semelhante. Vam precisar dela se nom querem continuar com os encerramentos e, como acontece sempre, isto nom será gratuito para os populares.
Isto é realmente sustentável?
É totalmente insustentável, condena-nos a continuar com modelos de geraçom elétrica baseadas em nom renováveis porque nom temos capacidade para manter esses consumos elétricos. Por outro lado, este tipo de práticas também atrai outras empresas, e afunda mais a situaçom de insustentabilidade quando o que haveria de fazer é encetar novas vias de autoabastecimento. E temos um problema sério porque a questom nom é só a geraçom de eletricidade, temos um problema mais grave a nível global.
É claro que o atual modelo nom é sustentável, mas, como combinar esta crítica com a total dependência humana dessa economia?
Sim, claro. Estivemos a falar todo o tempo em termos energéticos e eu separo a questom energética da laboral. Neste caso vam unidas, mas som duas. Do meu ponto de vista, o tema energético tem umha situaçom clara que deveria mudar e DEPOIS está a questom laboral, que deve ser atendida e priorizada em muitos aspetos. Defendo que este tipo de indústrias nom se pode fomentar, mas entendo perfeitamente que as pessoas que trabalham lá defendam o seu posto de trabalho com unhas e dentes. Ora bem, nom se pode pensar que se pode manter essa situaçom laboral tal qual está porque isso implica manter inalterada a situaçom energética, e sabemos que nom vai ser possível no futuro. Portanto, já quase desde o início desta atividade deveríamos pensar numha alternativa, e nunca houve umha alternativa. É dizer, a alternativa à Alcoa sempre se vendeu como mais Alcoa. Entendo que, a nos mantermos nessa perspetiva, nunca conseguiremos mudar os problemas reais, sendo que a situaçom virará mais dramática porque a dependência territorial e laboral da Alcoa vai ser cada vez maior. Importa fazer um plano nom para quando Alcoa feche, mas cumpre fazê-lo com a Alcoa em funcionamento e construir alternativas.