Há um tempo contava-anos, alguém do setor do livro, o absurdo de umha situaçom vivida numha livraria. Umha clienta acudia a recolher um livro comprado através da plataforma mais conhecida de venta online e, umha vez aberta a caixa, o tam esperado objeto apresentava umha tara. Cara estupefacta e halo de desencanto. A nossa testemunha involuntária comentou-lhe: “Se o comprasses diretamente nesta livraria já teriam comprovado as condiçons do mesmo, ou de nom ser assim da livraria sairias com um outro exemplar em boas condiçons”.
Umha das ameaças diretas ao comercio de proximidade é a venda através das grandes plataformas online. O gigante começou vendendo livros aproveitando o “prestígio” histórico associado a este produto. Poderia ter começado vendendo qualquer outra cousa. Mas escolhérom os livros. A propósito, essa Corporaçom Única, com o monopólio e controle da economia e das vidas das pessoas, que líamos nos livros de distopias futuristas, já está, como quem di, entre nós, e nom fazemos mais do que alimentá-lo.
Podemos entender a comodidade de dar um clique e receber as cousas na porta da casa e também a competitividade dos preços pola desapariçom de intermediaçons e a precarizaçom dos processos. Para além disso, para o caso dos livros, roçando a ilegalidade já que o seu preço é fixo, e só se podem ter descontos em contadas exceçons, algo que o protegeu da competência agressiva até o de agora.
Porém, esta comodidade esconde um sistema pernicioso que destrói a cadeia do livro e afeta a todos os elos, as livrarias entre eles. As livrarias som espaços em que, ademais da venda de livros, acontecem muitas outras cousas, dam-se encontros entre leitoras, há apresentaçons, obradoiros, conversas profundas sobre os livros e sobre as vidas. Há descobertas literárias, mesmo terapéuticas muitas das vezes. Amazon provoca que estes espaços desapareçam.
Ademais precariza todo o que toca, por exemplo as pessoas que fam os repartos, e o setor inteiro, por contágio.
O pequeno comércio tem todas as limitaçons imaginadas para manter o equilibro no jogo da competência criada, dirigida e liderada pola corporaçom do sorriso de cartom
A vida nos bairros vê-se também afetada polo efeito negativo das compras através das grandes plataformas com a conseguinte desapariçom do comercio de proximidade. Um ecossistema de comércios variado dá serviço a um amplo perfil de populaçom. O pequeno comercio tem todas as limitaçons imaginadas para manter o equilibro no jogo da competência criada, dirigida e liderada pola corporaçom do sorriso de cartom. Isto foi bem visível durante o confinamento, o contraste entre os bairros onde seguia a haver vida e as pessoas tinham perto os subministros básicos, e os bairros (chame-se-lhe zona turistificada, na nossa cidade) onde todo estava fechado. Fica aqui a ideia de facer plataformas cidadás em favor de um modelo alternativo das nossas vilas e cidades.
Consumir no pequeno comercio supom umha eleiçom consciente. É umha decisom que exige um compromisso com a própria comunidade, com a sustentabilidade. Escolher onde se consome e também o que se consome é um ato político com muito poder de influência no meio em que se vive. Queremos um modelo de cidade e de comércio onde convivam lojas tradicionais e atuais, que sejam úteis, que tenham qualidade, que tenham calidez, que empreguem as pessoas com contratos dignos e que optem por um consumo responsável e nom depredador do planeta.