Periódico galego de informaçom crítica

Ervas malditas

por
ne­rea v. lameiro

Dous po­ten­tes e fal­sos ar­gu­men­tos se uti­li­za­ram para de­sa­cre­di­tar a me­di­cina tra­di­ci­o­nal ba­se­ada no uso de er­vas me­di­ci­nais frente à me­di­cina mo­derna ba­se­ada nos me­di­ca­men­tos de sín­tese. Primeiro foi ne­ces­sá­rio des­pres­ti­giar a sua uti­li­dade: as er­vas nom fam nada. O se­gundo ar­gu­mento apa­re­ceu de­pois, ga­ran­tindo a im­pos­si­bi­li­dade do re­torno: as er­vas me­di­ci­nais som muito pe­ri­go­sas. Mesmo as­sim, o pres­tí­gio cu­ra­tivo de al­gumhas des­tas er­vas mal­di­tas con­ti­nua vivo e há que defendê-lo.

A ruda (Ruta gra­ve­o­lens), a que cheira bem e cheira mal e es­panta as mei­gas se le­va­mos um ra­mi­nho no peto, é umha des­tas er­vas mal­di­tas. Medra às por­tas de tan­tas ca­sas e som tan­tas as tes­te­mu­nhas vi­vas e as con­su­mi­do­ras ha­bi­tu­ais da ruda, que re­sulta di­fí­cil acre­di­tar nos sím­bo­los com ca­vei­ras das guias de er­vas me­di­ci­nais, que sem­pre alar­mam: a ruda é abor­tiva. É‑o, como o é, por exem­plo, o po­ejo, a erva que to­ma­mos cada vez que pe­di­mos um chá de menta de­pois dumha co­mida co­pi­osa. Aliás, an­tes que como abor­tiva, a ruda, igual que o po­ejo, pode uti­li­zar-se como an­ti­con­ce­tiva; a mal­di­çom de mui­tas das er­vas bem de muito longe, e está li­gada à per­se­gui­çom do con­trolo por parte das mu­lhe­res da sua pró­pria se­xu­a­li­dade. A ruda vai bem para as do­res de bar­riga das mu­lhe­res, pois é um es­pas­mo­lí­tico e eme­na­gogo ex­ce­lente; po­demo-la uti­li­zar como es­to­ma­cal, se­dante dos ner­vos e da dor, em en­fer­mi­da­des que cur­sem com fe­bre e, mesmo apli­cada do mesmo modo que para es­pan­tar as mei­gas, para pro­ble­mas cir­cu­la­tó­rios como as va­ri­zes, pois é um dos fle­bo­tó­mi­cos mais efi­ca­zes que re­co­nhece a mo­derna fitoterapia.

Primeiro foi necessário desprestigiar a sua utilidade: as ervas nom fam nada. O segundo argumento apareceu depois, garantindo a impossibilidade do retorno: as ervas medicinais som muito perigosas.

A dor­mi­deira (Papaver som­ni­fe­rum) é muito mais di­fí­cil de ver à porta das ca­sas, ainda que mui­tas lem­bra­mos que nom era as­sim há ape­nas um par de dé­ca­das, quando co­me­çou a pior das di­fa­ma­ções: é umha droga. Sim, é‑o re­al­mente, e dela ob­tém-se fa­cil­mente o ópio, por meio de umha sim­ples in­ci­som da cáp­sula ima­tura da flor. Mas pa­rece que tra­di­ci­o­nal­mente fa­zia-se an­tes bem o uso da flor, co­zida ou em chá, e uti­li­zava-se prin­ci­pal­mente como se­dante e cal­mante da dor. Aquelas pes­soas que te­nhem pro­ble­mas para dor­mir po­diam ex­pe­ri­men­tar o sim­ples facto de co­lo­car baixo da al­mo­fada um pu­nhado de flo­res da dor­mi­deira para com­pro­var os efei­tos de esta po­tente droga, sem es­que­cer que droga é si­nó­nimo de medicamento.

Outras, as que nom som dro­gas nem abor­ti­vos, som po­ten­tes ve­ne­nos. A mais de umha sur­pre­ende o uso tra­di­ci­o­nal ainda vivo da ce­ruda, ce­dro­nha, ce­li­dó­nia, erva-an­do­ri­nha ou erva das ver­ru­gas (Chelidonium ma­jus) so­bre gol­pes e fe­ri­das aber­tas ou do seu lá­tex dis­sol­vido em auga para a gas­trite. Como pode ser, se a ce­ruda é mui ve­ne­nosa, se queima? É bas­tante co­mum o co­nhe­ci­mento so­bre a uti­li­dade do lá­tex ama­relo da erva para quei­mar as es­pu­lhas, mas está a fi­car no es­que­ci­mento a sua uti­li­dade como re­mé­dio para pro­ble­mas he­pá­tico-bi­li­a­res, bron­quite, en­fer­mi­da­des da pele e dos olhos, bó­cio, do­res den­tais, do­res mens­tru­ais, se­dante e anal­gé­sico,.. E tan­tas uti­li­da­des mais que se re­su­mem no dito “a ce­ruda to­dos os ma­les cura”.

Venhem tem­pos de rom­per com a mal­di­çom. Andamos à pro­cura de ou­tras ma­nei­ras de sa­nar, sen­ti­mos que a na­tu­reza pode for­ne­cer-nos a me­di­cina que ne­ces­si­ta­mos. Já só fica rom­per com a bar­reira do auto-ódio que nos im­pede en­con­trar a sa­be­do­ria e os re­cur­sos ne­ces­sá­rios aqui, en­tre a nossa gente e na nossa Terra.

O último de O bom viver

Ir Acima