O despejo do CSOA Escárnio e Maldizer em Compostela no final do passado maio, véu trazer para a frente da atualidade mediática algumhas questons políticas que costumam ficar tapadas polas polémicas televisivas sobre a gestom institucional. A insistência dos média filoestatais em condenar e criminalizar a ocupaçom de espaços arruinados pola propriedade privada ou a violência defensiva som exemplo. Também a desobediência a mecanismos administrativos de regulamentaçom do protesto, com centos de pessoas a desobedecerem os agoiros de ‘surtos de violência’ em ‘manifestaçons ilegais’, ponhem de manifesto que algumhas fendas recorrentes no discurso da ordem e o cidadanismo volvérom ser abertas nestas semanas.
Na manhá do passado dia 30 de maio, um contingente de várias dúzias de polícias de choque da Unidade de Intervençom Policial (UIP) espanhola fecham antes das 8 da manhá a rua Algália de Riba, em Compostela. Procedem logo à invasom e encerramento do prédio com o número 11, cinco plantas ocupadas desde 2014 polo CSOA Escárnio e Maldizer. Os ‘antidistúrbios’ realizam as primeiras cargas contra um grupo de umhas quinze pessoas que se achega para protestar, e que em pouco tempo chegará à cinquentena.
a violência estatal deixará mais de cinquenta pessoas feridas
Ao chamado para se concentrar contra o despejo do centro social responderám nesse mesmo serám vários centos de pessoas, que decidem sair em manifestaçom pola zona velha de Compostela. Logo da tentativa da polícia de choque de fechar o passo com um cordom policial, que irá retrocedendo dezenas de metros ao avance da marcha, começa a violência estatal, que deixará mais de cinquenta pessoas feridas de diversa consideraçom por golpes de porra e disparos de bolas de borracha dirigidos diretamente contra as manifestantes, e sem o obrigado rebote no chao que recolhem as diretrizes dos corpos policiais.
As cargas policiais sucedem-se, fracionando a manifestaçom. Enquanto grupos de manifestantes optam pola desobediência nom-violenta, noutra ubicaçons defendem-se com o lançamento de garrafas e pedras, e alguns coletores queimados provocam cortes de trânsito prolongados durante algumhas horas.
A solidariedade estende-se
No dia a seguir, centos de pessoas saírom de novo à rua. A violência do dia anterior, e a exagerada presença policial nesse mesmo dia ‑até 8 carrinhas da UIP- nom dissuadírom o pessoal de percorrer as ruas da cidade durante quase duas horas, baixo palavras de ordem como “se tocam a umha, tocam-nos a todas”, “dez, cem, mil centros sociais” ou “contra o estado e a sua violência, agora e sempre resistência”.
As mostras de apoio nestes dias som numerosas e diversas. Organizaçons do independentismo juvenil como Briga e Isca, coletivos e okupaçons doutros territórios ocupados polo estado espanhol ou um manifesto assinado por 17 centros sociais do país “em solidariedade com o CSOA Escárnio e Maldizer e contra a repressom policial”.
‘Um despejo, outra okupaçom’
Do Escárnio e Maldizer convoca-se para umha nova manifestaçom, no sábado 10 de maio, baixo o lema ‘Bloco a bloco desfám-se os muros. Se nos tiram espaços, multiplicamos solidariedade’. A campanha mediática do medo intensifica-se. A polícia “teme novos distúrbios”, a manifestaçom é qualificada de “ilegal” polo El Correo Gallego, para asinha retificar e qualificá-la de “alegal”. Por meio, os sindicatos policiais SUP e UFP aproveitam para reclamarem a instalaçom de umha base fixa da UIP em Compostela, polo “perigo jihadista” e “pola violência das manifestaçons okupas”.
O operativo policial na jornada vai contar com, no mínimo 10 carrinhas da UIP e o cento de agentes correspondentes, que se vam fazer notar já nas horas prévias à manifestaçom com diversas identificaçons e a retirada de roupa, pancartas e bandeiras. Ou mesmo os botequins portáteis preparados por um serviço sanitário auto-organizado para a mobilizaçom. A estes somariam-se uns quarenta agentes à paisana, que vam realizar a prática totalidade da sua intervençom sem nengumha identificaçom visível.
A manifestaçom, de perto de mil pessoas, decorre pola zona nova até a porta do edifício do Peleteiro, que se abre nesse momento e dúzias de pessoas acedem ao espaço ao berro de "um desejo, outra okupaçom"
A manifestaçom, que se aproximou ao milheiro de pessoas, decorre pola zona nova até chegar à porta do pátio do antigo edifício do Peleteiro, propriedade na atualidade do SAREB. A porta abre-se nesse momento e dúzias de pessoas acedem ao espaço, ao berro de ‘um despejo, outra okupaçom’.
À porta do edifício, que funcionou como esquadra da polícia espanhola entre 2009 e 2011, forma-se umha concentraçom que protege o acesso ao edifício. A tensom marcada polos cordons policiais circundantes resolve-se à meia hora, com umha longa sucessom de cargas, novamente com bolas de borracha e tendo que arrastar também um par de dúzias de pessoas que desobedecem sentadas no chao as ordens e ameaças policiais. Logo de meia hora produz-se o assalto do pátio do espaço okupado, iluminado polo foco de um helicóptero policial. Do teito de umha carrinha ao carom do muro disparam-se bolas e som lançadas bengalas e botes de fume. Com grande violência nalguns casos, umhas 70 ativistas som identificadas e expulsadas ‑10 delas passando pola esquadra, diante da qual se concentram umhas 200 pessoas-.
A resposta repressiva
A jornada de 10 de junho rematava com a liberaçom de duas pessoas detidas, acusadas de resistência à autoridade. Dias depois, a Polícia anuncia à imprensa a proposta para tramitaçom de 400 sançons administrativas, com quantias dos 600 aos 30.000 euros, para 116 identificadas na manifestaçom. O SUP decide fazer-se notar reclamando “sançons iminentes e exemplares para as pessoas que causárom os distúrbios”.
Enquanto nom se concretizam essas sançons, o julgado de instruçom número 3 de Compostela tem iniciado diligências a respeito dos acontecimentos, e em 20 de março fôrom detidas e postas a disposiçom judicial duas pessoas em ourense, duas na Corunha e duas em Compostela, com acusaçons que na maioria dos casos acumulam delitos de ‘danos’, ‘desordens’, ‘resistência à autoridade’ e ‘atentado contra a autoridade’. Na instruçom já figuram ademais outras dez pessoas identificadas que nom fôrom detidas, o que evidencia o arbitrário e a vontade espetacular da realizaçom de detençons que poderiam resolver-se com umha citaçom.
a Polícia anuncia à imprensa a proposta para tramitaçom de 400 sançons administrativas, com quantias dos 600 aos 30.000 euros, para 116 identificadas na manifestaçom
Um balom mediático de criminalizaçom
No dia seguinte ao despejo do CSOA Escárnio e Maldizer começou a polémica mediática alimentada na imprensa burguesa. Especialmente o local El Correo Gallego, que dirigiu de imediato os seus ataques contra, por um lado, os ‘violentos’ okupas e, por outro, o alcalde de Compostela.
Durante dias, o El Correo e La Voz de Galicia focárom os seus esforços em tirar importância de umhas imagens em que o injustificável da intervençom policial parece evidente. Funcionárom ademais como altifalante do Sindicato Unificado de Polícia, que amparando-se no suposto labor de defesa dos interesses económicos dos polícias, se permitia nestas semanas exercer de aparato de comunicaçom paraestatal, justificando e aplaudindo a estratégia repressiva. Entre as pérolas lançadas polos seus porta-vozes, a proposta para condecoraçom dos agentes responsáveis polas cargas indiscriminadas de 30 de maio. Também a justificaçom para essas cargas num espetral “coquetel molotov” que teria sido dirigido contra o cordom policial mas que em nengum momento figura em qualquer atestado ou em qualquer das múltiplas gravaçons e fotografias dessa jornada.
Também ‘fontes policiais’ declaram à imprensa que na mobilizaçom foi repartido um texto com recomendaçons de atuaçom no caso de ser detida “similar aos distribuídos polo entorno de ETA”, e alguns comentaristas dos média convencionais botavam mao do desgastado paralelismo com a ‘kale borroka’ para criminalizar os distúrbios.
Também o mundo institucional se via agitado polo momento político e obrigado a intervir. No foco mediático ficárom as posiçons do grupo de governo de Compostela Aberta e do alcalde Martiño Noriega. Da pretensom de ‘equidistância’, e sem questionar em momento nengum o monopólio estatal da violência, rejeitam “todo tipo de violências assim como os inadmissíveis danos ao mobiliário urbano, locais comerciais e património da cidade”. Porém pronunciam-se contra a ‘desproporçom’ do operativo e as cargas. Isso valerá-lhes umha campanha de assédio do El Correo Gallego e representantes do Partido Popular. A Unión Federal de Policías di estudar “medidas legais” contra ele por essas declaraçons, numha mostra da surpresa e incredulidade do aparato ideológico perante qualquer matiz na devida adesom às açons judiciais e policiais.