
Aroa Outón (Barro, 1997) é umha artista que pinta “como se fazia há cem anos”: na sua casa, no rural e sem tecnologia. Os seus quadros, cheios de vida e de cor, reflectem, sobretudo, mulheres e o seu entorno. Quando é perguntada polo que fai, responde sem lhe dar importância que “a gente di que é pintora”, mas é indubitável que o é. Para ela, o feminismo e o apreço polo “nosso” som dous âmbitos muito importantes da arte.
Pintas sobretudo retratos de mulheres.
Sim. Mulheres e cousas relacionadas com o rural e com o meu entorno. Acho que quem és condiciona o que fazes. No meu caso, a minha pintura. Na minha morada só há mulheres –a minha avó, a minha mãe e mais eu– e isso também fai com que queira captar os traços femininos, a feminilidade e o feminismo. E tudo isso enlaçado com o rural. Penso que fai muita falta.
E mulheres idosas, nom é?
Sim. Ultimamente estivem a refletir muito sobre isso e penso que, de algumha maneira, som a pintora das velhas (ri). Levo já um tempo recebendo encomendas de gente que quer retratar as suas avós e acho que é porque, ainda que hoje temos telemóveis e podemos tirar fotos facilmente, impulsei o carinho de pintar as nossas idosas através dos retratos que figem da minha avó. Penso que é umha etapa que há que pôr em valor. As idosas som tudo o que somos nós e fôrom as precursoras de muitas cousas: do feminismo, de movimentos sociais, lutas… e parece que custa pensar nelas.
Como estám as mulheres na arte?
As últimas creio que já nom somos, mas também nom estamos nos primeiros postos da corrida. Porém isto depende também um pouco do contexto em que nasças. No meu caso, eu tivem muita sorte de nascer num ambiente em que se me promovêrom valores feministas desde que era umha criança, mas
a minha situaçom nom é igual à de muitas outras mulheres. Aliás, eu pinto como pintavam há séculos: na minha casa, na aldeia, e já está. Pinto quadros, nada mais; mas há outras pessoas que querem levar umha carreira mais grande, com mais impulso, e sendo mulher ainda lhes custa. Continua havendo muitos problemas, porque os homens sempre fôrom considerados génios e as mulheres parece que começamos a pintar com Frida Kahlo. E nom: há muitas pintoras que estamos começando a reivindicar agora.
Mantemos a ideia de que da arte nom se pode viver?
Sim, a mim dizem-mo sempre. É difícil, mas acho que os sonhos há que segui-los. Ora, tens de ter muita força de vontade e a cabeça preparada para te nom deixar contaminar. Também nom vou romantizar a pobreza dos artistas porque é dura, mas creio que tens de lutar polo que te fai feliz, sem pensar somente no dinheiro.
Algumha cousa a acrescentar?
Som umha pintora muito reflexiva e nestes meses tivem um pouco de crise criativa. Isto serviu-me para pensar e afiançar a minha ideia da figura da pintora no entorno rural e também para reivindicar as pessoas que fazem arte desde aqui. Temos que valorizar o nosso e deixar um pouco de lado esas ambiçons tam grandes de querer abarcar tudo e esquecer o que temos cerca. Eu adoro que se me relacione com a minha terra, com a minha avó e a minha malta. Sinto-me muito confortável neste ambiente que fala galego, reconhece a simbologia daqui e dá importância ao que somos.