O Centre Internacional Escarré per a les minories ètniques i nacionals (CIEMEN) nasceu na década de 70 do século passado entre o exílio e a clandestinidade. Com o firme objetivo de construir um recanto de liberdade, as ideias e propostas iniciais fôrom dirigindo-se para o aprofundamento das diferentes realidades das nações sem estado, reivindicando reconhecimento, direitos e liberdades. Hoje temos a oportunidade de falarmos com o responsável de internacional, o maiorquino Toni Trobat, e demais pessoal do CIEMEN, para aprendermos mais um pouco sobre a importância e sentido desta entidade.
Que ferramentas utiliza o CIEMEN para sensibilizar sobre os direitos e o reconhecimento das diferentes realidades coletivas?
O CIEMEN trabalha, fundamentalmente, em duas linhas políticas: por umha banda, a internacionalizaçom do caso catalá e, doutra, a pedagogia, quer os Países Catalans quer a Europa, a Mediterrânea e o mundo, sobre os direitos coletivos dos povos. O instrumento principal que empregamos é a rede. Para nós, a geraçom de cumplicidades e ligaçons entre organizaçons e espaços sociais e políticos dos povos sem estado é vital para poder difundir a nossa mensagem. Neste aspecto impelimos, desde os anos oitenta, um conjunto de iniciativas que tenhem a funçom de criar, de gerar, rede. A rede, como conceito, é vital para a democracia e para os direitos humanos num mundo tam estragado como o que vivemos. Algumhas redes que nos dam orgulho por termo-las impulsadas e onde houvo participaçom galega –do BNG, Anova, a CIG, a Fundaçom Galiza Sempre, A Mesa e outras – estivérom ao longo da nossa história, por exemplo, a CONSEU –Conferència de Nacions sense Estat–, a Rede Mundial de Direitos Coletivos dos Povos e o Fórum de fundaçons da esquerda soberanista do estado espanhol. Aliás, afortecemos todos os nexos por meio de projetos de cooperaçom –agora mesmo com o Curdistám e mais o povo amazig do Magreb– e o digital Nationalia –Nationalia.cat –.
Estám a se impor objetivamente mais limites à democracia e à liberdade de expressom, ou o problema tem mais a ver com a maneira que tivo o estado espanhol para construir a democracia?
Cremos que estamos a viver numha onda conservadora e retrógrada mui forte em todo o planeta. Isto, no atual contexto global, no caso dos países de fala catalá ou a Galiza, deve acrescentar-se ao facto de que a cultura política espanhola é escassamente democrática. Os nossos povos estám numha situaçom de fragilidade que nom se pode esquivar.
“No caso dos países de fala catalá ou a Galiza, deve acrescentar-se ao facto de que a cultura política espanhola é escassamente democrática.”
Que efeito poderia repercutir-se na atual atitude dos estados soberanos, o facto de ligar autodeterminaçom e internacionalismo desde a açom direta?
Para nós, desde os tempos da CONSEU nos anos oitenta e noventa, a que já figem referência antes — onde participavam intelectuais galegos como Xosé Manuel Beiras e Pilar Garcia Negro — foi mui importante para ligar o internacionalismo — entendido como a luita solidária polos direitos de todas as pessoas e todos os povos — com a causa nacional catalá e as causas nacionais próprias de todos os povos oprimidos. Todas as luitas som umha. Neste sentido, os primeiros anos do século XXI, com a eclosom do movimento alterglobalizador e o fenómeno dos Foros Sociais, foi um momento em que o CIEMEN trabalhou por introduzir a luita pola autodeterminaçom na agenda da esquerda internacional. Penso que nos saiu bem, em grande parte, apesar das reticências de muitos setores de tradiçom jacobina. Hoje, na Europa e na América Latina, umha boa parte da esquerda começa a compreender luitas como a do povo catalá.
Esta pergunta é para o Toni Trobat ativista: Que significa ser europeísta da Europa rebelde?
Nunca fum partidário de deixar as palavras e os conceitos nas maos do adversário. Europa nom é apenas a UE, neoliberalismo e colonialismo. Também som direitos, siglas de luitas emancipadoras e muitos valores positivos que acho que, desde um olhar progressista, nom se podem ignorar. Nem abandonar. Sempre digo que som europeísta desta Europa rebelde, revoltada. A que vai desde os Irmandinhos galegos e os Agermanats maiorquinos dos séculos XV e XVI, passando pola Comuna de Paris de 1871 e até os partisanos judeus “bundistas” combatendo os nazis nos bosques da Ucrânia nos anos quarenta. Hoje esta Europa insubmissa é a que representa os povos em luita, os novos movimentos feministas e os heróis e heroínas que cada dia, na fronteira sul, defendem os direitos dos migrantes e os refugiados que tentam chegar às nossas costas.
“Os primeiros anos do século XXI, com a eclosom do movimento alterglobalizador e o fenómeno dos Fórums Sociais, foi um momento no que o CIEMEN trabalhou por introduzir a luita pola autodeterminaçom na agenda da esquerda internacional”
Poderíamos considerar a Europa como um mosaico de povos. Como achades que seria a melhor maneira de a ligar para favorecer a visibilidade das minorias?
No CIEMEN sempre consideramos que o melhor é que cada povo da Europa e do mundo decida, livremente, o seu destino. Depois, as ligaçons de tipo federal o confederal, às vezes podem ser positivas. O mais importante é que as Europeias e os Europeus tenhamos um ponto de uniom no reconhecimento duns valores comuns: a democracia, o respeito polos direitos humanos, ecológicos e dos povos, a defesa da mulher e das diferentes opçons sexuais e a equidade social.
O CIEMEN trabalhou intensamente em estudos sobre o Curdistám. Poderiam-se aplicar as teses do confederalismo democrático curdo noutros povos em luita?
Cada povo é um mundo. É umha realidade diferente. Nom somos partidários de exportar modelos nem de os idealizar. Isso é o que fomentou o sistema capitalista e neocolonial e isso é o que também figérom moitas experiências supostamente antagonistas.
Além das luitas curda ou palestina, que mais povos em resistência fora da Europa destacarias?
Há muitas luitas. De tipologia diversa. Tantas como povos e comunidades humanas. Às vezes o facto que nom sejam mediáticas leva a ficarem esquecidas. Seria impossível citá-las todas. Citarei três, de latitudes geograficamente diferentes. Os Mapuches, na Argentina e Chile, em luita contra o capital transnacional; os Inuítes e as minorias túrquicas e mongóis da Sibéria, arrasados pola colonizaçom russa; e os Iazidis e Assírios do Oriente Próximo — com quem o CIEMEN tivo umha especial relaçom — minorizados e perseguidos polos estados dentro de cujas fronteiras viviam.
Há alternativas para dar apoio a povos em conflito além da solidariedade internacional?
Volto ao princípio. A chave é a rede. A solidariedade internacional tem moitas faces. Umha é a difusom das problemáticas e da pedagogia. Outras tenhem a ver com gestons e atitudes concretas. Desde decidir convidar um conferencista a umhas jornadas ou publicar ou traduzir um autor, até consumir determinados produtos. Ter, em definitivo, umha atitude, individual e coletiva, política e beligerante contra as injustiças.
A pergunta é inevitável… e simples: Haverá República Catalá nos próximos anos?
Na Catalunha necessitamos ampliar a base social do soberanismo. Precisamos de alianças mais fortes, dentro e fora do nosso país. O estado é demofóbico. A prática totalidade da classe política espanhola, também. A atitude de boa parte da esquerda espanhola e da sociedade civil fora da Catalunha foi lastimosa e bem pouco solidária. Contudo, isto nom tira, no ponto em que estamos, que urge trabalhar tática e estratégia de forma diferente. Para a materializaçom efetiva da República Catalá devemos considerar que nom estivemos o suficientemente fortes para resistir o ataque do estado depois do 1‑O e pensar novas fórmulas para acumular mais força.
A atitude de boa parte da esquerda espanhola e da sociedade civil fora da Catalunha foi lastimosa e bem pouco solidária.
Em caso de República Catalá, qual seria o futuro do País Valenciano e das Ilhas Baleares e Pitiusas?
Os Países Catalans som um espaço nacional e cultural de matriz confederal. As quatro ilhas e o País Valenciano som sujeitos políticos, naçons políticas efetivas. Se um dia a República Catalá é umha realidade o ideal seria que a relaçom prioritária fora das fronteiras do Principat, fosse com as Baleares e Pitiusas e com o País Valenciano. O desejável seria que, se as suas respetivas cidadanias o aprovarem, as futuríveis Repúblicas Mallorquina, Menorquina ou Valenciá se confederarem no dia de amanhá com a Catalunha. Em qualquer caso, o que agora nos fai fortes, como Países Catalans, som as sinergias que construímos a partir da base em dous campos, que creio que somos referentes no sul da Europa: a cultura e o tecido associativo progressista.
Como poderia afrontar a Galiza o seu futuro como povo, para garantir umha construçom nacional sólida? E mais a última: Tal como acontece no diassistema linguístico occitano-catalá, na Galiza temos o galego-português. Como pensades que se poderia espremer mais esta riqueza?
Desde o CIEMEN nom somos ninguém para dizer ao povo galego o que precisa fazer. Sempre tivemos umha excelente relaçom com todo o soberanismo galego. Desde a UPG até Beiras. A respeito da questom linguística temos a ideia que a ligaçom com o português, de forma ponderada, fortalece a língua galega.