Há meio ano botava andar a Via Galega (em adiante, VG) a iniciativa da Fundaçom Moncho Reboiras que posteriormente reuniria outras fundaçons e mais de 50 coletivos e entidades. O seu objetivo é criar umha plataforma social que consiga que se interiorize e dote de conteúdo a reivindicaçom que como Povo nos corresponde: Galiza é umha naçom e têm direito à autodeterminaçom. Bruno Lopes Teixeiro é um dos seus porta-vozes, militante independentista, membro da diretiva da Fundaçom Artábria e ativista nos movimentos sociais. Sem militância partidária a dia de hoje, define-se como “um de tantos orfos independentistas que há no País”.
Por que agora a VG?
A situaçom de crise do nosso projeto nacional faz necessário que agromem iniciativas que criem consciência. Atualmente temos uns índices pró-independência ou polo direito à autodeterminaçom com uns níveis mui baixos e surge como ferramenta transversal para criar essa consciência.
VG assegura que é o reconhecimento das naçons o que está no cerne do debate político, nom será o processo de rutura de Catalunya com o Estado e a sua renúncia ao teito competencial?
É evidente que o foco do debate está na Catalunha e isso abre expetativas para outros povos como a Galiza. Acho que a Catalunha mais do que renunciar superou o quadro constitucional espanhol como fruto dumha acumulaçom de forças que a dia de hoje estamos muito longe de atingir e é aí onde pretende intervir a VG.
Numha entrevista à VG di-se “ter en común a defensa do carácter plurinacional do Estado e o recoñecimento do dereito de autodeterminación”. Qual o posicionamento político da VG?
É o que consta no manifesto fundacional. Haverá quem se identifique com um Estado Espanhol plurinacional e haverá gente, como eu, que aspira a um Estado Galego, mas naquilo que apostamos todas é no exercício da autodeterminaçom como ponto de encontro.
"Naquilo em que apostamos todas é no exercício da autodeterminaçom como ponto de encontro"
É um tabu falar em independência na Galiza?
É claro que sim, nos meios de comunicaçom convencionais, na maior parte de partidos e sindicatos. A aposta soberanista, incluindo o caminho independentista, é minoritário e daí a importância que a VG atribui ao facto de trabalharmos socialmente.
Mas a VG nom aposta claramente pola independência.
A VG nom é umha iniciativa independentista, é em prol do direito de autodeterminaçom. Se só formos ao encontro de pessoas já convictas, o País irá ter pouco a ganhar. Ogalhá que setores nom soberanistas ou independentistas se adiram ao trabalho da VG, tudo quanto some será bem-vindo desde que seja reconhecido o direito de autodeterminaçom.
Acreditais numha reforma constitucional?
Pessoalmente nom acredito e se a houvesse, iria no sentido de recentralizar o próprio Estado com a Galiza a perder mais direitos, mas a VG nom nasce para promover debates nem reformas em termos institucionais nem para entrarmos às disputas ou aritmética partidária porque nom é esse o nosso terreno de jogo.
Qual é a estratégia da VG para atingir os objetivos ou ficaria numha simples pedagogia democraticista que nem sequer teria percurso legal?
Serám outras ferramentas políticas existentes ou que estám por construir as que definam estratégias de rutura. Por exemplo na Catalunha nom tem encaixe, mas assoma e está a combater o Estado. A funçom da VG é pedagógica, mas nom é umha questom nova, já houvo outras que nascérom com essa funçom noutros contextos como fôrom as Bases Democráticas Galegas ou a primigénia Causa Galiza.
A VG atua como foco independente de partidos e estratégias, é a política algo ilegítimo ou antes, nada tem a ver com os objetivos da VG?
A política é mais ampla do que a intervençom partidária sendo necessária esta, mas a atividade dos partidos têm os seus limites e umha conceçom mais extensa da política permitiria o incorporar de setores comprometidos com a construçom nacional. Nom se trata de marcar a intervençom partidária como ilegítima, mas sim de alargar a política para espaços aos que os partidos nom chegam.
Como participaria a Galiza no debate territorial se nom é com a presença institucional do BNG em Madrid?
Nom é necessário estar nas instituiçons para participar no debate territorial. A Catalunha com dous milhons e meio de pessoas em prol da independência, se a ERC e o PDeCAT deixam de participar no parlamento espanhol ou nas instituiçons estariam fora do debate? Acho que nom e aquilo que precisamos na Galiza é massa autodeterminista. Umha das questons que ficou clara na VG foi evitar situaçons que levárom ao fracasso doutras iniciativas, as decisons tomam-se por consenso e a VG nom chamará a participar em processos eleitorais nem fará recomendaçons.
"É necessário um período de reflexom e debate entre todas as que nos sentimos orfas e o independentismo organizado para que avance com umha reorganizaçom do movimento de libertaçom nacional"
Que dirias a quem duvida de setores que jogam à gestom autonómica reclamando um Estado plurinacional com mais autogoverno a par que negam a reformabilidade do Estado, mas apostam na sua reforma?
A pergunta é complicada, mas se tivéssemos que contar só com setores já convencidos instalados em posiçons maximalistas dificilmente avançaríamos. É bom que setores mais conservadores participem e, acima de tudo, que somemos setores hoje alheios ao projeto soberanista.
É questom de credibilidade?
Há que dar margens de confiança e pujar todas para somarmos e avançarmos como País. Desconfianças houvo sempre nas várias famílias do soberanismo e do independentismo, mas temos que repensar onde queremos chegar e se estamos dispostas a sacrificar um pouco.
A VG fala de presas políticas na Catalunha, também na Galiza?
Evidentemente. Há presas políticas na Galiza sejam independentistas, comunistas, anarquistas e também umha quantidade de presas sociais vítimas do sistema capitalista injusto, desumano e repressivo. Particularmente vaia a minha solidariedade com as presas independentistas.
Entom por que é que a VG nom fala das galegas?
Seria injusto dizer que as diferentes famílias nom som solidárias com as presas políticas. Com a difusom do tema catalám abrírom-se os olhos no Estado com a esquerda catalá a reconhecer que as presas políticas já existiam antes de os Jordis terem entrado na prisom. Pode ser um tabu? Talvez, mas na questom de solidariedade há unanimidade.
Qual é a tua perspetiva face o futuro do processo de libertaçom nacional?
Oxalá o caminho seja para a independência, mas para isso as independentistas temos de pôr maos à obra até porque nom se pode avançar com voluntarismo ou ativismo com dinâmicas sectárias ou autoproclamatórias que acumulam vícios passados dos quais ninguém está isento, incluído eu próprio, claro. Nom tenho a receita, mas sim que considero que é preciso um período de reflexom e debate entre todas as que nos sentimos orfas e o independentismo organizado para que avance com umha reorganizaçom do movimento de libertaçom nacional.