Dous potentes e falsos argumentos se utilizaram para desacreditar a medicina tradicional baseada no uso de ervas medicinais frente à medicina moderna baseada nos medicamentos de síntese. Primeiro foi necessário desprestigiar a sua utilidade: as ervas nom fam nada. O segundo argumento apareceu depois, garantindo a impossibilidade do retorno: as ervas medicinais som muito perigosas. Mesmo assim, o prestígio curativo de algumhas destas ervas malditas continua vivo e há que defendê-lo.
A ruda (Ruta graveolens), a que cheira bem e cheira mal e espanta as meigas se levamos um raminho no peto, é umha destas ervas malditas. Medra às portas de tantas casas e som tantas as testemunhas vivas e as consumidoras habituais da ruda, que resulta difícil acreditar nos símbolos com caveiras das guias de ervas medicinais, que sempre alarmam: a ruda é abortiva. É‑o, como o é, por exemplo, o poejo, a erva que tomamos cada vez que pedimos um chá de menta depois dumha comida copiosa. Aliás, antes que como abortiva, a ruda, igual que o poejo, pode utilizar-se como anticoncetiva; a maldiçom de muitas das ervas bem de muito longe, e está ligada à perseguiçom do controlo por parte das mulheres da sua própria sexualidade. A ruda vai bem para as dores de barriga das mulheres, pois é um espasmolítico e emenagogo excelente; podemo-la utilizar como estomacal, sedante dos nervos e da dor, em enfermidades que cursem com febre e, mesmo aplicada do mesmo modo que para espantar as meigas, para problemas circulatórios como as varizes, pois é um dos flebotómicos mais eficazes que reconhece a moderna fitoterapia.
Primeiro foi necessário desprestigiar a sua utilidade: as ervas nom fam nada. O segundo argumento apareceu depois, garantindo a impossibilidade do retorno: as ervas medicinais som muito perigosas.
A dormideira (Papaver somniferum) é muito mais difícil de ver à porta das casas, ainda que muitas lembramos que nom era assim há apenas um par de décadas, quando começou a pior das difamações: é umha droga. Sim, é‑o realmente, e dela obtém-se facilmente o ópio, por meio de umha simples incisom da cápsula imatura da flor. Mas parece que tradicionalmente fazia-se antes bem o uso da flor, cozida ou em chá, e utilizava-se principalmente como sedante e calmante da dor. Aquelas pessoas que tenhem problemas para dormir podiam experimentar o simples facto de colocar baixo da almofada um punhado de flores da dormideira para comprovar os efeitos de esta potente droga, sem esquecer que droga é sinónimo de medicamento.
Outras, as que nom som drogas nem abortivos, som potentes venenos. A mais de umha surpreende o uso tradicional ainda vivo da ceruda, cedronha, celidónia, erva-andorinha ou erva das verrugas (Chelidonium majus) sobre golpes e feridas abertas ou do seu látex dissolvido em auga para a gastrite. Como pode ser, se a ceruda é mui venenosa, se queima? É bastante comum o conhecimento sobre a utilidade do látex amarelo da erva para queimar as espulhas, mas está a ficar no esquecimento a sua utilidade como remédio para problemas hepático-biliares, bronquite, enfermidades da pele e dos olhos, bócio, dores dentais, dores menstruais, sedante e analgésico,.. E tantas utilidades mais que se resumem no dito “a ceruda todos os males cura”.
Venhem tempos de romper com a maldiçom. Andamos à procura de outras maneiras de sanar, sentimos que a natureza pode fornecer-nos a medicina que necessitamos. Já só fica romper com a barreira do auto-ódio que nos impede encontrar a sabedoria e os recursos necessários aqui, entre a nossa gente e na nossa Terra.