As eleiçons no Parlamento Vasco em setembro de 2016 deixárom no ar a sensaçom de que nom existe alternativa real ao PNV, sensaçom à qual, imaginamos, o eleitorado galego de esquerdas nom é alheio, tam acostumado a maiorias absolutas dos quase-eternos moradores da Junta.
Acontecia apenas cinco anos após a que recém-ilegalizada esquerda abertzale, integrada em Bildu, obtivesse uns resultados eleitorais magníficos que outorgárom entre outras cousas o governo da Deputaçom de Gipuzkoa e quatro desde que a coligaçom, com a sua forma atual EH Bildu (Aralar, Eusko Alkartasuna, Alternatiba e Sortu), irrompesse como segunda força com 21 escanos no parlamento de Gasteiz, todo isto com o seu líder Arnaldo Otegi na prisom.
É evidente para qualquer observadora que a grande maioria das expetativas nom se tenhem cumprido, nem parece que se vaiam cumprir a curto prazo
Para além dos resultados eleitorais, fôrom anos de efervescência e ilusom para milheiros de bascos e bascas. Sem a rémora da luita armada, com a presença nas instituiçons de umha coligaçom como EH Bildu capaz de aglutinar de forma duradoira distintas sensibilidades e ademais começar a conquistar cotas de poder… Tudo apontava a que viriam mudanças importantes no devir do chamado “conflito basco”.
É evidente para qualquer observadora que a grande maioria das expetativas nom se tenhem cumprido, nem parece que se vaiam cumprir a curto prazo. O estado espanhol nom se tem desviado nem um bocado da sua estratégia e nem sequer o PNV –a dia de hoje numha das suas versons mais “hispanofílicas” – viu-se obrigado a variar a tradicional ambiguidade em que se move de forma tam confortável.
“Nom há processo de paz”
A decisom da ETA de abandonar a prática armada revolucionou o cenário político basco, mas como o próprio Arnaldo Otegi dixo poucos meses antes de sair da prisom: nom há processo de paz. E nom há processo porque nom há ninguém do outro lado da mesa, caso existir mesa.
Contudo, sim se tem dado um processo dentro de EH Bildu que, na opiniom de muitas vozes críticas da esquerda, nom apenas tenhem acusado o estancamento eleitoral da coligaçom –cousa esperável por outra parte, umha vez superada a efervescência pós-legalização‑, senom, o que é estrategicamente mais grave, um debilitamento da mesma como referente alternativo. Esse processo nom é outro do que a paulatina transformaçom num partido político comum, precisamente num momento em que a figura do partido clássico está mais em entredito do que nunca.
Essa transformaçom nom se tem limitado a questons puramente formais. Assim, após o cessamento da atividade armada por parte de ETA temos assistido a mudanças impensáveis. A questom territorial, por pôr um exemplo, já nom é tam negociável; umha hipotética independência da Comunidade Autónoma Basca, deixando Nafarroa e Iparralde para melhores tempos, seria um objetivo admissível, sendo factível. Outra mudança importante é a aceitaçom de saídas individualizadas e dentro da legalidade vigente para presas e presos. (A propósito, a política penitenciaria de Madrid mantém-se tam inamovível como sempre estivo).
Arnaldo Otegi dixo poucos meses antes de sair da prisom: nom há processo de paz. E nom há processo porque nom há ninguém do outro lado da mesa, caso existir mesa
O politólogo Asier Blas afirmava, após as eleiçons da Comunidade Autónoma Basca em 2016 que “EH Bildu diluíra a sua identidade e deixara em segundo plano o seu perfil de força de esquerda, apresentando-se a si própria como um PNV progre”. Essa opiniom é compartilhada por nom poucas vozes da esquerda abertzale sociológica basca. De facto o devir de EH Bildu até o de agora tem recebido críticas de alguns dos setores mais ativos do movimento popular.
Viagem à “normalidade”
Num artigo publicado por Viento Sur em 2015, Gonzalo Fernández Ortiz de Zarate, militante de Alternatiba –um dos partidos que conforma EH Bildu‑, analisava a estratégia política tanto da coligaçom basca como de Podemos, encontrando notáveis paralelismos entre ambas. Di Fernández que ambas as formaçons, cada umha com os seus matizes, optárom polo “assalto aos céus”, é dizer, “pola procura de umha vitória rápida e contundente que permitiria controlar os movimentos institucionais para, desta forma, possibilitar mudanças profundas”.
Deixaremos de lado, por falta de espaço, a análise dos inconvenientes intrínsecos que umha estratégia assim poda ter para umha força de esquerdas –recomendamos, em qualquer caso, a leitura do artigo original completo-; limitemo-nos a assinalar que, respeito de EH Bildu, tal estratégia leva para, entre outras cousas –sempre em palavras de Fernández‑, a tentativa de ser reconhecido “como umha força política séria e nom especialmente confrontativa”, tentativa que inclui “periódicos chamados públicos ao PNV” em chave pactário. PNV que, pola sua parte, nom duvida em apelar fantasmas do passado recente cada vez que desacredita a esquerda abertzale.
Em paralelo, o fim da luita armada tem ocasionado que o Conflito com maiúsculas, durante as décadas de eixe absoluto do debate político em Euskal Herria, tenha deixado espaço a conflitos em plural, alguns já preexistentes ainda que com pouco eco mediático e outros surgidos ou agravados ao fio da crise sistémica do capitalismo. É precisamente nesse caldo de cultivo onde florescérom numerosas experiências alternativas e/ou de desobediência, que em muitos casos se tenhem oposto frontalmente às políticas do PNV, e que em nom poucas ocasions se tenhem sentido dececionados com a resposta de EH Bildu. Há exceçons, com certeza.
O difícil repto de governar a esquerda real
Nom se deve deixar de assinalar que, com umha estratégia acertada ou nom, é inegável que na esquerda abertzale em particular e em EH Bildu em geral há vontade de mudar realmente as cousas. Acontece que nem sempre é fácil. Quiçá o melhor exemplo sejam os quatro anos de gerência da Deputaçom de Gipuzkoa por parte da coligaçom abertzale, onde cada iniciativa com certa socializaçom gerou umha virulenta resposta mediática, política e empresarial.
Especialmente notáveis fôrom as tentativas de desprestígio de duas iniciativas que nom tardárom em ser desmanteladas polo PNV umha vez recuperou o poder: o imposto às grandes fortunas –inédito no estado espanhol‑, e o plano de gestom de resíduos tam aplaudido pola Uniom Europeia como deostado pola oposiçom. Menos de dous anos após as eleiçons, o atual governo guipuscoano tem iniciado a construçom de umha incineradora que nem só vai contaminar o ar senom que endividará durante décadas os municípios da província. O cometido de tal infraestrutura gerou umha importante resposta popular, enquanto EH Bildu optou por manter-se num discreto segundo plano, lamentando-se segundo parece do custo eleitoral que trouxo para ele “ter-se metido no do lixo”.