A cooperativa Rexerando botou a andar, há tres anos, o roteiro Ferrol Rebelde. No 2018 converteu-se num documentário que recupera a história das luitas obreiras na cidade, da proclamaçom da I República até o assassinato de Moncho Reboiras.
As ruas que transitamos no dia a dia guardam historias que nom somos quem nem de imaginar. Desde 2015, a cooperativa Rexenerando percorreu a cidade de Ferrol, falando com as suas habitantes. Do seu labor nascérom vários roteiros em colaboraçom com o Concelho, entre eles Ferrol Rebelde: um percurso por cem anos de luita obreira. Da proclamaçom da I República até o assassinato de Moncho Reboiras no 1975. No 2018 este passeio transmutou em documentário, da mao de Pablo Cayuela da cooperativa Numax.
Olga Romasanta, da cooperativa Rexnerado, foi a guia dos roteiros e, também, a guia do documentário Ferrol Rebelde: “A pouco que conheces Ferrol sabes que é uma cidade com umha auto-estima mui baixa, mui maltratada pola história”. “Ferrol é umha cidade bipolar na sua morfologia”, continua, “tés o bairro do Esteiro, onde viviam os obreiros, e o da Madalena, onde estava a classe meia”. Cada cidade tem um fito na sua história, que a fam própria: a de Ferrol tem que ver com o moviment obreiro. “Foi um referente”, assinala Olga, “quando te encontras com isso como nom querer recuperá-lo?”.
Do Ferrol obreiro a ‘El Ferrol del Caudillo’
“Aos roteiros vinha gente de famílias que foram repressaliadas”, conta Olga, “mui ligadas ao movimento obreiro”. Nom obstante, estas pessoas desconheciam a história anterior ao 36, “nem os nomes das protagonistas nin os espaços subsistírom”. Houvo um exercício de apagado de memória. Entre o 36 e o 39, na comarca, há documentados mais de mil assassinatos de pessoas. “Muitos nomes do regime ‑o do próprio Franco- saem de Ferrol, há uma instauraçom dum novo relato”. Um no que a resistência nom tinha cabida.
Quais som logo, essas histórias que se tratárom de ocultar? Muitas estám vencelhadas aos estaleiros ferroláns. “Construídos no século XVIII, eram os mais grandes do norte de Espanha, com umha quantidade ingente de trabalhadores no mesmo espaço”. Os primeiros passos do documentário transitam pola I República. A República Federal foi proclamada em Ferrol 124 dias antes do que no resto do Estado.
Outra importante paragem no documentário é a revolta das pedradas, do 1918. Umha revolta protagonizada polas mulheres de Narom e da comarca, que protestárom polo alto preço dos alimentos. Um preço causado pola exportaçom aos países em que se luitou a I Guerra Mundial, e ajudado pola manipulaçom de comerciantes locais que retinham os alimentos para que o valor aumentasse. As mulheres do mercado das Xubias nom o tolerárom mais: fôrom recebidas com balas polos comerciantes. Após declarar-se o Estado de Exceçom, e após a intervençom do exército, a revolta finalizou com um saldo de nove pessoas mortas. “Na coroa da tumba duma das mulheres assassinadas escrevérom: caciques que tendes as maos manchadas de sangue, a água toda do mar nom abondará para lavá-las”, lembra Olga.
A repressom franquista
A rota passa pola praça das Angustias, onde se editava o jornal El Obrero a finais do século XIX, ou o número 138 da rua Real, onde se situava o Centro Obrero de Cultura. Ateneus e jornais tivérom umha grande importância, como vias para educar as classes trabalhadoras. A chegada do Franquismo buscou erradicar estes espaços. “No trinta e seis, na praça de Amboaxe”, explica Olga, “houvo umha queima de livros”.
A repressom contra a populaçom foi brutal. O castelo de San Felipe confinou nos seus calabouços centos de pessoas. “Sam Felipe é um lugar estremecedor”, narra Olga. “Para falar de repressom, de morte, e de desarticulaçom do movimento obreiro, os lugares som o cemitério de Canido e Sam Felipe”. A localizaçom que mostram no documentário, onde fuzilavam as condenadas a morte, está fechada ao público. “Há um trauma sem sanar”, di Olga, “nunca poder estar onde fuzilárom o teu avó…é umha fase do luto, chorar os mortos”.
Durante a ditadura, houvo dous fitos importantes de reaçom contra o regime. Um é a greve do azeite, em protesta pola sua reduçom nas cartilhas de racionamento. “Umha das poucas revoltas do momento”, explica Olga, “o monte e a resistência deixam de ser uma opçom, a luita traslada-se às factorias”. “Ali se formava a canteira bazanera”, protagonista da revolta do 72.
O dia 10 de março de 1972 marcou um antes e um depois na história ferrolá. “Lembrar o setenta e dous é muito emocionante”, afirma Olga. Os trabalhadores dos estaleiros Bazám-hoje os estaleiros de Navantia-movilizárom-se por um convénio laboral próprio. No documentário a luita é narrada desde distintas perspetivas: a de Sari Alabau, vizinha ferrolá, e a de Alfonso Tellado, ex-trabalhador da Bazám, que o lembram “com força, e mesmo com humor”, di Olga. Mais também está a perspetiva do medo en boca de Mariusca García, quem era entom umha nena. A escolha de vozes no documentário nom é casual. “Para mim foi o mais difícil”, admite Olga, “mas por fortuna, em Ferrol há muita gente que trabalha a memória desde perspetivas mui diversas”.