“Todo paisagista que nom sabe traduzir um sentimento mediante um conjunto da matéria vegetal ou mineral nom é um artista”
Charles Baudelaire, Salons e outros escritos sobre a Arte.
A paisagem existe?
A paisagem nom é natureza. A paisagem nom é território. A paisagem nom existe.
A paisagem é a resultante da relaçom dinâmica entre os seres humanos e o território. Como construçom cultural, a paisagem é umha interpretaçom coletiva que soma as distintas percepçons individuais para obter umha representaçom do mundo através duns códigos comuns.
Os códigos vam-se acumulando num registo comunitário em que imagens, sensaçons ou sentimentos prefixados explicam realidades complexas. Isto permite-nos como indivíduos contextualizar a percepçom para poder entender o incompleto. Cada tempo e espaço maneja os seus próprios códigos de interpretaçom mas estes nom som inocentes, existindo frequentemente disfunçons entre a realidade e o modelo figurado, entre a materialidade do conjunto do terreno e os valores materiais e inmateriais reais ou figurados que o acompanhar.
Sem o ser humano nom existiria a paisagem mas a paisagem também reduz a nossa capacidade de interpretaçom da realidade dado que a nossa percepçom fundamenta-se nas representaçons preestabelecidas que nos ajudem a entender o incompleto. A questom é que estas representaçons nom sempre som orgánicas, nem chegam a nós de modo inocente.
A paisagem produz-se?
A paisagem nom é a natureza. A paisagem nom é o território. A paisagem produz-se.
Do mesmo modo que o espaço pode produzir-se, a paisagem constrói-se: 1) de modo material como registo das atividades humanas sobre a base fisiográfica; 2) de modo inmaterial como representaçom simbólica e estética do território; 3) de modo político como sujeito de representaçom das luitas de poder.
A realidade da Galiza atual deriva socialmente numha concepçom dupla e nom funcional na paisagem: por um lado a construçom cultural e, polo outro, um território colapsado e definido pola desvalorizaçom
Estas relaçons, chamemos-lhe de produçom, entre o ser humano e a paisagem estám numha contínua construçom e reconstruçom que se manifesta através de diversos planos, do normativo (Lei de Proteçom da Paisagem da Galiza, por exemplo) até o artístico, passando polo benchmarking territorial ou pola paisagem como marca comercial.
Centrando-nos na parte artística, do mesmo modo do que a cartografia ajuda a construir umha ideia do território, as diversas expressons artísticas vam creando a noçom da paisagem. O processo de creaçom artística consome e produz paisagem, às vezes com o risco de cair no esteticismo se o tratamento da paisagem for um fim em si próprio e se fundamentar na reproduçom de estereótipos que afundam no tópico paisagístico antropocêntrico. Mas também pode contribuir à geraçom de novos paradigmas de representaçom mediante novas interpretaçons que geram novos códigos de aproximaçom à realidade, novas ficçons de paisagem.
A paisagem no cinema galego como meta-representaçom
A paisagem nom existe. A paisagem produz-se. A paisagem no cinema é ficçom de ficçons.
Temos exemplos de diversas miradas no cinema galego onde a paisagem atua como: distancia em Costa da Morte (Lois Patiño, 2013); desapariçom em Trinta lumes (Diana Toucedo, 2017); non lugar em N‑VI (Pela del Álamo, 2012); sujeito em O que arde (Oliver Laxe, 2019); devir em Estrela errante (Alberto Gracia, 2013); ou memoria em Longa noite (Eloi Enciso, 2019)
A nossa marcada concepçom histórica da paisagem como guarda de essências gera o risco de representaçom como experiência estética. No cinema galego recente, a paisagem é múltipla quanto às representaçons, mas finalista no tocante à intepretaçom ao ser o resultado de processos estruturais mais amplos que desbordam os contextos dos filmes. A realidade da Galiza atual deriva socialmente numha concepçom dupla e nom funcional na paisagem: 1) por um lado a construçom cultural e 2) polo outro, um território colapsado e definido pola desvalorizaçom, a crise da identidade rural frente a urbana e a perda da significaçom do espaço. A medida que os autores coloquem o foco na segunda e os espetadores e espetadoras fujamos da primeira, o cinema galego terá um papel relevante numha construçom social crítica.