A crise da covid-19 pujo em relevo as enormes contradiçons das políticas neoliberais e a falácia da legitimaçom ideológica do mercado como organizador supremo e bondoso das relaçons económicas e sociais, ignorando os limites biofísicos do planeta e as consequências dum modelo baseado em grande medida na exploraçom da natureza e mesmo das pessoas.
Com o confinamento nom pudemos sair à rua nem ir aos centros de saúde, exceto por causas mui justificadas, nem atender os nossos hortos de auto-consumo, nem ir ao mercado da nossa vila comprar alimentos, mas sim que pudemos ir aos supermercados em todo momento ou mover-nos em massa para que seguissem a funcionar empresas nom essenciais. Vimos, por exemplo, como fôrom estabelecidas exceçons para as pessoas “sem papeis” poderem trabalhar e assegurar o funcionamento da agroindústria – em condiçons quase de escravitude e em fincas que eram grandes focos de propagaçom do coronavírus – mas sem que isso supugesse poder legalizarem a sua situaçom. As pessoas trabalhadoras fomos mais do que nunca “recursos humanos” para usar e logo deitar fora.
Pôr a vida no centro, os direitos laborais, os cuidados das pessoas, da terra e da natureza são, com frequência, o contrário da lógica da economia capitalista. A consciência da interconexom entre as emergências sanitária, social, ecológica e climática polo metabolismo económico é fundamental para criar um modelo baseado na solidariedade para as pessoas, e nom para o capital. Neste momento é imprescindível o ressugirmento da dimensom comunitária, e a organizaçom social é a nossa ferramenta básica para lograr umha soberania real sobre o essencial (corpo, terra, auga, energia, alimentaçom, saúde…). Nom se trata, porém, dumha tarefa fácil após décadas em que se impujo a hegemonia neoliberal como pensamento único, o individualismo, a desconfiança nas luitas da sociedade e nas suas organizaçons, e o “salve-se quem puder”.
O governo do estado pretende dar a maior parte dos fundos europeus de recuperaçom a grandes empresas à vez que apoia medidas de ajuste estrutural, como reduçons nas pensons, incrementos de impostos ou a manutençom da reforma laboral
O governo do estado pretende hoje dar a maior parte dos 70.000 milhons de euros dos fundos europeus de recuperaçom a grandes empresas, à vez que apoia medidas de ajuste estrutural, como reduçons nas pensons, incrementos de impostos ou a manutençom dos aspetos mais lesivos da reforma laboral. Na mesma linha, Feijó, sem transparência nengumha, anunciou a candidatura de 108 projetos com que aguarda “mobilizar” 9.400 milhons de euros, 3.200 milhons de euros em sete projetos, e umha lei para agilizar as tramitaçons. Apresentou como “iniciativas tratórias” um projeto de fabricaçom de fibras têxteis, de interesse para a Inditex, por 950 milhons de euros, a fábrica mais grande da Europa de hidrogénio verde, a instalaçom de 1.000 megavátios de energia renovável, sobretodo eólica – eólicos em todos os montes, energia cara e sem praticamente benefícios sociais –, ou umha mega-instalaçom de tratamento de purins.
Estamos a piques de assinar umha grossa hipoteca sobre o nosso futuro e nom é na sua maior parte para resgatar as pessoas, nem a saúde, nem a educaçom, nem para atender as pessoas idosas, as autónomas ou a pequena e mediana empresa – que som quem mais emprego geram –, senom para assegurar maiores ganáncias às grandes empresas e para a espoliaçom do país subvencionada por todos nós.