Periódico galego de informaçom crítica

Custodiar o território

por
fran­ces gearhart

No pri­meiro en­con­tro de Mulheres em tran­si­ção (Junho de 2015), ouvi fra­ses que le­va­vam tempo a ron­dar no meu corpo e ali as­sen­ta­ram na mi­nha ca­beça (ou foi ao re­vés?) Uma de­las saiu da com­pa­nheira Begoña de Bernardo Miño, a fa­lar de que so­mos ha­bi­tan­tes dos nos­sos ter­ri­tó­rios, que a nós cor­res­ponde cui­dar e usu­fruir… desde aquela sei que pre­firo iden­ti­fi­car-me como ha­bi­tante an­tes do que como cidadã.

Se algo de bom pôde ter a tra­gé­dia dos in­cên­dios, foi ati­var uma cons­ci­ên­cia e um novo ques­ti­o­na­mento do nosso monte e o nosso ru­ral. Apesar de tudo, houve uma res­posta rá­pida or­ga­ni­zada: além das mo­bi­li­za­ções ma­ci­ças, lis­tas de vo­lun­ta­ri­ado para re­cu­pe­rar os so­los e re­plan­tar, con­cer­tos de apoio, o ca­nal con­train­for­ma­tivo Tramalume, a re­co­lhida de ajuda a ani­mais fe­ri­dos trans­bor­dada… Como no mo­mento do Prestige, as ha­bi­tan­tes desta nossa terra to­ma­ram a iniciativa.

Em mo­men­tos as­sim sen­ti­mos mais a im­por­tân­cia do tra­ba­lho diá­rio de quem leva mui­tos anos neste campo: Ridimoas, Amigos da Terra, a man­co­mu­ni­dade de Vincios, Cousa de raí­ces… só por no­mear al­guns exem­plos de ges­tão po­pu­lar e sustentável.

Nesta oca­sião vou-me cen­trar numa ini­ci­a­tiva pouco co­nhe­cida, a fi­gura das en­ti­da­des de Custódia do Território.

Há uns anos as­sisti a uma pa­les­tra que co­me­çava com uma foto de Stonehenge (a National Trust do Reino Unido tem 10.000 pes­soas em­pre­ga­das). Era a en­ti­dade Fragas do Mandeo, e nas suas pa­la­vras… “A cus­tó­dia do ter­ri­tó­rio é uma fór­mula de con­ser­va­ção do pa­trimô­nio na­tu­ral e cul­tu­ral em­pre­gada com su­cesso em nu­me­ro­sos paí­ses. O seu ob­je­tivo é criar um fundo de con­ser­va­ção da na­tu­reza na co­marca (As Marinhas co­ru­nhe­sas), que per­mita mer­car fin­cas de in­te­resse na­tu­ral para a pro­te­ção dos ha­bi­tats pri­o­ri­tá­rios. Desta forma po­de­re­mos cui­dar da pai­sa­gem e dos bos­ques, as­se­gu­rando um fu­turo para as es­pé­cies de ani­mais e plan­tas que con­for­mam a bi­o­di­ver­si­dade des­tes ecos­sis­te­mas.” Através da com­pra ou de ces­sões de longa du­ra­ção em acor­dos com a vi­zi­nhança, mon­tes são lim­pa­dos e re­cu­pe­ra­dos para o bos­que autóctone.

"Através da compra ou de cessões de longa duração em acordos com a vizinhança, montes são limpados e recuperados para o bosque autóctone"


E desde 2015 te­mos for­ma­li­zada a Rede ga­lega de cus­tó­dia do território.

Não é ques­tão de ne­gar ou­tras ma­nei­ras de fa­zer, por exem­plo lu­tar por mu­dar as leis; es­tou con­ven­cida de que cada es­tra­té­gia tem o seu lu­gar. Como dixo uma com­pa­nheira num de­bate aná­logo so­bre bi­o­cons­tru­ção, po­des lu­tar “de den­tro do muro ou de fora”; em vez de vê-lo como di­vi­são… acho a em­pur­rar dos dois la­dos, me­lhor der­ru­ba­re­mos o muro.

Quando os mu­ros são mu­ra­lhas de eu­ca­lip­tos, a pos­si­bi­li­dade de der­ru­bar li­te­ral­mente, e au­to­ge­rir, res­pon­sá­vel e co­le­ti­va­mente pe­da­ços re­ais e con­cre­tos de monte… é ten­ta­dora demais.

Inspirada pelo exem­plo de Fragas de Mandeo, neste ano que acaba nas­ceu Brexa, a en­ti­dade de cus­tó­dia de Carral (tam­bém nas Marinhas), que já anda na lim­peza de um monte ce­dido por uma vi­zi­nha. Oxalá esta me­cha prenda, uma, duas, mil custódias…

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