Onde no século passado se encontrava a singular lagoa de Antela, na Límia, agora estende-se umha chaira de uns 300.000 hectares. A comarca da Límia passou de ser ponto de passo de bandadas de aves migratórias que poderiam mesmo tapar o sol a converter-se numha zona de gadaria intensiva cujos problemas de gestom de resíduos estám a chegar às suas águas.
O Movimento Ecologista da Límia (MEL) vem denunciando há anos a forte carga pecuária da comarca da Límia. Segundo as suas estimativas, atualmente na Límia existem umhas 400 granjas dedicadas principalmente à produçom suína e avícola. Ademais, este território tem que gerir anualmente um milhom de toneladas de resíduos produzidos nas diversas exploraçons pecuárias da comarca, a grande maioria procedentes de granjas integradas na Coren.
Após as denúncias apresentadas por vizinhança e ecologistas pola má gestom que as granjas vinculadas à Coren fam dos seus resíduos gandeiros, convocou-se no passado mês de fevereiro a Mesa da Límia. Nesta, a Junta pretende abordar a problemática dos resíduos reunindo coletivos gandeiros e representantes do movimento ecologista.
Esta convocatória chega após umha intensa mobilizaçom de vizinhas afetadas pola proliferaçom dos resíduos da zona. Em janeiro nascia a plataforma Augas Limpas Já para denunciar a contaminaçom nas águas da Límia polos xurros das exploraçons gandeiras. Meses antes, o MEL e a Sociedade Galega de História Natural denunciavam esta problemática perante o Parlamento Europeu.
Sem dúvida, estes movimentos provocaram que a Junta reacionasse. Existem várias denúncias de descargas descontroladas realizadas pola vizinhança. Umha das últimas foi em janeiro, quando era apresentada umha denúncia perante a Procuradoria do Meio Ambiente e a Confederaçom Hidrográfica Minho-Sil onde se descreviam pontos de descarga de xurros nos montes do Furriolo, um deles um poço em que se tinham observado camions a deitar xurro.
Terra para receber xurros
Manuel Garcia é membro do MEL e tem umha exploraçom em ecológico na Límia. García apresenta a realidade das parcelas em que descansava a lagoa de Antela, que agora se vem atravessadas polas canles de desecaçom: “som terras para receber xurros”.
García pom em questom a utilidade destes xurros, maioritariamente procedentes das granjas porcinas e avícolas, como fertilizante. “Fertilizante para patacas só pode ser o de frango e em doses adequadas”, expóm. Acrescenta que na Límia existem também ‘parcelas de sacrifício’, que estám destinadas só a receber os xurros. Estas parcelas assulagam-se com facilidade quando chove, pois, cria umha camada que impede a porosidade do solo, inutilizando estas terras para qualquer tipo de cultivo. García assinala também que várias das parcelas que se encontram amarelas e secas estám nesta situaçom devido ao emprego do glifosato nelas.
Este ecologista, preocupado há anos com os problemas de contaminaçom da sua comarca, assinala outros pontos em que se descarregam xurros: os prados das exploraçons gandeiras de vacuno que estám a ocupar as terras todas dos montes vizinhais da comarca. Assim, García indica que no Vale do Salas a Coren conta com exploraçons em extensivo em cujo terreno se tenhem recolhido imagens de camions a descarregarem xurro. Também assinala que em Forte Arcada, no concelho de Os Brancos foram cultivadas parcelas destinadas a cereais para onde som também dirigidos os xurros que acabam por se filtrar às águas subterrâneas. Perto destas parcelas, onde antes havia matos de tojo e urzes, também se encontra umha granja de porcino vinculada à Coren.
Todos os dias as estradas da chaira limiá som percorridas por camions de umha capacidade de 28.000 litros da empresa Aser, que é a que conta com a concessom para o transporte de xurros destas granjas. “Realiza este serviço, mas nom se lhe conhece qualquer estaçom para a gestom dos referidos resíduos”, denuncia García. Numha visita do Conselheiro de Meio Rural, José González, a Ginço de Límia o MEL achegou-se a ele para comunicar-lhe, entre outros assuntos, a responsabilidade desta empresa nos derrames descontrolados nas fincas da comarca.
Macrogranjas
Ainda nos terrenos da lagoa e na parte do concelho de Sarreaus, cercada por árvores e a carom de umha das canles principais de desecaçom da lagoa, encontra-se umha das grandes macrogranjas do país. Trata-se da Cooperativa Alta Pedra, da Coren. Esta granja tem capacidade para 5.000 porcos e 300.000 aves, e a sua produçom anual atinge os 15.000 porcos e as 1.650.000 aves. Trata-se de umha gadaria intensiva, sem terra, com grandes estábulos em que os animais estám fechados e onde se lhes vai administrando o seu alimento, maioritariamente composto por soja ou milho transgénico.
Ao seu carom, encontra-se o Centro Tecnológico Ambiental da Coren. Este encontrava-se fechado desde 2014, mas envolvida na polémica dos últimos meses a Coren anunciou a reabertura. Para já, conta com um painel novo a anunciar a sua localizaçom. Este centro para a gestom de resíduos gandeiros fora inaugurado em 2007, e foram precisos 22 milhons para a sua construçom. Esteve em funcionamento no tempo que pudérom desfrutar das primas às energias renováveis. A sua finalidade era criar compost com a parte seca dos resíduos e eletricidade a partir do vapor da parte líquida.
Do ecologismo tem-se denunciado que muitos dos xurros que vinham nos camions nom se processava e acabava por discorrer polos canais de desecaçom da lagoa. Acrescentam que esta estaçom tem capacidade para umhas 110.000 toneladas de resíduos, umha quantidade que ainda deixaria sem possibilidade de gestom a maioria dos xurros produzidos polas granjas da Límia.
Contaminaçom por nitratos
Em 2014 a Sociedade Galega de História Natural (SGHN) publicava um estudo das análises sobre a carga de nutrientes do rio Límia que tinha realizado o CSIC durante os anos 2012 e 2013 sobre a presença de matéria orgánica na sua bacia. Neste trabalho indicava-se que um dos principais pontos de contaminaçom por nitratos encontravam-se um quilómetro águas abaixo de onde estám situadas a Cooperativa Alta Pedra e o Centro Tecnológico Ambiental da Coren. Outros pontos de forte contaminaçom eram parcelas em que foram envorcadas e amontoadas grandes quantidades de galinácea. No seu estudo, o CSIC assinalava que os índices encontrados salientavam que se estava a fazer um uso estendido dos xurros como fertilizante e que é nas práticas gandeiras onde haveria que procurar a origem da contaminaçom do rio Límia.
Por outra banda, a SGHN alertava em 2018 de que a concentraçom média de nitratos aumentou de jeito global na comarca um 39% entre 2014 e 2017, assinalando quatro pontos com excesso de nitratos ‑mais de 50 miligramas por litro-.
Mais impactos
Por parte da Confederaçom Hidrográfica reconhecem-se os problemas de eutrofizaçom ‑alta presença de matéria orgânica- na barragem das Conchas, cujas águas continuam até Portugal. Porém, os problemas de contaminaçom nom acabam por aí, o ecologismo da Límia também denuncia episódios de eutrofizaçom na barragem de Gundim, no rio Faramontaos, e outros casos de derrames e contaminaçom por resíduos devido às granjas de Coren. Por exemplo, no lugar de A Chaira, em Celanova, um vizinho advertia ao MEL da presença de bacias onde se decantavam xurros de umha exploraçom de porcas de cria que logo se esparegiam polo monte.
Do MEL indicam também que numha granja de porcos de Sam Vitoiro, no concelho de Ginço da Límia, tenhem mesmo que fazer poços de 100 metros de profundidade para poder conseguir água potável para os seus animais. Ademais, denunciam que as parcelas adjacentes estám a disposiçom da granja para botar os xurros.
Debate na Límia
Há umhas semanas, a imprensa ourensana recolhia umhas declaraçons de María Teresa Joga, presidenta da Associaçom de Empresários, Gandeiros e Agricultores da Límia (Adegal), em que afirmava que “os agricultores da Límia nom tenhem nada de que envergonhar-se”.
Tais declaraçons indignaram ao ecologismo, que vem reclamando que se aprove um decreto de de gestom de resíduos agrogandeiros, pois o atual código de boas práticas agrárias nom é de obrigado cumprimento.
A recém-nascida plataforma Águas Limpas Já tem entre as suas propostas para combater a contaminaçom, salienta-se umha como urgente: a moratória para a instalaçom de novas exploraçons gandeiras ou ampliaçom das já existentes, enquanto nom haja um estudo completo do impacto que tenhem os resíduos agrogandeiros.
Crescen as granjas de porcino
Daniel Rodício, membro da recém-criada plataforma Águas Limpas Já, bota a olhada para trás na história da Límia e salienta que a desecaçom da lagoa de Antela trouxo consigo um dos modelos mais intensivos de produçom agrícola de toda Europa. “Estes problemas de contaminaçom começárom a aparecer, de jeito bastante agravado, na década de 80. Há denúncias feitas nesses anos e a partir de aí algumas pessoas começam a se organizar e ao longo do tempo todas as alteraçons que vam sofrendo as águas da Límia começarám a ser denunciadas”, expóm Rodício.
Este ativista coloca a crise económica de 2008 como um ponto de inflexom na intensificaçom gandeira da Límia. Esta suba na carga gandeira da comarca provocará problemas de contaminaçom como a eutrofizaçom da barragem das Conchas, umha situaçom que já fora recolhida polo jornal espanhol El País em 2013.
Rodício assinala que um dos motivos da intensificaçom das granjas de porcino na crise é que “o Ministério de Agricultura toma a decisom de que o porcino espanhol tem que ser um dos motores da exportaçom e isso provoca que a nível estatal haja umha produçom de porcino brutal”. Se bem na Galiza nom se manifesta o problema na mesma magnitude em que pode estar presente noutros territórios do estado espanhol como Aragom ou Catalunha, “há duas comarcas em que sim que há umha quantidade mui grande de granjas intensivas como som a Límia e o Deça, entre as duas comarcas reúnem cerca de 40% de porco que se produz no país”, estima Rodicio.
Da plataforma Águas Limpas Já estimam que a carga gandeira da comarca produz umha quantidade de resíduos similar à que produziria umha cidade de 1.800.000 habitantes. “Isso é o que é agora a Límia, umha grande cidade sem gestom de resíduos, e assim acaba tudo no rio Límia”, acrescenta Rodício.
Evoluçom do modelo
“O que se vê nas granjas de porcino é umha transiçom do que eram os modelos europeus de pequenas exploraçons familiares que agora vai a copiar o modelo de produçom americano, onde o que há som grandes macro-granjas de produçom”, expóm este membro da plataforma. “Aqui passa-se de um país de minifúndio a querer fazer um país de grandes projetos agrogandeiros”, acrescenta Rodicio; “mesmo se debate se se pode definir estes como granjas, pois o que som é autênticos políginos cárnicos com grandes concentraçons de animais e de problemas”. Entre estes problemas, assinala o alto consumo de antibióticos por parte dos animais criados nestas macrogranjas.
“Acho que tem que haver um debate social sobre se é rentável para a sociedade exportar carne, se é rentável assumir os custos ambientais que supom este tipo de indústria para a exportaçom, que nom deixa de ser carne low cost, o qual também deixa umhas margens de lucro pequenas”, acrescenta. “Há anos na Galiza era inaudito dizer que para viver do porcino é necessário ter dous mil porcos, e a dia de hoje umha pessoa que está nessa estrutura é consciente que se quer viver do porcino precisa de ter essa quantidade de porcos”, indica Rodício. Esta é a pegada do capitalismo selvagem do século XXI no rural do nosso país.