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Compreendermos o sis­tema cul­tu­ral (ou sis­te­mas cul­tu­rais) de que par­ti­ci­pa­mos é chave para en­ten­der­mos o fun­ci­o­na­mento das nos­sas so­ci­e­da­des. O campo edi­to­rial re­vela-se, en­tom, como um es­paço de es­tudo pri­vi­le­gi­ado para nos apro­xi­mar­mos dessa com­pre­en­som da or­ga­ni­za­çom co­mu­ni­tá­ria e da po­si­çom que nela ocu­pa­mos (ou do pa­pel que nela po­de­mos vir a de­sem­pe­nhar). Com base nesta pre­missa, umha equipa de tra­ba­lho ori­en­tada polo pro­fes­sor Roberto Samartim ini­ciou ainda neste ano na Universidade da Corunha (UdC) o es­tudo do fun­ci­o­na­mento do campo edi­to­rial ga­lego do pe­ríodo au­to­nó­mico (1978–2019), apro­xi­mando-se dele de jeito em­pí­rico e re­la­ci­o­nal. Para isso foi pre­ciso de­se­nhar e cons­truir, an­tes de mais, a fer­ra­menta apro­pri­ada: umha base de da­dos (BD) do li­vro ga­lego, que já deu os seus pri­mei­ros re­sul­ta­dos em forma do Trabalho Fim de Grau de­fen­dido em ju­nho pas­sado na Faculdade de Filologia da UdC. Esta BD, de­se­nhada no seio da equipa e cons­truída por Ideia. Comunica & Inova, or­ga­niza toda a in­for­ma­ção bi­bli­o­grá­fica e do­cu­men­tal de li­vros pu­bli­ca­dos em ga­lego neste pe­ríodo e per­mite aná­li­ses quan­ti­ta­ti­vas, qua­li­ta­ti­vas e re­la­ci­o­nais de di­verso tipo. Além disto, esta fer­ra­menta per­mite su­pe­rar vá­rias ca­rên­cias na in­for­ma­çom e no co­nhe­ci­mento dum es­paço do sis­tema cul­tu­ral ga­lego de­ter­mi­nante para en­ten­der­mos o fun­ci­o­na­mento da so­ci­e­dade ga­lega contemporânea.

Privatizaçom e pre­ca­rei­dade dos dados

Para o li­vro ga­lego do pe­ríodo em foco, a fonte mais fiá­vel é o ca­tá­logo do ISBN es­pa­nhol, mas o seu de­se­nho se­quen­cial im­pede o acesso a gran­des vo­lu­mes de da­dos, para além de fi­car res­trin­gido desde a sua trans­fe­rên­cia em 2010 ao Distribuidor de Información del Libro Español en Venta (DILVE) –ge­rido pela Federación de Gremios de Editores de España (FGEE) – e a pri­va­ti­za­çom da sua ges­tom em 2015. Igualmente, na mai­o­ria de fon­tes (de en­tre as quais o pró­prio ISBN, Rebiun, WorldCat, a bi­bli­o­teca da USC e a Biblioteca de Galicia) a ex­tra­çom de da­dos ro­bus­tos por lín­gua e/ou ano re­sulta im­pos­sí­vel. Na era da in­ter­net e dos da­dos em aberto, a in­for­ma­çom –em­bora sendo es­sen­ci­al­mente pú­blica– está mui dis­persa, é frag­men­tada e pouco acessível.

Destaca a re­la­tiva di­ver­si­fi­ca­çom e plu­ra­li­dade das lín­guas de par­tida nas tra­du­çons e a pre­sença cres­cente do in­glês como lín­gua de partida

Perante esta re­a­li­dade, a BD co­bre dous dé­fi­ces im­por­tan­tes: por um lado, é a pri­meira base de da­dos de li­vro ga­lego para um pe­ríodo tam abran­gente es­tru­tu­rada de forma re­la­ci­o­nal. Por ou­tro lado, é a mais com­pleta que existe atu­al­mente, por­que com­bina os ca­tá­lo­gos dis­po­ní­veis mais fiá­veis. Aliás, foi cons­truída com soft­ware li­vre e em for­mato aberto, e como tal será dis­po­ni­bi­li­zada em acesso li­vre e gra­tuito an­tes do fim deste ano 2020.

Primeiros re­sul­ta­dos

Apesar de se en­con­trar ainda em fase de re­vi­som e nor­ma­li­za­çom dos da­dos, os pri­mei­ros re­sul­ta­dos das pes­qui­sas fei­tas nesta BD per­mi­tem já ti­rar al­gumhas con­clu­sons re­le­van­tes so­bre as es­tra­té­gias das edi­to­ras que se in­cor­po­ram ao campo edi­to­rial ga­lego desde 2003. Para além de con­fir­mar con­ti­nui­da­des como a de­pen­dên­cia do se­tor da li­te­ra­tura in­fanto-ju­ve­nil e o peso da im­por­ta­çom de ma­te­ri­ais me­di­ante a tra­du­çom –em grande me­dida tam­bém de li­te­ra­tura in­fan­to­ju­ve­nil–, ou a pre­do­mi­nân­cia da nar­ra­tiva como gé­nero li­te­rá­rio e a re­le­vân­cia nos ca­tá­lo­gos des­tas edi­to­ras da li­te­ra­tura in­fan­to­ju­ve­nil, a in­ves­ti­ga­çom aponta já para al­gumha ten­dên­cia re­la­ti­va­mente no­vi­dosa nas açons das edi­to­ras que co­me­çam a pu­bli­car li­vro ga­lego no sé­culo XXI.

Destaca, neste sen­tido, a re­la­tiva di­ver­si­fi­ca­çom e plu­ra­li­dade das lín­guas de par­tida nas tra­du­çons, com re­fe­rên­cias em hún­garo, is­lan­dês, grego, ja­po­nês, árabe, ita­li­ano… e a pre­sença cres­cente do in­glês como lín­gua de par­tida em con­traste com um me­nor nú­mero de re­fe­rên­cias pro­ce­den­tes do es­pa­nhol, con­cen­tra­das aliás fun­da­men­tal­mente na li­te­ra­tura in­fan­to­ju­ve­nil. Da mesma ma­neira, a in­ves­ti­ga­çom tam­bém per­mite ve­ri­fi­car que es­tas no­vas edi­to­ras es­tám as­so­ci­a­das a umha pro­du­çom mui di­versa, mas que per­mite um certo grau de au­to­no­mia a res­peito do mer­cado ge­ral e as ins­ti­tui­çons pú­bli­cas gra­ças a es­tra­té­gias como a subs­cri­çom ou os clu­bes de fidelizaçom.

Por ou­tra parte, umha ob­ser­va­çom ini­cial das es­ta­tís­ti­cas por gé­ne­ros li­te­rá­rios re­la­ci­ona a li­te­ra­tura in­fan­to­ju­ve­nil e a nar­ra­tiva em maior me­dida com ló­gi­cas de mer­cado, ao tempo que mos­tra como o te­a­tro e o en­saio fi­cam fora das pri­o­ri­da­des das edi­to­ras exa­mi­na­das. Igualmente, es­tas pes­qui­sas ini­ci­ais con­fir­mam que o es­paço co­berto po­las au­to­ras é ainda res­trito em re­la­çom com o ocu­pado po­los es­cri­to­res. Aliás, os gé­ne­ros li­te­rá­rios com maior pre­sença de mu­lhe­res au­to­ras som aque­les tra­di­ci­o­nal­mente mais as­so­ci­a­dos à fe­mi­ni­dade: a li­te­ra­tura in­fan­to­ju­ve­nil e a po­e­sia; em nen­gum de­les, ainda as­sim, a au­to­ria fe­mi­nina é maioritária.

A apro­xi­ma­çom efe­tu­ada na BD para este tra­ba­lho aca­dé­mico per­mi­tiu le­van­tar tam­bém al­gumhas hi­pó­te­ses ou per­gun­tas para abor­da­gens fu­tu­ras, quer re­la­ti­vas ao grau de pro­fis­si­o­na­li­za­çom das edi­to­ras e ao pa­pel de­sem­pe­nhado polo as­so­ci­a­ci­o­nismo num campo edi­to­rial ga­lego mui frag­men­tado, quer ati­nen­tes às ca­rac­te­rís­ti­cas e es­tra­té­gias im­ple­men­ta­das por um con­junto nu­me­roso de edi­to­ras que acu­mu­lam um vo­lume re­la­ti­va­mente baixo de pro­du­çom, mas que pa­re­cem en­ten­der o tra­ba­lho edi­to­rial como mais ar­te­sa­nal do que in­dus­trial, ga­ran­tindo para si um mer­cado re­la­ti­va­mente restrito.

Da tec­no­lo­gia sus­ten­tá­vel e do tra­ba­lho co­la­bo­ra­tivo desde a uni­ver­si­dade pú­blica re­sulta, em qual­quer caso, o acesso li­vre a in­for­ma­çom com a qua­li­dade su­fi­ci­ente como para ge­rar co­nhe­ci­mento novo e so­ci­al­mente útil so­bre a cul­tura ga­lega atual.

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