O bairro de Gràcia, um dos mais conhecidos da capital catalana, cheira a empada de zamburinhas e queijo do país. Tem gosto a godelho ou licor café, mas também a bica, a pimentos de Padrom ou a patacas da Límia. A responsável é Estrela Justo, umha engenheira florestal que apostou pelos sabores do país, além das nossas fronteiras. O Ego Galego, a sua loja, é o ponto de encontro da migraçom galega que tem saudades dos sabores da nossa cozinha perdidos na mestiçagem e gentrificaçom de Barcelona.
Como nasce o Ego Galego?
O Ego Galego é um projeto familiar formado polo meu irmao Tomás e mais eu. Nom nasceu coma um negócio, foi umha maneira de expressarmo-nos. O mundo da restauraçom está cheio de restaurantes galegos mas nom acontece o mesmo com os nossos produtos.
Barcelona acolhe umha quantidade enorme de migraçom galega à qual nom lhe resultava singelo dar com produtos galegos artesanais. O Ego quer ser um ponto de encontro de galegos: consumidores e provedores desde o respeito e a honestidade que carateriza o nosso povo, mas também umha carta de apresentaçom da Galiza como povo e cultura.
O Ego Galego foi umha loja pensada para a populaçom galega migrada?
No início, sim. Foi umha loja pensada para gente que vivíamos longe da casa. Após dez anos aqui tinha saudades de muitos produtos. Como qualquer migrada, os meus pais enviavam pacotes de produtos que aqui nom havia.
A nossa primeira venda foi um queijo tetilha para o Mário, um galego que vivia perto da loja e aguardava ansioso que abrisse.
Também véu umha senhora comprar umha empada para a sua mae, já mui velha. Era de Verim ‑perto de onde somos nós- e levava anos sem ir a Galiza. A filha volveu mui agradecida contar-nos depois que ao sentir o cheiro, a sua mae começou a chorar, porque o cheiro a transportara às suas origens. Pouco tempo depois, morreu. Sempre penso que dalgumha maneira levamos-lhe umha parte da Galiza a umha pessoa que já nom podia retornar.
Agora temos clientes de todas as nacionalidades e a Galiza é umha marca associada à qualidade.
Qual é a relaçom com os provedores?
A nossa filosofia foi implantar a maneira de ser do nosso povo em todas as fases do negócio. Começando com os provedores, com um trato direto com eles e escolhendo produtos que estám elaborados seguindo a nossa maneira de entender o consumo. Som produtos feitos com respeito pola matéria prima, de maneira tradicional, cuidando a contorna.
Também queríamos que a nossa cultura se manifestasse no trato ao cliente. Fazemos ego-festas e degustaçons gratuitas com a única finalidade de juntarmo-nos e sentirmo-nos perto da casa. Um conceito que na Catalunha nom se entende…
Somos as consumidoras galegas mui diferentes das catalanas?
Fora tópicos, os galegos temos costumes que nos caracterizam. Para nós a gastronomia está ligada a nossa cultura. As festas giram à volta da comida e da bebida. Somos um povo que gosta de socializaçom e de abundância, e consumimos por riba do necessário. Umha festa nom se entende se nom sobra comida. Ademais, pertencemos a umha terra gastronomicamente privilegiada, com umha qualidade mui por cima de qualquer outra.
Os catalans som muito mais ajustados e comedidos, compram de jeito mais racional. Também som grandes consumidores dos seus produtos, mas sabem dar-lhes valor fora das suas fronteiras. Som excelentes comerciais e vendem com um alto valor acrescentado, enquanto a nós custa-nos ponher em valor a nossa matéria prima que é excelente. Neste sentido, temos que aprender deles.