Periódico galego de informaçom crítica

Defendermos a soberania de um povo nom se entende se nom defendemos a sua capacidade para alimentar-se” 

por
Isabel Vilalba, se­cre­tá­ria ge­ral do Sindicato Labrego Galego (SLG). | ve­ra­cruz montoto

O 23 de setembro, o Sindicato Labrego Galego-Comisións Labregas (SLG-CCLL) celebrou o seu quinquagésimo aniversário no território em que tivo lugar umha das principais luitas liderada pola populaçom rural do nosso país: Encrobas. Conversamos com a sua secretária geral, Isabel Vilalba, criadora de gado de leite e produtora de favas de Lourenzá. 

O Sindicato Labrego Galego-Comisións Labregas é his­tó­ria viva da Galiza. Como afronta a or­ga­ni­za­çom a co­me­mo­ra­çom deste meio sé­culo de luita sin­di­cal agrá­ria na­ci­o­na­lista?
Com ilu­som e res­pon­sa­bi­li­dade e, so­bre­tudo, com muito or­gu­lho polo tra­ba­lho feito, polo que so­mos. Cumprimos cin­quenta anos com a se­re­ni­dade e sa­tis­fa­çom de ter­mos sido sem­pre con­se­quen­tes com a de­fesa dos di­rei­tos das la­bre­gas e la­bre­gos, com a de­fesa da nossa terra, com a luita por algo tam trans­cen­den­tal como é a so­be­ra­nia ali­men­tar para o nosso povo. Defendermos a so­be­ra­nia de um povo nom se en­tende se nom de­fen­des a sua ca­pa­ci­dade para alimentar-se. 

Desde esta for­ta­leza e esta ma­tu­ri­dade te­mos tam­bém mui pre­sente que es­ta­mos num mo­mento mui im­por­tante para o mundo ru­ral no que res­peita a mui­tas das rein­vi­di­ca­çons es­tra­té­gi­cas do SLG-CCLL. Como vi­mos aler­tando de há dé­ca­das, a im­po­si­çom das ló­gi­cas ca­pi­ta­lis­tas a umha ques­tom es­sen­cial para a su­per­vi­vên­cia como é a ali­men­ta­çom tem con­sequên­cias gra­ves. Por umha banda as­sis­ti­mos à ex­pul­som da po­pu­la­çom das con­tor­nas ru­rais, sendo es­tes ter­ri­tó­rios ob­jeto de co­biça po­las em­pre­sas ener­gé­ti­cas e a in­dús­tria agrá­ria, ou mesmo polo mer­cado imo­bi­liá­rio, que ao fim e ao cabo mui­tas ve­zes está do­mi­nado po­las mes­mas em­pre­sas e fun­dos de in­ver­som. É muito pre­o­cu­pante que a dia de hoje al­deias in­tei­ras do nosso país es­te­jam à venda. Por ou­tra, na atu­a­li­dade, os efei­tos ne­ga­ti­vos da ali­men­ta­çom in­dus­trial nas pes­soas e no pla­neta es­tám mais que cons­ta­ta­dos, o que fai ab­so­lu­ta­mente im­pres­cin­dí­vel se­guir for­ta­le­cendo a luita por umha ali­men­ta­çom sá e de qua­li­dade, pro­du­zida no ter­ri­tó­rio em que ha­bi­ta­mos, em base ao mo­delo agro­e­co­ló­gico de pro­du­çom e no ca­mi­nho da so­be­ra­nia alimentar. 

“Há umha ur­gên­cia em que as pes­soas que se ache­gam ao agro te­nham um acom­pa­nha­mento e um apoio além das aju­das que pro­mo­vem as administraçons”

Desde a dé­cada de ‘70 até a atu­a­li­dade, que mu­dou e que se­gue igual na luita la­brega?
Umha das ques­tons prin­ci­pais se­gue igual: o grande ini­migo sem­pre foi, e se­guem sendo, os in­te­res­ses que com­pro­me­tem a vida da gente la­brega e do nosso povo. Aqueles que vêm na ali­men­ta­çom um ne­gó­cio, nom umha ne­ces­si­dade vi­tal bá­sica nem um di­reito. O grande ini­migo sem­pre foi o Capital, que tenta ob­ter o má­ximo be­ne­fí­cio a costa das pes­soas, dos di­rei­tos da classe tra­ba­lha­dora, das mu­lhe­res… E aí, an­tes e agora, a ques­tom de fundo tam­bém se­gue a ser a mesma: o grande po­der eco­nó­mico e po­lí­tico de umhas eli­tes que vam im­pondo o de­sen­vol­vi­mento de um mo­delo que manca as pes­soas e a natureza. 

Logo, no to­cante às que mu­dá­rom, há algo que cum­pre que te­nha­mos em conta, e na me­dida do pos­sí­vel re­ver­ter: no iní­cio tí­nha­mos umha quan­ti­dade mui im­por­tante de pes­soas de­di­ca­das à ati­vi­dade la­brega. Isso per­mi­tia-nos de­fen­der com mais força os nos­sos in­te­res­ses e pro­te­ger o território. 

Manifestaçom labrega na década de 90 em Compostela. Umha faixa di: 'Polo futuro dos nosos fillos producir sempre'.
Manifestaçom la­brega na dé­cada de 90, em Compostela. | ar­quivo slg

Mas en­tom, tem fu­turo o agro ga­lego?
O agro ga­lego tem fu­turo, é ne­ces­sá­rio que te­nha fu­turo, mas tam­bém há umha ur­gên­cia em que as pes­soas que se ache­gam ao agro te­nham um acom­pa­nha­mento e um apoio além das aju­das que pro­mo­vem as ad­mi­nis­tra­çons. Este mo­delo, além de po­ten­ciar com di­nheiro pú­blico o sis­tema mais in­ten­sivo de pro­du­çom de ali­men­tos, mui­tas ve­zes pro­voca o en­di­vi­da­mento das pes­soas pro­du­to­ras. Frente a isto, o mo­delo agro­e­co­ló­gico tme um enorme po­ten­cial. Galiza tem umhas con­di­çons pro­pí­cias para que mesmo a ali­men­ta­çom que se pro­duz longe poda ser pro­du­zida na nossa terra. O pro­blema é que te­mos po­lí­ti­cas to­tal­mente agres­si­vas, que nom pen­sam na saúde e no bem-es­tar, se­nom em im­por um sis­tema agrá­rio de ca­rác­ter in­dus­trial, isto é, fá­bri­cas de ali­men­tos. Nom é o mesmo que as pes­soas que pro­du­zem ali­men­tos vi­vam no lu­gar onde tra­ba­lham, man­tendo um meio ru­ral vivo e cui­dado, que ex­pul­sar a po­pu­la­çom do ru­ral a base de de­gra­dar a sua qua­li­dade de vida e logo, quando já vi­vem nas ci­da­des, mon­tar no ru­ral fá­bri­cas de ali­men­tos às que ir tra­ba­lhar. Nom é o mesmo, nem para a saúde nem para a dig­ni­dade des­sas pes­soas, nem para a terra, nem para o va­lor nu­tri­tivo dos alimentos. 

“Do SLG fi­ge­mos um tra­ba­lho pi­o­neiro na luita pola ti­tu­la­ri­e­dade com­par­ti­lhada das gran­jas, con­se­gui­mos que hou­vesse umha le­gis­la­çom es­pe­cí­fica; e a ní­vel in­ter­na­ci­o­nal, tam­bém pro­mo­ve­mos desde ‘La Vía Campesina Internacional’ umha cam­pa­nha glo­bal con­tra a vi­o­lên­cia machista”

Ao longo des­tes cin­quenta anos, três das cinco pes­soas que ocu­pá­rom a Secretaria Geral do SLG-CCLL so­des mu­lhe­res. Esta vi­si­bi­li­dade e par­ti­ci­pa­çom ativa está pre­sente em to­dos os âm­bi­tos do Sindicato. Como se con­se­gue atin­gir esta si­tu­a­çom numha or­ga­ni­za­çom so­cial mista?
No Sindicato Labrego há cons­ci­ên­cia de que no agro há umha quan­ti­dade muito im­por­tante de mu­lhe­res que es­tám a en­tre­gar o seu tra­ba­lho e o seu es­forço e que, por tanto, é umha ques­tom de jus­tiça que a ní­vel de pro­pos­tas, as mu­lhe­res te­nha­mos o o peso que nos cor­res­ponde na or­ga­ni­za­çom. Ademais, para avan­çar no mo­delo de pro­du­çom agro­e­co­ló­gi­co­que de­fen­de­mos, para ga­ran­tir um meio ru­ral vivo, para o cui­dado e de­fensa dos re­cur­sos am­bi­en­tais, para a sub­mi­nis­tra­çom dos ali­men­tos… É fun­da­men­tal a par­ti­ci­pa­çom das mulheres. 

Esta é umha aposta do con­junto da or­ga­ni­za­çom e nesse sen­tido to­má­rom-se vá­rias de­ci­sons es­tra­té­gi­cas. Umha de­las é que a or­ga­ni­za­çom tem que ser pa­ri­tá­ria —apro­va­mos a pa­ri­dade or­ga­ni­za­ci­o­nal no ano 2007— e tem que ser cons­ci­ente de como afe­tam as dis­tin­tas me­di­das às com­pa­nhei­ras e com­pa­nhei­ros. Para isso fi­ge­mos for­ma­çom em fe­mi­nis­mos, para as­sim po­der iden­ti­fi­car as vi­vên­cias que ge­ram de­si­gual­dade e dis­cri­mi­na­çom no dia a dia. E desta aposta tam­bém po­de­mos ava­liar os seus efei­tos, que nos en­chem de or­gu­lho. Do SLG fi­ge­mos um tra­ba­lho pi­o­neiro na luita pola ti­tu­la­ri­dade com­par­ti­lhada das gran­jas, con­se­gui­mos que hou­vesse umha le­gis­la­çom es­pe­cí­fica; e a ní­vel in­ter­na­ci­o­nal, tam­bém pro­mo­ve­mos desde La Vía Campesina Internacional (LVC) umha cam­pa­nha glo­bal con­tra a vi­o­lên­cia ma­chista. Mantemos li­nhas de tra­ba­lho cons­tante com o mo­vi­mento fe­mi­nista, tanto a ní­vel ga­lego como a ní­vel in­ter­na­ci­o­nal, com a Marcha Mundial das Mulheres (MMM). 

O último de Em movimento

I‑le-gal

A vizinhança comuneira de Tameiga, em Mos, leva anos luitando contra o
Ir Acima