Com 270 metros de comprimento e vinte arcos, a Ponte Nafonso, entre Noia e Outes, é umha das pontes medievais mais senlheiras da nossa Terra; parte dum vasto sistema de comunicaçons intercomarcais que, de Ortegal ao Minho, vertebrárom umha Galiza marítima debruçada para as rias, chamou a atençom de eruditos como Lucas Labrada ou viageiros como George Borrow. Com a sua feiçom histórica recentemente deformada por umha restauraçom precipitada e tosca, um novo movimento popular pede responsabilidades e exige umha reabilitaçom fiel à essência deste monumento situado sobre o Tambre. Falamos com Ricardo Suárez, vozeiro do grupo municipal do BNG em Noia, para conhecermos de primeira mam a luita pola Ponte Nafonso.
Para começar, podias-nos dizer que significa a Ponte Nafonso para a vizinhança da vossa comarca?
É obviamente um símbolo, mas vai mui além disso. Trata-se dumha construçom do século XIV que possibilitou a uniom histórica, em primeiro lugar, de Noia e Outes; mas, se tomarmos umha perspectiva mais ampla, veremos que foi um nodo de comunicaçom importantíssimo que vertebra toda a área fisterrá com Muros-Noia. Sem esta ponte, estes dous pontos da nossa Terra nom estariam conectados, nem teriam um vínculo cultural e comercial tam intenso. Portanto, podemos dizer que é um dos muitos elementos de uniom intercomarcal que tivo o país desde tempos mui recuados.
Neste ano, a Junta acomete a sua reabilitaçom e, para fazê-lo, di que esta obra era umha necessidade justificada polo estado do monumento. Que opinades vós?
Neste aspecto em concreto nom há divergência; o BNG pediu a intervençom há anos e mesmo eu, como portavoz em Noia, levei esta questom ao pleno: a estrutura tinha deficiências, os corrimans estavam danados… certo, mas cumpria umha restauraçom que desse protagonismo aos elementos tradicionais e nom deturpasse a forma. E isto é o que estava recolhido no projeto inicial.
“A Ponte Nafonso é um dos muitos elementos de uniom intercomarcal que tivo o país desde tempos mui recuados”
Podes-nos detalhar em que consistia?
De partida, o projeto desenhado nom ia alterar a quota do firme, ia pôr corrimans metálicos, e as canalizaçons de telefonia e luzes (introduzidas na ponte há décadas, quando nom existia um controlo tam estrito do património) iam-se situar mais por baixo, para nom incidir na estrutura. Ora, por razons que desconhecemos, e de que nom fomos informadas, isto modifica-se: eleva-se o firme, os talhamares ficam a outro nível, semi-ocultos, e a feiçom histórica deforma-se.
E qual é a justificaçom para tal cousa?
Di-se-nos que os peitoris de pedra eram um elemento central no passado, o qual é certo, mas os que ponhem som muito mais pesados, alteram o conjunto; e com o pretexto de quererem respeitar as leis de acessibilidade, tapam os talhamares.
“Por razons que desconhecemos o projetoinicial modifica-se: eleva-se o firme, os talhamares ficam a outro nível, semi-ocultos, e a feiçom histórica deforma-se”
A que pensades que se devem atuaçons como esta?
Sem dúvida, à ánsia de fazer, anteponhendo o ‘quê’ ao ‘como’. Mas o central na conservaçom do património é estudar as alternativas mais respeitosas e fazê-lo com tino. Nom ponho em causa que existisse boa intençom, mas no que se apostou é na soluçom mais rápida e mais cómoda, com consequências desastrosas. De feito, a reaçom social ao ver o resultado foi unánime.
Como valorades a resposta popular?
Mui positivamente. Quando soubemos do estrago, convocamos umha primeira concentraçom que foi mui respaldada; o apoio a umha restauraçom sensata é grande e pouco depois desse ato nasceu a plataforma ‘Salvemos Ponte Nafonso’, que acumulou umha série de documentaçom histórica e juízos razoados a prol de outra restauraçom. No seu manifesto, de passado junho, pedem-se soluçons e exige-se também a depuraçom de responsabilidades. A coincidência é tam grande na cidadania que até mesmo o alcalde de Noia, do PP, foge do tema e di todo ser responsabilidade dos técnicos de Património.
“Quando soubemos do estrago, convocamos umha primeira concentraçom que foi mui respaldada; o apoio a umha restauraçom sensata é grande e pouco depois desse ato nasceu a plataforma ‘Salvemos Ponte Nafonso’, que acumulou umha série de documentaçom histórica e juízos razoados a prol de outra restauraçom”
Como estám a acompanhar o processo os meios de comunicaçom?
Em geral bem, mas eu acho que se podem fazer precisons. A nível nacional eu julgo o tratamento escasso, quando realmente trata disso, dum tema nacional que atinge ao património de todas. Quando a deputada do BNG Rosana Pérez fijo umha interpelaçom e chamou a declarar a Diretora Geral de Património sobre este caso, o tratamento foi limitado; quanto à TVG, o silenciamento é a tónica, já sabemos como funciona este meio público, que tenta fazer como quem que a plataforma ou a oposiçom política nom existem.
Porém, o jornalismo comarcal tem feito trabalhos interessantes e mui profissionais, expondo a cronologia dos feitos e dando opinions diversas. Quanto aos meios que podemos chamar alternativos, caso de Praza.gal, HistoriadeGalicia.gal, Galiza Livre, agora Novas da Galiza, o seu interesse é manifesto e dérom-nos sempre espaço.
Continua esta batalha ou está todo perdido?
Continua! Nom podemos ceder. Quer no parlamento, quer no âmbito municipal, quer nas ruas, nom desistimos. Pedimos a documentaçom das mudanças introduzidas no plano inicial, pois entendemos que umha deputada tem que ter livre acesso a todo registo de mudanças e autorizaçons. Apesar de nom estarmos ante um ‘Bem de Interesse Cultural’, sim estamos ante um bem de proteçom integral, e a lei di que tais bens nom podem ver variar de forma relevante a morfologia e elementos que lhe som característicos. Nom descartamos tampouco, se todos os outros caminhos se bloquearem, recorrer à justiça: pois estaríamos ante umha atuaçom que é contrária à Lei do Património Cultural da Galiza, amparada na opacidade documental.