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Estaçom de destino: um comboio de futuro para a Galiza

por
álex ro­za­dos

Com as suas principais fraquezas bem diagnosticadas e os seus pontos críticos localizados, para além de em como melhorarmos o comboio que temos, toca-nos pensar também no trem que queremos para o amanhá. Perante problemas tam prementes como os desequilíbrios territoriais e sociais ou os desafios ecológicos, o caminho de ferro apresenta-se como umha infraestrutura com umha extraordinária potencialidade e como o meio de transporte que pode resultar mais decisivo no futuro.

Público, po­pu­lar, sus­ten­tá­vel, ver­te­bra­dor do ter­ri­tó­rio ou po­ten­ci­a­li­za­dor das eco­no­mias lo­cais som al­guns dos tra­ços que se apon­tam quando se ca­rac­te­riza o que se­ria ca­mi­nho de ferro ideal para a Galiza do fu­turo. Mas para o seu de­sen­vol­vi­mento é con­di­çom ne­ces­sá­ria con­tar­mos com as com­pe­tên­cias para pensá-lo desde aqui e nom desde Madrid, hoje cen­tro de de­ci­som e bu­raco ne­gro de in­ves­ti­men­tos em in­fra­es­tru­tu­ras de transporte.

Galiza é na atu­a­li­dade a única co­mu­ni­dade cos­teira de todo o Estado es­pa­nhol que nom gere ser­vi­ços pró­prios de pro­xi­mi­dade, umha ca­rên­cia só ex­pli­cada polo des­leixo da Junta. As con­sequên­cias po­si­ti­vas e ime­di­a­tas de as­su­mir­mos sim­ples­mente umhas com­pe­tên­cias que já con­tem­pla o Estatuto de Autonomia som des­ta­ca­das una­ni­me­mente por to­dos os co­le­ti­vos e pes­soas que tra­ba­lham para a me­lhora do nosso ca­mi­nho de ferro.

Competências que per­mi­ti­riam me­lho­rar pre­ci­sa­mente aquela rede que é as­si­na­lada como o ele­mento chave para que o com­boio cum­pra efi­caz­mente com a sua fi­na­li­dade de ser­viço pú­blico: o com­boio con­ven­ci­o­nal e de proximidade. 

Galiza é a única co­mu­ni­dade cos­teira do Estado es­pa­nhol que nom gere ser­vi­ços pró­prios de proximidade

No BNG mesmo che­gá­rom a pen­sar um nome para o de­se­jado com­boio ga­lego: “Galtren”. O seu de­pu­tado Luís Bará, porta-voz da for­ma­çom em ma­té­ria de in­fra­es­tru­tu­ras no Parlamento ga­lego, re­sume as­sim a pro­posta: “um ente fer­ro­viá­rio que te­ria como ob­je­tivo prin­ci­pal fo­men­tar o trans­porte de pro­xi­mi­dade nas gran­des áreas me­tro­po­li­ta­nas e me­lho­rar as in­fra­es­tru­tu­ras”. Eletrificaçom, via du­pla, boas frequên­cias ou pre­ços bai­xos se­riam al­guns dos tra­ços deste serviço. 

Está claro que o com­boio é um meio de fu­turo por ra­zons de ver­te­bra­çom in­terna e sus­ten­ta­bi­li­dade, umha aposta ab­so­lu­ta­mente fun­da­men­tal para nós. Som rei­vin­di­ca­çons pri­o­ri­tá­rias tanto os in­ves­ti­men­tos do go­verno cen­tral como a trans­fe­rên­cia de com­pe­tên­cias e a pos­si­bi­li­dade de criar esse ente fer­ro­viá­rio ga­lego”, de­fende Bará.

Desde o sin­di­cato CGT Galiza, o seu co­or­de­na­dor do se­tor fer­ro­viá­rio, Ángel Valladares, coin­cide em mui­tas des­tas de­man­das. “Há que es­ta­be­le­cer um plano para a me­lhora das li­nhas con­ven­ci­o­nais, co­me­çando por aque­les tro­ços que es­tám pior, re­ti­fi­cando tra­ça­dos ou cons­truindo va­ri­an­tes, ele­tri­fi­car toda a rede ou ade­quar as es­ta­çons para per­mi­tir o cru­za­mento dos com­boios de mer­ca­do­rias de maior lon­gi­tude”, des­taca en­tre os in­ves­ti­men­tos mais urgentes.

O com­boio tem que ser­vir à maior po­pu­la­çom pos­sí­vel e fa­ci­li­tar a sua mo­bi­li­dade de forma se­gura e sus­ten­tá­vel”, re­sume Valladares

Nós de­fen­de­mos um trem pú­blico que dê um ser­viço efe­tivo à so­ci­e­dade. Tem que ser­vir à maior po­pu­la­çom pos­sí­vel e fa­ci­li­tar a sua mo­bi­li­dade de forma se­gura e sus­ten­tá­vel. Sendo um meio al­ta­mente eco­ló­gico, há que po­ten­cia-lo para que re­sulte atra­tivo e eco­nó­mico.” Assim re­sume Valladares o mo­delo de com­boio que de­fende o seu sindicato.

Frente a to­das es­tas rei­vin­di­ca­çons fo­ca­das em com­boios mais mo­des­tos, mas tam­bém mais fun­ci­o­nais, o AVE nom pa­rece com­pen­sar os imen­sos in­ves­ti­men­tos que exige. “Nom po­de­mos di­zer que te­nha­mos ne­nhum es­tudo que de­mons­tre os seus be­ne­fí­cios eco­nó­mi­cos para o país”, afirma Manuel Casal Lodeiro, da as­so­ci­a­çom Véspera de Nada. “Suspeitamos que, di­ante da si­tu­a­çom de in­vi­a­bi­li­dade da avi­a­çom co­mer­cial a pre­ços low-cost, o AVE ofe­rece umha al­ter­na­tiva ao aviom para quando este for proi­bi­tivo ou nom hou­ver com­bus­tí­vel. Um meio para que umha elite em­pre­sa­rial e po­lí­tica vi­aje en­tre a Galiza e Madri”, resume.

Outro dos pro­ble­mas do AVE e de parte do eixo atlân­tico, as­si­nala Luís Bará, é o co­nhe­cido como “efeito tú­nel”. “O com­boio passa, mas nom para”, ex­plica. Com isto fai-se ne­ces­sá­rio re­for­çar a fun­çom ver­te­bra­dora do ca­mi­nho de ferro es­ta­be­le­cendo ser­vi­ços para vi­las des­co­ne­ta­das, mui­tos de­les fe­cha­dos ou re­du­zi­dos em pa­ra­lelo ao de­sen­vol­vi­mento da alta velocidade.

Sustentabilidade ener­gé­tica 

Em Véspera de Nada de­fen­de­mos que o com­boio, a ní­vel de efi­ci­ên­cia ener­gé­tica, é um dos me­lho­res meios de trans­porte, se­nom o me­lhor”, afirma Casal Lodeiro, que des­taca a que é a sua grande for­ta­leça do ponto de vista eco­ló­gico: a pos­si­bi­li­dade de uti­li­zar ele­tri­ci­dade como fonte de ali­men­ta­çom. “E a ní­vel do Estado es­pa­nhol, por volta da me­tade das vias já es­tám ele­tri­fi­ca­das”, explica.

Porém, a res­peito da pos­si­bi­li­dade de em­pre­gar pi­lhas de com­bus­tí­vel de hi­dro­gé­nio para ali­men­tar as lo­co­mo­to­ras, mos­tra-se con­trá­rio. “Parece-me um dis­pa­rate. Além de que qual­quer veí­culo mo­vido por hi­dro­gé­nio tem um risco de ex­plo­som, na con­ver­som da ele­tri­ci­dade perde-se mui­tís­sima ener­gia, que se pode em­pre­gar di­re­ta­mente para ali­men­tar as ca­te­ná­rias, fa­zendo mais com os mes­mos re­cur­sos”, ar­gu­menta. “O com­boio ideal se­ria elé­trico na maior parte pos­sí­vel, mesmo até o cento por cento, e ali­men­tado com ener­gia de ori­gem renovável”.

Portugal, a cada vez mais perto

pe­dro se­o­ane prado

Se a ver­te­bra­çom do ter­ri­tó­rio com re­des de pro­xi­mi­dade é a prin­ci­pal as­pi­ra­çom quando se ima­gi­nam fu­tu­ros pos­sí­veis para o com­boio ga­lego no to­cante à mo­bi­li­dade in­te­rior, umha boa co­ne­xom com Portugal é a grande ques­tom ainda pen­dente quando fa­la­mos de li­nhas internacionais.

Nos úl­ti­mos me­ses che­gam-nos do sul si­nais po­si­ti­vos. O mi­nis­tro de Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e a mi­nis­tra de Coesom Territorial, Ana Abrunhosa, ma­ni­fes­tá­rom pu­bli­ca­mente que a li­ga­çom com Galiza é pri­o­ri­tá­ria frente ao AVE Lisboa-Madrid, so­bre o que Abrunhosa con­si­dera que é um tra­jeto já co­berto por uma boa li­ga­çom aé­rea, além de afir­mar que o seu país nom vai acei­tar umha “so­lu­çom im­posta” polo Estado es­pa­nhol. Tudo isto en­quanto o go­verno luso apre­sen­tava o Programa Nacional de Investimentos 2030, no que se con­tem­pla li­gar Lisboa e Porto numha hora e quarto e Porto e Vigo (por Braga) numha hora.

Umha boa co­ne­xom com Portugal é a grande ques­tom ainda pen­dente quando fa­la­mos de li­nhas internacionais

Pouco de­pois, em de­zem­bro, BNG e Bloco de Esquerda ce­le­bra­vam em Vigo a pri­meira reu­niom do grupo de tra­ba­lho es­tá­vel com o que am­bos par­ti­dos po­lí­ti­cos pre­ten­dem pro­mo­ver os in­te­res­ses co­muns de Galiza e Portugal e atuar como lóbi em de­fesa de pro­je­tos chave. Luís Bará, de­pu­tado do BNG no Parlamento ga­lego, é umha das pes­soas que com­po­nhem este grupo. “Queremos apro­vei­tar a oca­siom para apos­tar cla­ra­mente no com­boio a Portugal”, di. 

Vemo-lo como um ins­tru­mento mais que como um fim en si mesmo, como um ele­mento ver­te­bra­dor da ali­ança es­tra­té­gica en­tre Galiza e o norte de Portugal”, ex­plica. Para Bará, “o fun­da­men­tal é for­ta­le­cer o pólo atlân­tico Galiza-Porto-Lisboa como al­ter­na­tiva frente ao cen­tra­lismo, com Madri como as­pi­ra­dor, mas tam­bém frente ao eixo me­di­ter­râ­neo”. Em Portugal, co­menta, a im­por­tân­cia eco­nó­mica e so­cial da li­ga­çom com Galiza é umha ques­tom so­bre a que há umha po­si­çom co­mum de fundo par­ti­lhada por to­das as for­ças po­lí­ti­cas, mas “as pri­o­ri­da­des no Estado es­pa­nhol e mesmo em Europa som ou­tras”, lamenta.

Em qual­quer caso, a Galiza ne­ces­sita que o go­verno es­pa­nhol cum­pra a sua parte: a pro­me­tida saída sul de Vigo, para re­ma­tar es­ses 30 qui­ló­me­tros que fal­tam para que a li­nha de alta ve­lo­ci­dade do eixo atlân­tico ga­lego se pro­lon­gue até a fron­teira. “O pro­blema des­tes pro­je­tos é que te­nhem tra­mi­ta­çons mui lon­gas. Temos que co­me­çar já”, urge Bará.

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