
Caneando atitudes machistas, escasseza de recursos e falta de referentes, o futebol feminino galego parece avançar devagar da marginalidade à construçom dum espaço próprio dentro do desporto mais popular por praticantes e afeçom.
No quantitativo, o número de licenças tramitadas na Galiza, segundo dados da Real Federaçom Galega de Futebol (RFGF), cresce sensivelmente cada temporada: 2014–15 fôrom 2.080, subindo até as 2.609 em 2015–16 e chegando às 2.879 o passado ano.
Há mais mulheres a jogar futebol, mas também vemos umha melhora no qualitativo: as principais competiçons ganham relevância e as jogadoras gozam dumhas melhores condiçons e expetativas profissionais.
O Deportivo da Corunha aspira a ascender a Primeira Divisom e chegar ao profissionalismo
Hoje, para umha equipa feminina galega, a possibilidade de chegar inteiramente ao profissionalismo passa por disputar a liga de Primeira Divisom Feminina da Real Federaçom Espanhola de Futebol (RFEF), umha categoria que está a experimentar um importante crescimento nos últimos anos devido a umha certa difusom mediática (mas ainda mínima em comparaçom com os seus colegas masculinos), a chegada de patrocínios e o apoio das estruturas de clubs com potentes secçons masculinas.
Caminho ao profissionalismo
À Primeira Divisom aspira chegar a curto praço a equipa feminina do Deportivo da Corunha, batizada oficialmente como Deportivo Abanca numha mostra dos novos investimentos publicitários que está a captar o futebol feminino. Após as dez primeiras jornadas, as corunhesas som líderes do grupo 1 da Segunda Divisom, categoria na qual participam 110 clubes divididos em seis grupos. Dous ascenderám à máxima categoria, e o Dépor trabalha com o objetivo de ser um deles. De consegui-lo nesta temporada, faria‑o em tempo recorde: o Deportivo estreou-se em Segunda no passado ano, logo de absorver a praça do Orzám.

A criaçom das duas equipas femininas do clube (que também conta com umha equipa “B” na Primeira Galega Feminina) chegou no verao de 2016, favorecida pola demanda social dumha cidade com grande tradiçom de futebol feminino: na Corunha nasceu o histórico Karbo, fundado em 1968 e que, logo de integrar-se na estrutura do Deportivo, ganhou em quatro ocasions (1981, 1983, 1984 e 1985) a Copa da Rainha, naquela altura a única competiçom oficial de futebol feminino a nível estatal. A primeira liga organizada pela RFEF nom chegaria até a temporada 1988–89, quando o Karbo acabava de desaparecer.
O Deportivo é hoje a equipa galega com maiores possibilidades de chegar à elite, mas jogando em Segunda temos nesta temporada 2017–18 outros clubes fundamentais para entendermos o desenvolvimento do nosso futebol feminino: Sárdoma, Atlántida de Matamá, Victoria C.F. (A Corunha), Victoria F.C. (Compostela) e Peluqueria Mixta Friol fazem também parte do grupo 1, competindo com equipas asturianas e cântabras.
Há menos dum ano, em janeiro de 2017, o clube corunhês anunciava a assinatura dos dous primeiros contratos profissionais da história do futebol feminino galego. Teresa Abelleira (Pontevedra, 2000) e Raquel Béjar (As Pontes, 1988) som as duas jogadoras que abrírom um caminho ao profissionalismo na Galiza que poderia servir para que as futebolistas mais destacadas tenham possibilidades mais alá da emigraçom.
Um cenário que parecia impossível para jogadoras de geraçons anteriores. Foi o caso de Vero Boquete (Compostela, 1987), estrela indiscutível do nosso futebol feminino e agora no PSG francês depois de jogar em ligas como a sueca, a estadunidense ou a alemã, ou o de Mari Paz Vilas (Vilagarcia, 1988), hoje goleadora do Valencia C.F. de Primeira Divisom.
Figuras como a de Boquete e Vilas fôrom fundamentais para a criaçom de referentes num mundo no que a presença das mulheres foi, durante muito tempo, testemunhal. Um futebol feminino sem mais aspiraçons que a diversom que ainda é o predominante nas duas ligas que organiza a RFGF: a Primeira e a Segunda Divisom da Liga Galega Feminina, que sumam 66 equipas.
“Move-nos a paixom”
A U.D. Ourense fijo da sua secçom feminina umha parte irrenunciável do seu modelo popular e horizontal
Na secçom feminina da Uniom Deportiva Ourense encontramos um bom exemplo de clube amador que cuida o futebol feminino. Com as suas jogadoras sénior competindo na Primeira Galega, a aposta da U.D. Ourense por esta equipa é parte irrenunciável do seu modelo de clube popular e horizontal. “Somos um clube de acionariado popular e a assembleia decidiu apostar no futebol feminino”, explicam a Novas da Galiza do clube. “Quando fundamos a U.D. Ourense, há três anos, na cidade nom havia nengumha equipa feminina. Ao início, tivemos alguns problemas a nível institucional, com os campos para adestrar… Mas vamos resolvendo-os. A aposta está a dar resultado: nos jogos em casa temos sempre umhas duzentas ou trezentas pessoas nas bancadas”.
O seu adestrador, Rubem Garcia, reconhece um “grande avanço” no futebol feminino, que agora “tem estruturas organizativas sérias e técnicos especializados”, mas lamenta que a preocupaçom da Federaçom polas ligas femininas é “bastante deficiente”. “Fam-no um pouco por cumprir com o expediente”, comenta. “Haveria que potenciar a criaçom de mais equipas e torneios”, propom.
Falamos com três das jogadoras do clube, Loh, Laura e Pacy, para que nos contem como vem o futebol feminino galego hoje e as mudanças que observam desde que elas começárom a jogar.

As três coincidem em assinalar melhoras e avanços. “Há muitas mais equipas, mais qualidade. Está-se-lhe a dar cada vez mais visibilidade e há maior apoio económico”, comenta-nos Loh, que começou a jogar há nove anos. O mesmo tempo leva no futebol Laura. “Como a grande maioria naquele tempo, eu era a única rapariga da equipa. Hoje, as meninas tenhem a oportunidade de dar estes primeiros passos em equipas femininas”. Coincide nesta ideia Pacy: “Hoje é mais frequente ver miúdas que jogam desde os cinco ou seis anos. Há muitas escolas e clubes com equipas”.
Mas há muito para melhorar. “É certo que na Galiza umha rapariga nom vai viver do futebol. Sei de vários casos de jogadoras que tivérom que ir jogar a equipas de fora e é realmente umha lástima”, lamenta Loh. Laura considera que “o futebol feminino galego está ainda longe de onde deveria estar. Nom temos representaçom na máxima categoria e a Segunda Divisom é muito desequilibrada”. “Falta conseguir que algumha equipa ascenda a Primeria”, coincide Pacy, “porque isso geraria mais expectaçom”.
As três sublinham a importância da projeçom mediática para que o futebol feminino siga a crescer. “Mais jogos na televisom e mais notícias na imprensa”, resume Loh. “Começamos a estar presentes nos meios e no boca a boca da gente, mas ainda fica muito caminho para que se nos valore como merecemos”, di Laura.
As jogadoras coincidem em assinalar que houvo melhoras, mas insuficientes
“Quando estou a jogar, estou alheia ao externo, mas sim que escuito comentários machistas quando vejo jogos da bancada”, comenta-nos Pacy quando falamos de machismo no futebol feminino. “Desde pequena tivem que suportar comentários e burlas por ser umha rapariga que jogava futebol”, conta Laura. “Numha ocasiom um árbitro dixo-nos a mim e às minhas companheiras que nom sabia para que o mandaram ali se o que fazíamos nom se podia nem considerar desporto”, lembra. “Foi denigrante, mas, felizmente, cada vez há menos condutas deste tipo”.
E é que Laura é otimista e, apesar das dificuldades, apela as jogadoras para liderar a evoluçom do futebol feminino: “Somos as próprias jogadoras as que temos que luitar por melhorar o futebol feminino. Com as nossas ganas e a nossa ambiçom por crescer e aprender, com o esforço, o compromisso e a disciplina de todas as que formamos esta grande família. Trabalhando por ser cada vez mais profissionais e ser tratadas como tais. A nossa atitude tem que ser a base, porque a nós nom nos movem motivos económicos, senom a paixom por este desporto”.