Com as suas principais fraquezas bem diagnosticadas e os seus pontos críticos localizados, para além de em como melhorarmos o comboio que temos, toca-nos pensar também no trem que queremos para o amanhá. Perante problemas tam prementes como os desequilíbrios territoriais e sociais ou os desafios ecológicos, o caminho de ferro apresenta-se como umha infraestrutura com umha extraordinária potencialidade e como o meio de transporte que pode resultar mais decisivo no futuro.
Público, popular, sustentável, vertebrador do território ou potencializador das economias locais som alguns dos traços que se apontam quando se caracteriza o que seria caminho de ferro ideal para a Galiza do futuro. Mas para o seu desenvolvimento é condiçom necessária contarmos com as competências para pensá-lo desde aqui e nom desde Madrid, hoje centro de decisom e buraco negro de investimentos em infraestruturas de transporte.
Galiza é na atualidade a única comunidade costeira de todo o Estado espanhol que nom gere serviços próprios de proximidade, umha carência só explicada polo desleixo da Junta. As consequências positivas e imediatas de assumirmos simplesmente umhas competências que já contempla o Estatuto de Autonomia som destacadas unanimemente por todos os coletivos e pessoas que trabalham para a melhora do nosso caminho de ferro.
Competências que permitiriam melhorar precisamente aquela rede que é assinalada como o elemento chave para que o comboio cumpra eficazmente com a sua finalidade de serviço público: o comboio convencional e de proximidade.
Galiza é a única comunidade costeira do Estado espanhol que nom gere serviços próprios de proximidade
No BNG mesmo chegárom a pensar um nome para o desejado comboio galego: “Galtren”. O seu deputado Luís Bará, porta-voz da formaçom em matéria de infraestruturas no Parlamento galego, resume assim a proposta: “um ente ferroviário que teria como objetivo principal fomentar o transporte de proximidade nas grandes áreas metropolitanas e melhorar as infraestruturas”. Eletrificaçom, via dupla, boas frequências ou preços baixos seriam alguns dos traços deste serviço.
“Está claro que o comboio é um meio de futuro por razons de vertebraçom interna e sustentabilidade, umha aposta absolutamente fundamental para nós. Som reivindicaçons prioritárias tanto os investimentos do governo central como a transferência de competências e a possibilidade de criar esse ente ferroviário galego”, defende Bará.
Desde o sindicato CGT Galiza, o seu coordenador do setor ferroviário, Ángel Valladares, coincide em muitas destas demandas. “Há que estabelecer um plano para a melhora das linhas convencionais, começando por aqueles troços que estám pior, retificando traçados ou construindo variantes, eletrificar toda a rede ou adequar as estaçons para permitir o cruzamento dos comboios de mercadorias de maior longitude”, destaca entre os investimentos mais urgentes.
“O comboio tem que servir à maior populaçom possível e facilitar a sua mobilidade de forma segura e sustentável”, resume Valladares
“Nós defendemos um trem público que dê um serviço efetivo à sociedade. Tem que servir à maior populaçom possível e facilitar a sua mobilidade de forma segura e sustentável. Sendo um meio altamente ecológico, há que potencia-lo para que resulte atrativo e económico.” Assim resume Valladares o modelo de comboio que defende o seu sindicato.
Frente a todas estas reivindicaçons focadas em comboios mais modestos, mas também mais funcionais, o AVE nom parece compensar os imensos investimentos que exige. “Nom podemos dizer que tenhamos nenhum estudo que demonstre os seus benefícios económicos para o país”, afirma Manuel Casal Lodeiro, da associaçom Véspera de Nada. “Suspeitamos que, diante da situaçom de inviabilidade da aviaçom comercial a preços low-cost, o AVE oferece umha alternativa ao aviom para quando este for proibitivo ou nom houver combustível. Um meio para que umha elite empresarial e política viaje entre a Galiza e Madri”, resume.
Outro dos problemas do AVE e de parte do eixo atlântico, assinala Luís Bará, é o conhecido como “efeito túnel”. “O comboio passa, mas nom para”, explica. Com isto fai-se necessário reforçar a funçom vertebradora do caminho de ferro estabelecendo serviços para vilas desconetadas, muitos deles fechados ou reduzidos em paralelo ao desenvolvimento da alta velocidade.
Sustentabilidade energética
“Em Véspera de Nada defendemos que o comboio, a nível de eficiência energética, é um dos melhores meios de transporte, senom o melhor”, afirma Casal Lodeiro, que destaca a que é a sua grande fortaleça do ponto de vista ecológico: a possibilidade de utilizar eletricidade como fonte de alimentaçom. “E a nível do Estado espanhol, por volta da metade das vias já estám eletrificadas”, explica.
Porém, a respeito da possibilidade de empregar pilhas de combustível de hidrogénio para alimentar as locomotoras, mostra-se contrário. “Parece-me um disparate. Além de que qualquer veículo movido por hidrogénio tem um risco de explosom, na conversom da eletricidade perde-se muitíssima energia, que se pode empregar diretamente para alimentar as catenárias, fazendo mais com os mesmos recursos”, argumenta. “O comboio ideal seria elétrico na maior parte possível, mesmo até o cento por cento, e alimentado com energia de origem renovável”.
Portugal, a cada vez mais perto
Se a vertebraçom do território com redes de proximidade é a principal aspiraçom quando se imaginam futuros possíveis para o comboio galego no tocante à mobilidade interior, umha boa conexom com Portugal é a grande questom ainda pendente quando falamos de linhas internacionais.
Nos últimos meses chegam-nos do sul sinais positivos. O ministro de Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e a ministra de Coesom Territorial, Ana Abrunhosa, manifestárom publicamente que a ligaçom com Galiza é prioritária frente ao AVE Lisboa-Madrid, sobre o que Abrunhosa considera que é um trajeto já coberto por uma boa ligaçom aérea, além de afirmar que o seu país nom vai aceitar umha “soluçom imposta” polo Estado espanhol. Tudo isto enquanto o governo luso apresentava o Programa Nacional de Investimentos 2030, no que se contempla ligar Lisboa e Porto numha hora e quarto e Porto e Vigo (por Braga) numha hora.
Umha boa conexom com Portugal é a grande questom ainda pendente quando falamos de linhas internacionais
Pouco depois, em dezembro, BNG e Bloco de Esquerda celebravam em Vigo a primeira reuniom do grupo de trabalho estável com o que ambos partidos políticos pretendem promover os interesses comuns de Galiza e Portugal e atuar como lóbi em defesa de projetos chave. Luís Bará, deputado do BNG no Parlamento galego, é umha das pessoas que componhem este grupo. “Queremos aproveitar a ocasiom para apostar claramente no comboio a Portugal”, di.
“Vemo-lo como um instrumento mais que como um fim en si mesmo, como um elemento vertebrador da aliança estratégica entre Galiza e o norte de Portugal”, explica. Para Bará, “o fundamental é fortalecer o pólo atlântico Galiza-Porto-Lisboa como alternativa frente ao centralismo, com Madri como aspirador, mas também frente ao eixo mediterrâneo”. Em Portugal, comenta, a importância económica e social da ligaçom com Galiza é umha questom sobre a que há umha posiçom comum de fundo partilhada por todas as forças políticas, mas “as prioridades no Estado espanhol e mesmo em Europa som outras”, lamenta.
Em qualquer caso, a Galiza necessita que o governo espanhol cumpra a sua parte: a prometida saída sul de Vigo, para rematar esses 30 quilómetros que faltam para que a linha de alta velocidade do eixo atlântico galego se prolongue até a fronteira. “O problema destes projetos é que tenhem tramitaçons mui longas. Temos que começar já”, urge Bará.