Até há pouco a Uniom Europeia (UE) e o euro eram realidades reificadas: instituiçons produzidas e reproduzidas pola atividade humana, mas experimentadas polas pessoas como algo natural, independente dessa atividade. Os fenómenos naturais, como o dia e a noite, o sol e a chuvia, nom podem ser questionados. Estám aí e as pessoas simplesmente vivem com eles. Quem os questionar, vive fora da realidade e nom é tomado a sério.
Claro que sempre houvo quem questionou a UE e o euro, assinalando-as –no mínimo, na sua configuraçom atual- como ferramentas ao serviço do projeto neoliberal e, portanto, contrárias aos interesses das maiorias sociais europeias. As políticas económicas aplicadas durante os últimos sete anos e as consequências sociais das mesmas, principalmente nos países do sul, confirmam as diagnoses realizadas na esquerda. Poderia-se retroceder mais: aí estám a mal chamada reconversom industrial ou, mais recentemente, a bolha imobiliária espanhola alimentada polos euros baratos da banca germano-francesa. Mas, cumpre reconhecê-lo, até agora as vozes críticas falavam baixinho e a mensagem nom transcendia para além de certos movimentos sociais e políticos socialmente minoritários.
Mudou alguma cousa? Pode ser arriscado estabelecer umha relaçom direta entre o auge eleitoral de partidos de extrema direita contrários à UE e ao euro e um suposto aumento da desafeçom cidadá cara estas instituiçons. No mínimo, ao serem questionadas na esfera pública, a sua condiçom de realidades reificadas entra em crise. Aliás, o Brexit deixou claro que a UE nom é imutável, e um potencial Grexit poderia ser o princípio do fim do euro.
Neste contexto, a esquerda tem muitas tarefas pendentes. A primeira consiste em perder o medo e começar a falar do tema abertamente. Tanto quem defende mudar o modelo atual por um mais democrático como quem advoga por umha saída da UE e o euro devem desenvolver as suas possiçons e introduzi-las no debate público, sendo realistas e conscientes de que nom existe soluçom mágica nem caminho fácil. Neste sentido, o PCP está imerso numha campanha que procura “preparar o país” para umha eventual ruptura. A outra opçom, ficar em silêncio, significa deixar que os acontecimentos nos colham por surpresa ou nom termos resposta quando Rajoy diga aquilo de que ‘nom há alternativa, temos que cumprir os compromissos com Europa’. Em qualquer dos caso, estaremos derrotadxs.
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