O “triplo F” que dá título a esta reflexom é umha dinâmica que se repete ao longo da história do “curto”, em palavras do historiador britânico Eric Hobsbawn, século XX. Curtoa sim, mas também crua de transitar e rememorar. Umha das principais remoras deste é o fascismo, umha ideologia em muitos sentidos alimentada por um forte afám de criar estéticas dinâmicas e atrativas com o fim de galvanizar as massas em pro de um objetivo político autoritário e absorvente que negue a diversidade e imponha umha homogeneizaçom total. O seu período de esplendor arranca fai 100 anos, em outubro de 1922. Naquele momento, um grande número de cidadáns italianos marcham, perante o assombro, o medo e a indiferença de um número ainda maior de pessoas, cara a capital, Roma. Esta protesta e demonstraçom política dará lugar à consolidaçom do regime fascista de Benito Mussolini no estado italiano, inaugurando a etapa de consolidaçom dos fascismos.
É importante salientar a importância do registo gráfico para este novo movimento político. Era preciso imortalizar a chegada ao poder desta nova vaga totalitária, que em pouco ou nada se assemelhava a sistemas prévios como o absolutismo monárquico. Este avance tinha a ver com a complacência que mostrava o fascismo perante a mobilizaçom das massas, da forma que fosse precisa. Ergo, nom é raro ver que umha das primeiras açons do regime fascista italiano fosse a emissom nas salas de cinema do país do documental A Noi (1923), que é um registo desta marcha política ao seu alcance. Só nos 20 anos que durou a ditadura de Mussolini chegárom a fazer-se três documentários ou filmes mais sobre este feito.
Já a própria propaganda do fascismo o tinha como máxima: “Il cinema è l’arma più forte”, isto é, o cinema é a arma mais forte. Realizárom-se importantes obras públicas para o fomento do “cinema nacional” como a criaçom dos estudos Cinecittà ou o Instituto Luce. Ambos serám importantíssimos centros de realizaçom cinematográfica nas décadas de ‘50 e ‘60, mas tenhem umha origem marcada polo projeto megalómano e autoritário do ditador italiano.
O cinema cria no fascismo um relato baixo o controlo do Estado, quem transmitirá umha mensagem e chegará a educar a cidadania
O cinema cria no fascismo um relato baixo o controlo do Estado, quem transmitirá umha mensagem e chegará a educar a cidadania em paradigmas como o culto à beleza do corpo normativo, as ideias tradicionais da família, as políticas e obras públicas do regime (vid. Sole, de 1929 sobre a seca do Lago Pontino; ou Vella Garda, de 1935, arredor da marcha sobre a capital já nomeada). Para este objetivo combinam-se este tipo de valores autoritários e/ou tradicionais com ideias mais na vanguarda do cinema desse tempo: as originárias do cinema soviético. Isto é, temos no cinema do fascismo umha parte de vanguarda que nom pode beber desses antagonistas no ideológico, mas que no fundo é umha ferramenta ao serviço do interesse totalitário. Um cinema que foi e segue a ser umha ferramenta básica para reafirmar certas ideologias e formas de ver o mundo, criando e consolidando visons e imagens canónicas que ocupam o imaginário mental da sociedade.