Crimes de ódio constitui a primeira base de dados para controlar assassinatos por motivos de ódio cometidos no Estado espanhol. Um projeto levado a cabo polos jornalistas cataláns David Bou e Miquel Ramos que revela que entre 1990 e 2020 fôrom assassinadas 103 pessoas com essa motivaçom. A aporofobia (ódio as pessoas sem teto) e o racismo som as principais motivaçons destes crimes. Este mapa do ódio que nasce em 2015 pola necessidade de visibilizar umha realidade tem vocaçom, como di David Bou, “ de ser um projeto em permanente construçom e revisom” e quer servir para educar as novas geraçons, já que o projeto também revela que a maioria dos autores destes crimes som moços menores de 25 anos sem ideologia aparente, movidos polo ódio a umha minoria.
Crimes de ódio toma forma em 2015, mas em outubro de 2020 apresentades a última revisom, incluindo quinze novos crimes. Porque é necessário um projeto assim?
Crimes de ódio nasceu fruto de umha constataçom, que no Estado espanhol nom existe um registo de vítimas do ódio e da intolerância. Ademais naquela altura o Ministério de Interior começava a registar os incidentes dos delitos de ódio desde a reforma do código penal.
O Miquel e eu pensamos que este projeto é umha forma de confrontar o Estado, sobretodo os meios de comunicaçom e a judicatura com umha realidade que nom se reflete nem se trata coma se devera, do nosso ponto de vista . Temos que pensar quando falamos destes crimes que a metade nom chegárom a juízo nem a investigaçom, e a maioria dos que chegam a juízo som condenados por homicídio. Tira-se-lhe portando o conteúdo de intencionalidade e esta gente que os cometeu passa mui poucos anos na cadeia. A nível mediático estes crimes som tratados de maneira isolada, muitas vezes coma umha peleja entre bandas ou tribos urbanas, e nom respondem a um fenómeno que para nós, tem uns patrons e umha origem, e que nom é outro que a intolerância e os discursos de ódio contra umha minoria. Ademais transmite-se umha mensagem clara à sociedade que é a da impunidade.
Até o de agora, tendes recolhidos 101 crimes com um total de 103 vítimas nos últimos 30 anos. Som chamativos esses dados se os extrapolamos à Europa?
Nós gostamos de dizer que as mortes som a ponta do icebergue, ao final afortunadamente delitos de ódio com morte há poucos se o comparamos com outras realidades similares como podem ser os feminicídios. Espanha tem cifras anuais de mulheres assassinadas que som o total das cifras de ódio que damos em 30 anos e que nós também queremos refletir remitindo para feminicidio.net, porque entendemos a misoginia como um crime de ódio e como um fenómeno que desborda todos os índices.
Os casos mais icónicos como o da transexual Sonia, o de Carlos Palomino ou o de Aitor Zabaleta, deixam também umhas sequelas mui profundas na sociedade e aos grupos sociais aos quais pertencem estas pessoas, polo que podemos dizer que cada um deste assassinatos é multiplicado.
“A nível mediático estes crimes som tratados de maneira isolada, muitas vezes como umha peleja entre bandas ou tribos urbanas”
Que o Estado espanhol nom contabilize estes crimes, demonstra a existência de um problema de Estado, de falta de sensibilidade contra as miniorias?
A crítica que fazemos nós vai dirigida à judicatura e às forças de segurança. Pensamos que nas forças de segurança existe umha motivaçom para nom fazer frente a esta realidade como toca e deixam-se passar alguns crimes como se fossem crimes ordinários sem umha motivaçom concreta.
Além disto há um facto que nos preocupa especialmente que é a manipulaçom desses delitos: a Organizaçom para a Segurança e a Cooperaçom Europeia (OSCE) definiu esta tipologia de crimes para proteger as minorias dos ataques doutros grupos sociais dos Estados membros, o que acontece no Estado espanhol é que se utiliza esta definiçom para ir contra defensoras dos direitos humanos como podem ser militantes antifascistas, ou para proteger coletivos que em nengum caso podem ser qualificados de minoria, como a própria polícia. Esta manipulaçom é bem preocupante, já que deixa de aplicar-se a lei nos outros casos.
De facto vários autores destes crimes som as próprias forças de segurança.
Sim, o que se considera primeiro crime racista contemporâneo do Estado espanhol é o de Lucrecia Pérez, e um dos seus assassinos condenados era um guarda-civil fora de serviço. Um dos últimos casos que atualizamos é um guarda-civil que conduzia pola estrada e parou um condutor porque viu nele traços marroquinos. Para o carro, dispara-lhe cinco tiros e deixa‑o morto no meio da estrada. Isto é um fenómeno que existe, mas nós queremos ir além: vemos que nas forças e corpos de segurança hai instaurada certa conivência com ideias intolerantes que nom respeitam nem a dissidência política nem minorias sociais. Isto obviamente é um facto preocupante porque o que quer dizer é que quem deve velar polos direitos destas minorias e do cumprimento dumha lei que devesse ser garantista nom o está a fazer. Polo que fica demonstrado que é muito necessária umha depuraçom dentro destas forças, ou polo menos umha formaçom específica em matéria anti-discriminatória como começa já a fazer-se timidamente nalguns sítios.
Constatades com esta investigaçom que o racismo e a xenofobia estám por trás da maioria desses crimes.
O facto do Estado espanhol ter sido um Estado colonizador e imperialista fai com que muitas das nossas atitudes estejam condicionadas por um posso e por umha história de racismo estrutural que muitas vezes reproduzimos. Isto percebe-se muito com a comunidade subsariana porque ademais somos Estado limítrofe com o continente africano, somado isto a toda umha tradiçom de luita histórica da Espanha católica contra os muçulmanos, o que acrescenta a islamofobia e o racismo com as pessoas pretas.
Mas, deixa-me dizer que além do racismo e a xenofobia chama a atençom todo o que acontece arredor da aporofobia. Outra das categorias que mais mortes comporta e que a nós surprendeu-nos muito, já que a maioria destes casos falam de anónimos sem umha rede familiar ou de amizades que poda ajudá-los a sair desta situaçom, o que fai que estas pessoas sejam ainda mais invisíveis. Isto mesmo fai que pensemos em que se nós conseguimos recolher todos estes casos, quantos mais haverá?
“No Estado espanhol utiliza-se esta definiçom para ir contra defensoras dos direitos humanos ou para proteger coletivos que em nengum caso podem ser qualificados de minoria, como é o caso da própria polícia”
Pensades que há muitos mais dos que recolhedes?
Nós dizemos que este é um projeto de investigaçom jornalística em construçom, começamos em 2015 com 86 casos e em outubro de 2020 presentamos umha atualizaçom acrescentando 15 mais e nom som todos dos últimos cinco anos, alguns som casos anteriores que nom tínhamos registados e a partir da apresentaçom do projeto houvo gente que se dirigiu a nós para pôr em conhecimento os seus casos.
Para nós fai todo o sentido que seja umha ferramenta em constante atualizaçom, que fai com que se mantenha viva a memória de todas essas pessoas. Se a gente pode descobrir estas tristes histórias, sabe também que se tem a sua disposiçom umha ferramenta de construçom de memória coletiva e pode relatar os casos que tenha constância e chegar mais longe de onde chegam as instituiçons.
Os crimes refletem algum perfil maioritário?
Na sua maioria som pessoas menores de 25 anos, muitos inclusive menores de idade no momento que se produzem essas mortes. Para além de nalguns destes casos poder haver um patrom ideológico claro de extrema-direita, gostamos de quebrar com esse relato. Crimes de ódio nom é um mapa das vitimas do fascismo. Muitas das vítimas nom fôrom assassinadas por grupos nem por pessoas politizadas pertencentes à extrema-direita. Trata-se de pessoas que de forma inconsciente tenhem umha ideologia totalitária baseada no ódio e na intolerância, mas isto nom quer dizer que foram militantes da extrema-direita. Som gente mui nova que acaba por razons diversas encarniçando com minorias e aqui queremos pôr o foco nos valores que como sociedade estamos a transmitir no dia a dia às novas geraçons começando pola escola e acabando com os meios. Nom estamos gerando cidadaos consciencializados com a diversidade e com a convivência.
Há alguns lugares do Estado espanhol onde a extrema-direita esteja mais assentada que registem picos mais altos, estou a falar da Catalunha, Madrid e o País valenciano.
Este triângulo Madrid- Catalunha- País Valenciano concentra a maioria dos crimes. Mas nós achamos que nom necessariamente responde a umha lógica política, se nom a umha densidade demográfica maior. Onde há umha industria e umha economia mais potente concentra-se maior populaçom migrante e maiores desigualdades sociais.
Porem há um núcleo mais ativo que nós sim o relacionamos mais diretamente com umha ideologia racista e xenófoba que é a zona de Almeria e Málaga, onde há muitos casos e umha zona em que periodicamente há ondas de violência contra a populaçom migrada, sobretodo na época de Elejido, e em Málaga onde há grupos ativos de neonazis.
“Muitas das vítimas nom fôrom assasinadas por pessoas pertencentes à extrema-direita. Há um perfil de gente nova que de forma inconsciente tem umha ideologia totalitária baseada na intoleráncia”
Nos últimos anos em Catalunha estám a sair projetos coma o vosso ou o filme La mort del Guillem (que explica o assassinato do militante antifascista Guillem Agulló pola extrema-direita) que querem visibilizar umha realidade que leva muito tempo silenciada, além de projetos militantes. Parece que neste caso a sociedade catalá está a despertar perante isto?
Penso que está ligado ao conflito com o Estado espanhol, com todos os seus matizes e as suas limitaçons, mas sobretodo pola repressom que houvo no 1 de outubro. Essa repressom moveu muitas consciências e fijo aflorar realidades que antes ficavam mais escondidas. Aqui sempre houvo repressom, exílio e militantes antifascistas, mas ficava reduzido a um núcleo pequeno de militantes. Nos últimos tempos devido às mudanças de hegemonia política e fruto do trabalho de alguns meios de comunicaçom e projetos como o nosso sim temos a sensaçom de que no mínimo estamos a avançar na consciência de que estas realidades existem e que nom fam parte do passado.
De facto a nova revisom de crimes de ódio tivo mui boa acolhida mediática.
Tivo, sobretodo tendo em conta as condiçons em que a apresentamos. Mas nós o que procuramos nom é aumentar o número de visitas. Pretendemos que a gente poda fazer seu este projeto, acrescentar a informaçom e que se convirta numha ferramenta de consulta e de toma de consciência coletiva.