O passado 1 de Maio saía em liberdade Diego Santim. O ex-preso independentista que fora detido em 2012 passaria cinco meses em prisom preventiva até que em 2015 o Tribunal Supremo ratificara a pena de três anos acusado de pertença a organizaçom terrorista e colocaçom de explossivos, ambas em grau de tentativa.
A estratégia repressiva funcionou durante um tempo com Santim, a mesma pola que outras pessoas acabárom apostando em vias individuais e renúncias. Com a humildade e a honestidade reconheceu a sua pontual fraqueza e com valentia, esforço e solidez soubo inverter umha situaçom até chegar às ruas do País com o sorriso de saber-se estar no certo.
Mais de três dias de detençom incomunicada em 2012, houvo torturas?
Físicas nom, malharóm-me mas o forte fôrom as psicológicas com ameaças mui graves sobre a integridade e liberdade da minha família e amizades. Quando o pensas a frio acreditas que nom chegariam a tanto mas nesse momento que estás com os olhos vendados, algemado e nessa situaçom é impossível abstrair-te ou racionalizar. Passei-no mui mal e até agradecim sair daí ainda que fosse para entrar na prisom.
Som torturas
Digo que nom fum torturado fisicamente porque ao ler testemunhos de outras pessoas que passárom por algo semelhante, o meu nom tem importância. Cada doze horas ia à médica forense e quando explicavas onde te espancárom referia que nom o podia fazer constar porque nom havia sinais visíveis. Ao sair da revisom era o pior momento porque sabiam que tinham tempo para te recuperares dos golpes e como fazê-lo sem que ficassem marcas.
Cada doze horas ia à médica forense e quando explicavas onde te espancárom referia que nom o podia fazer constar porque nom havia sinais visíveis.
Que se pensa nessas horas?
Sobreviver a toda custa, manter a cabeça fria e ficar calado é complicado. Segundo me malhavam, ia-lhes contando o que me pediam mas o que pesava eram as ameaças psicológicas.
Ficárom sequelas?
No dia a dia quando és consciente nom porque tratas de apagar essa experiência. Pola contra, sim que tenho acordado muitas vezes sobressaltado ao relembrar o acontecido e agora, seis anos depois, ainda tenho pesadelos.
Ingressas na prisom de Soto del Real e mudas de defesa
Sim, considerei que o advogado que tínhamos estava mui significado para o Estado e que umha defesa menos marcada me seria mais favorável. A família contratou outro advogado que resultou trabalhar para a Fiscalia em vez de para mim. Na entrevista com ele expliquei-lhe quais eram as minhas linhas vermelhas mas obviou-nas e quando fum declarar dixo-me que ele se encarregava e que o deixasse fazer. Nessa vista, ele deu todas as respostas, eu quase nom falei, embora figure como que o dixem eu. Ai decidim renunciar a esse advogado.
Após umha controvertida declaraçom em fevereiro de 2013 sais da cadeia com fiança de 3.000 euros, como foi?
Sim, é o que eu lhe chamo umha espécie de ostracismo. A declaraçom foi difundida e assinalou-se-me de “vendido” e acusaçons fortes, claro que quando eu lim esses quatro fólios pensaria o mesmo. Afastei-me do movimento fazendo vida à parte e procurando nom me encontrar com muita gente.
A declaraçom foi difundida e assinalou-se-me de “vendido” e acusaçons fortes, claro que quando eu lim esses quatro fólios pensaria o mesmo
Assim como a perspectiva da probabilidade de voltar entrar no cárcere
A petiçom inicial da Fiscalia era de 17 anos mas no dia a dia nom podes estar cavilando nisso, ora, sim que nom podes fazer planos a longo prazo.
Em outubro de 2014 tens o julgamento na Audiência Nacional
Desde que me defendeu este terceiro advogado, acho que foi um processo mais coerente porque respeitou os limites de defesa que lhe marcara. Assumim certas acusaçons que me eram feitas porque outra pessoa já o confessara e porque sem implicar ninguém, significava um atenuante para mim.
Um julgamento que tivo um amplo eco mediático
Antes de que tivera lugar o julgamento estava a frequentar na rua um ciclo de formaçom profissional e quando voltei das vistas atopei-me com que metade da aula e algum professor já nom me falava pola repercusom que tivo. Acho que nom foi porque tivessem medo de mim se nom de que as relacionassem conmigo. Ninguém me perguntou a minha versom, acreditárom no que se dixo e mais nada.
O TS ratifica a pena de três anos e em 2015 entras na cadeia
Nom tinha intençom de entregar-me mas o advogado recomendou-me que o figesse num cárcere galego por causa de atrasar a dispersom. Acreditei nisso e apresentei-me o último dia na prisom de Pereiro de Aguiar. Aí um funcionário deu-me um papel em branco para que assinasse a renúncia à organizaçom e vontade de afastar-me da militáncia. Nom o assinei e ameaçou-me com me enviar a isolamento, um módulo que aí nem existia. Dez dias depois dispersárom-me a Topas.
Que fazias em Topas?
Estava matriculado na UNED em Geografia e História, lia muito de política, desporto e falava com presos sociais e algum político com o que quadrei. Durante seis meses puidem aceder campo de futebol mas depois tirárom todos os FIES das atividades desportivas alegando razons de segurança. Figem várias reclamaçons mas as explicaçons fôrom muito vagas e a que apresentei perante o juiz de vigiláncia penitenciária ainda está pendente de resolver a dia de hoje.
Solicita-che em Topas o reingresso ao Coletivo de Presas/os Independentistas Galegas/os (CPIG)?
Um mês antes de entrar a prisom escrevim solicitando o reingresso ao CPIG e dérom-me um ano de prova. Durante esse tempo fazia os jejuns reclamando para as integrantes do Coletivo as reivindicaçons que solicitam. A incorporaçom foi mais orgánica que pessoal porque quando entrei em Topas comecei a escrever-me com todas as companheiras.
Como foi para ti esse ano de prova?
Foi um período em que eu me considerava um preso político mas na rua nom se reclamava a minha liberdade. Era como estar num limbo. Além disso, sempre mantivem a perspectiva clara de que decorrera esse tempo.
Que significou para ti o reingresso no CPIG?
Foi a culminaçom dum processo de relegitimaçom pessoal. Desde que saim da prisom preventiva trabalhei para recuperar a confiança do movimento e das companheiras e quando se me deu de alta no Coletivo significou ter um aval de aceitar o que passara e que voltava a estar do seu lado. Nom sabia se o ia conseguir ou que se me entendesse mas nom havia outro caminho para estar bem comigo mesmo e na parte da trincheira que queria estar.
Que significam as cartas e visitas?
Som muito importantes mas para mim um preso político vive do movimento político polo que está preso, as alegrias e pesares estám relacionadas com o que acontece na rua. As comunicaçons som um acontecimento e janelas de ar fresco, a solidariedade é fulcral mas nom por isso devemos abandonar outros espaços, deveria ser complementário. Eu prefiro nom ter recebido cartas ou visitas e que houvesse mais presença independentista no ámbito sociopolítico já que dá-lhe sentido a estar na prisom.
Deu-che algo a prisom?
Dá-che muita perspectiva da sociedade tam acelerada em que vivemos, o contraste com o ritmo lento da cadeia fai com que vejas a vida com mais calma e menos ao impulso. Dentro também vês muita violência de quem nom se pode controlar ou que responde às provocaçons dos funcionários mas sobre todo comprovas a evidência da ter sempre face a face ao Estado e ao Sistema repressivo que controlam e se intrometem em cada facto do quotidiano. És mais consciente desse controlo absoluto.
Na cadeia nom há tantas militáncias, umha e fazê-la bem. Fora, agora mesmo nom sei se há militantes ou é um clube de amigas
Poucos dias após sair em liberdade, como vês o País?
Todo mudou e acho que foi a pior pola fraqueza ou desapariçom de espaços e organizaçons. Na cadeia nom há tantas militáncias, umha e fazê-la bem. Fora, agora mesmo nom sei se há militantes ou é um clube de amigas embora às vezes é positivo que haja um vínculo de amizade mas outras prejudicial se nom se sabe pôr o limite entre o pessoal e o político. Quando qualquer de ambas se desequilibram menoscabas a outra parte e isso é um labor de cada quem, preocupar-nos de que o pessoal nom dane o político.
Que projetos tens agora?
Saio com ganas de aportar, mas a prioridade é estabilizar a minha vida. Queria rematar uns estudos mas nom me concedérom o subsídio de excarceraçom devido a que me restavam um par de meses de paro e polo que tenho que procurar emprego.