
Em 1999, a plataforma Eurominority, impulsionada polo autor, cartógrafo e militante bretom, Mikael Bodlore Penlaez, nasce para aprofundar, defender e difundir informaçom sobre as naçons sem estado, minorias nacionais e culturais, povos autóctones e grupos étnicos. Atualmente, está imerso num intenso projeto para desenvolver a extensom .BZH. Trabalhador incansável e firme defensor do reconhecimento dos Povos, contempla entre Kemper e Lorient como a editorial Através já está a meter no forno a traduçom, adaptaçom e atualizaçom do seu trabalho “Atlas des Nations sans État en Europe. Peuples minoritaires en quête de reconnaissance.”
Comecemos polo princípio, qual foi o motivo principal que impulsionou a criaçom da plataforma Eurominority.org?
O motivo de criar Eurominority.org foi simples: conhecer e aprofundar na diversidade europeia. Na Europa, quando ouvirmos falar de diversidade, pensamos na diversidade dos Estados. A cultura francesa, espanhola, británica… a Europa está a esquecer que existem mais culturas, além dos 27 Estados membros da Uniom Europeia. Estas culturas som a alma dos povos nom soberanos e tenhem umha existência real que é importante promover. Fam parte do nosso património comum. Esta iniciativa tenta deixar clara a ideia de que estes povos som naçons reais; com a sua história, línguas, curso sociológico e aspiraçons.
Eurominority também tem como objetivo partilhar umha base de conhecimentos sobre estes aspetos. Trata-se dum compromisso político: o compromisso com a diversidade, o direito à diferença e à autodeterminaçom.
“A plataforma Eurominority.org trata-se dum compromisso político: o compromisso com a diversidade, o direito à diferença e à autodeterminaçom”
A plataforma Eurominotiry.org sofreu um ciberataque por parte de nacionalistas turcos devido ao tratamento do Curdistám como uma naçom sem estado. Poderias concretizar um pouco mais o acontecido? Houve mais problemas deste tipo?
Certo. Os nacionalistas turcos estám a lutar, sem trégua, contra o reconhecimento do povo curdo. Há uns anos elaborei um póster do Curdistám, em colaboraçom com associaçons curdas e foi aqui quando aconteceu isto. Também me cercárom as autoridades russas nalgum momento, especialmente durante o conflito da Chechénia. A cousa nom foi a mais… Temos umha cousa certa: tudo o relacionado com os povos minoritários, estejam ou nom na Europa, é um tema muito sensível. A minha focagem é principalmente informativa, mas às vezes acaba por provocar um impacto político. É o poder do mapa.

Em que situaçom se encontra o projeto de desenvolvimento do domínio .BZH? Qual é a repercusom e utilidades que pode ter no reconhecimento nacional da Bretanha?
Estivem trás da criaçom da extensom .BZH junto com um pequeno grupo de pessoas comprometidas com a Bretanha, e de diferentes origens políticas (conservadores, progressistas, independentistas…) Isto foi a chave do êxito do projeto. Através dos cruzamentos de redes e da participaçom do pessoal, conseguimos resolver positivamente um projeto que precisava dum amplo consenso, sobretudo quando dependíamos da decisom do estado francês. O objetivo sempre foi e continua a ser a existência da Bretanha na Internet. Hoje em dia, a extensom .BZH é umha realidade. Já nom é utilizado exclusivamente polo movimento reivindicativo bretom, está presente também nas empresas, governos locais e organizaçons. Deste ponto de vista, é um êxito, já que a imagem da Bretanha, tal como acontecera no seu momento com os autocolantes ovalados dos carros, está a se estender agora na Internet.
No estado francês existe um alto grau de centralismo, que expectativas tens nas políticas de proteçom da língua bretã nos próximos 20 anos?
Desde a década de 1970, observamos na Bretanha umha mudança na imagem da língua bretã. Utilizada por artistas, o mais conhecido é Alan Stivell, agora goza dumha imagem positiva, quando antes era considerada um vestígio do passado. A sociedade civil trabalhou muito para o seu reconhecimento e vários projetos, entre eles o das escolas Diwan (educaçom em bretom por imersom), demonstrárom a sua eficácia. Porém, ainda existe um grande trabalho por fazer, devido a que os bloqueios som muito fortes por parte do Estado, um dos mais centralizados do mundo. O bretom na educaçom continua a ser escasso e nos meios de comunicaçom é minoritário. Faltam meios específicos e direitos para os utilizadores, especialmente ao entrar em contacto com a administraçom. Além disso, as questons mais importantes continuam a ser a difusom e o ensino. Na minha opiniom, o ensino do bretom deveria ser obrigatório nas escolas. É umha condiçom para a sobrevivência.
“O ensino do bretom deveria ser obrigatório nas escolas. É umha condiçom para a sobrevivência”
Como vês as atuais reivindicaçons dos povos à procura de reconhecimento da Península Ibérica?
Os povos basco, catalám e galego tenhem diferentes aspiraçons. O que mais me surpreende é a luta do povo catalám pola independência. Aliás, o País Basco dominava as notícias há vinte anos, os catalans demonstrárom que um despertar nacional é possível quando o povo se organizar. Isto lembra-me o despertar do povo escocês. O processo iniciado na Catalunha é apaixonante.
O que està a acontecer na Galiza também é interessante, porém menos visível. O peso da história é forte. Às vezes encontro umha situaçom muito próxima com a Bretanha. Culturalmente, existem pontes entre as nossas naçons e também na relaçom com o poder. O povo galego, da mesma forma que o bretom, continuam a ser leais aos governos centrais que os dominam. Se calhar, nos próximos anos estas naçons envolver-se-ám em processos similares aos da Escócia ou da Catalunha.
“Culturalmente, existem pontes entre as nossas naçons e também na relaçom com o poder. O povo galego, da mesma forma que o bretom, continuam a ser leais aos governos centrais que os dominam”
Falemos do Atlas das Naçons sem Estado: como surgiu a ideia de elaborar um Atlas dos Povos da Europa?
A ideia do Atlas das Naçons sem Estado na Europa é a mesma que o portal Eurominority.org. A diferença está em que um site web é efémero, e a força dum livro reside na sua atemporalidade. Os povos minoritários devem ser conhecidos e divulgados.
Na Galiza esperamos com ânsia a publicaçom do atlas. Que importáncia achas que tem a saída deste trabalho noutras línguas?
O Atlas também está disponível em inglês. Na verdade foi um êxito, como em francês. Como anedota, nalgumhas viagens encontrei o trabalho em livrarias do País Basco, Londres ou Flandres… Isto demonstra que a focagem nom é a dum bretom olhando os Povos da Europa, mas a dum europeu que fala de e com os seus concidadans. Na Galiza e na Bretanha estamos a viver os mesmos acontecimentos, frustraçons e aspiraçons: de liberdade e de reconhecimento.
“Na Galiza e na Bretanha estamos a viver os mesmos acontecimentos, frustraçons e aspiraçons”
É importante destacar a tua flexibilidade e facilidades por deixares elaborar umha ediçom atualizada e adaptada em ótica galega.
Foi um prazer imenso trabalhar com a equipa galega que adaptou o Atlas em língua galega. Estou muitp feliz que este trabalho se transmitir numha língua pola qual tenho um grande respeito, ao igual que por tantas outras, sem exceçom. Troquei muito com a equipa de ediçom do Atlas. Sempre trabalhamos com flexibilidade e agilidade. Rapidamente acordamos que o Atlas devia ser adaptado aos leitores e leitoras galegas. Na verdade, sempre confiamos em fazer real este projeto.
Também realizaste mapas topográficos, políticos, etnográficos ou linguísticos em diferentes escalas e línguas. Tens algum novo projeto de mapa previsto?
Atualmente estou a trabalhar num novo atlas. Nesta ocasiom será sobre as línguas da Europa. É um trabalho colossal que deveria estar terminado no 2019. Nom existe nenhum atlas deste tipo e considero que é necessário. Tal como comentei, a finalidade deve ser a mesma que a do Atlas das Naçons sem Estado na Europa: demonstrar que a riqueza da Europa está na diversidade.
Virias a Compostela para nos acompanhares na apresentaçom do projeto?
Farei tudo o possível para poder estar nessa data em Compostela. O único que tenho de fazer é cruzar o Golfo de Biscaia.