Desde as primeiras semanas do confinamento os sindicatos estám a viver um alude de consultas e denúncias: despedimentos, ERTE, férias forçadas, (im)possibilidades de conciliaçom, centros de trabalho a pôr em perigo a saúde das trabalhadoras… Questons que mostram o panorama que vem por diante e que se dam, ademais, num cenário totalmente alheio ao funcionamento natural do sindicalismo de base, o do distanciamento social, e que se acompanham de decisons e de mudanças legislativas continuadas.
Nas novas leis e decretos reconhece-se que a atividade sindical fica fora das limitaçons marcadas, mas fai-se de forma o suficientemente ambígua como para deixar dúvidas e, ademais, num cenário geral de restriçons de mobilidade e reuniom que complica, por exemplo, a realizaçom de assembleias nos centros de trabalho ou a convocatória de mobilizaçons em que nom se poda ou nom se queira controlar a totalidade da assistência. Levamos meses, por palavras de Pastora Filigrana, sendo testemunhas do estreitamento do espaço público.
Em paralelo a isto, no meio da confusom e da desinformaçom, foi-se assentando o discurso da responsabilidade coletiva, de que todas estamos juntas nisto e de que a solidariedade nom é outra cousa que respeitar a lei. No seu discurso de guerra quigérom meter-nos na trincheira com a patronal e pedírom-nos, em favor da recuperaçom económica, que apoiássemos negócios sustentados durante anos na exploraçom laboral.
No seu discurso de guerra quigérom meter-nos na trincheira com a patronal e pedírom-nos, em favor da recuperaçom económica, que apoiássemos negócios sustentados durante anos na exploraçom laboral.
E ainda que nós sabemos que nada disso é real, agora mesmo opor-se ao discurso dominante nom é tam simples como deveria, porque fôrom conseguindo que nos resignássemos à soidade e, para além das restriçons impostas pola legislaçom, temos que fazer frente às limitaçons que nos impomos nós próprias. E é que levamos meses a viver com medo: à enfermidade, a ficar desempregadas, a que nos multem, à crise que vai vir… E foi calando em nós tamém a dúvida de se é realmente responsável reunir-nos, deslocar-nos, mobilizar-nos.
Talvez é hora de reinventar a açom sindical, mas quiçá tamém é tempo de lembrar o evidente: que as mudanças só se conseguem com protesto e com mobilizaçom social e que por vezes o verdadeiramente responsável é a desobediência. Porque quem está a pôr em perigo a nossa saúde nom som as pessoas que se reúnem e se mobilizam para garantir direitos coletivos, mas quem nos amoreia em fábricas ou em escritórios para seguir a tirar lucro à nossa conta.
Vivemos tempos de cortes de direitos laborais e sociais, de reconfiguraçom do mercado de trabalho, de precarizaçom das nossas condiçons de vida, de privatizaçom dos serviços públicos. Para poder frear todo isto, a atividade sindical é mais necessária do que nunca. E o sindicalismo, se é útil, só pode ser valente, porque implica levar o conflito a espaços incómodos. E é muito mais simples ser valentes se estamos juntas.